Só sete países respeitam a norma internacional de qualidade do ar

por Carla Quirino - RTP
Poluição em Milão, Itália, em fevereiro de 2024 Daniele Mascolo - Reuters

O sexto Relatório Anual Mundial sobre a Qualidade do Ar - 2023 IQAir - revela que dos 134 países estudados apenas sete cumprem os padrões de qualidade do ar estabelecido pela OMS.

Austrália, Estónia, Finlândia, Granada, Islândia, Ilhas Maurícias e Nova Zelândia são os países que não ultrapassaram os níveis das PM2,5, as pequenas partículas expelidas pelos veículos e pela indústria que podem causar problemas de saúde.

Os restantes 127 Estados investigados para o relatório não cumprem a norma internacional de qualidade do ar, estabelecida nas diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS).

“Em 2023, a poluição atmosférica continuou a ser uma catástrofe de saúde global. O conjunto de dados globais da IQAir fornece um lembrete importante das injustiças resultantes e da necessidade de implementar as muitas soluções que existem para este problema”, sublinhou Glory Dolphin Hammes, presidente executivo da IQAir na América do Norte.

A poluição atmosférica tem aumentado, no geral, devido à recuperação da atividade económica e ao impacto tóxico do fumo dos incêndios florestais, concluiu a análise.

A qualidade do ar também se está a deteriorar, nomeadamente, nas cidades, devido a um tipo de partícula microscópica de fuligem - as PM2,5 - que, quando inalada, pode causar um abrangente conjunto de problemas de saúde, chegando mesmo a matar.

Para o relatório da IQAir , uma organização suíça que monitoriza a qualidade do ar, contribuíram dados recolhidos de mais de 30 mil estações em todo o mundo, em 7.812 locais.
Os mais poluídos

Os cinco países mais poluídos em 2023 foram o Bangladesh (79,9 µg/m 3 ) - mais de 15 vezes superior à diretriz anual PM2,5 da OMS. Logo atrás segue o Paquistão, com mais de 14 vezes superior, Índia (54,4 µg/m 3 ), com mais de dez vezes, Tajiquistão e Burkina Faso (46,6 µg/m 3), com mais de nove vezes superior à diretriz anual PM2,5 da OMS.

A Índia abriga as quatro cidades mais poluídas do mundo, onde Begusarai é a área urbana com pior qualidade do ar globalmente.

Pela primeira vez, o Canadá, há muito considerado como tendo um dos ar mais limpos do mundo ocidental, viu a qualidade do ar deteriorar-se em 2023 por causa dos incêndios florestais que assolaram o país.

A China, que revelou algumas melhorias nos anos de pandemia da covid-19, voltou a aumentar de 6,5 por cento nos níveis de PM2,5, com a recuperação da atividade económica a contribuir para a má qualidade do ar.

A OMS apertou o cinto na escala que considera de níveis “seguros” de PM2,5 em 2021 para cinco microgramas por metro cúbico. Com esta redução muitos países, como os europeus, ficaram longe da boa qualificação, embora mantenham a tendência para melhorar o ar, nos últimos 20 anos.

“Infelizmente as coisas retrocederam”, vincou Hammes. “A ciência é bastante clara sobre os impactos da poluição atmosférica e, no entanto, estamos tão habituados a ter um nível de poluição de fundo demasiado elevado para ser saudável”.

E deixa um alerta: “Não estamos a fazer os ajustes suficientemente rápido”.

Aidan Farrow, cientista de Qualidade do Ar da Greenpeace Internacional, junta-se à voz da IQAir: "É urgentemente necessário um esforço local, nacional e internacional para monitorizar a qualidade do ar em locais com poucos recursos, gerir as causas da neblina transfronteiriça e reduzir a nossa dependência da combustão como fonte de energia”.

A poluição atmosférica mata cerca de sete milhões de pessoas por ano em todo o mundo – mais do que a SIDA e a malária juntas.
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