Situação humanitária compromete acesso à saúde sexual em Moçambique
O Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP) alertou hoje que a situação humanitária no norte de Moçambique, devido ao terrorismo, compromete o acesso dos adolescentes e jovens à informação e serviços de saúde sexual, pedindo esforços.
"A transição dos jovens para uma vida adulta ativa e saudável é crucial. É crucial por quê? Para a realização do dividendo demográfico e também para o crescimento e desenvolvimento do país. Contudo, este dividendo só será alcançado se esses jovens tiverem acesso a serviços de saúde e educação de qualidade", disse Valter Filho, representante adjunto do FNUAP.
O responsável, que falava, em Maputo, durante a Reunião Nacional do Programa Geração Biz, que culminará com o lançamento do Projeto de Saúde Sexual e Reprodutiva e Dividendo Demográfico em África (A2DSRH), lembrou estudos que indicam que 34% da população moçambicana é composta por jovens entre os 15 e os 35 anos: "então, esses números mostram-nos que a juventude deve continuar a ser uma grande prioridade e merecer uma atenção especial".
"Gostaríamos de destacar avanços no acesso ao planeamento familiar, na prevenção do Vírus da Imunodeficiência Humana, na promoção da igualdade de género e na resposta coordenada à violência baseada no género, incluindo práticas nocivas como as uniões prematuras", assinalou ainda.
A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, rica em gás, é alvo de ataques extremistas há oito anos, com o primeiro ataque registado em 05 de outubro de 2017, no distrito de Mocímboa da Praia.
Apesar dos avanços, Valter Filho alertou para a persistência de desafios no acesso aos serviços básicos para aquela camada social, apontando que a situação humanitária no país, especialmente no norte, assolada por ataques terroristas há oito anos, "compromete o acesso dos adolescentes e jovens à informação e aos serviços de saúde sexual e reprodutiva".
"Além disso, a violência baseada no género continua a afetar gravemente muitas raparigas", disse, destacando a necessidade de união de esforços para o reforço do "compromisso coletivo" para garantir a proteção dos direitos dos adolescentes e jovens em Moçambique.
"Da nossa parte, como Nações Unidas, reiteramos o compromisso em continuar a apoiar o Governo, fortalecendo os esforços conjuntos em prol da saúde e do bem-estar de todos os adolescentes e jovens que vivem em Moçambique", concluiu o representante.
Desde finais de setembro, dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM) estimam que quase 93 mil pessoas fugiram de Cabo Delgado e de Nampula devido ao recrudescimento dos ataques terroristas, duplicando o número de deslocados em poucos dias.
O Projeto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED) contabiliza 6.257 mortos ao fim de oito anos de ataques em Cabo Delgado, alertando para a instabilidade atual.