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Sistema imunitário. Descobertas células que podem ser nova fonte de antibióticos

por Carla Quirino - RTP
Bactérias Staphylococcus. Uma saudável à esquerda e uma ser destruída à medida que sua camada externa é rasgada por químicos antimicrobianos produzidos pela proteassoma Instituto Weizmann de Ciência

Uma equipa de cientistas em Israel encontrou no corpo humano um novo mecanismo de imunidade que permite ter uma defesa eficaz contra a infeção bacteriana. Acontece numa área onde se reciclam proteínas de forma inovadora. Aqui, os investigadores observaram como essas células conseguem expelir inúmeros produtos químicos que matam bactérias. Alegam mesmo que esta descoberta abre caminho a novas receitas de antibióticos para enfrentar superbactérias.

O corpo humano continua a ser uma caixa de surpresas. No caso desta investigação acabou por revelar uma fonte inexplorada de antibióticos naturais.

Descobrimos um novo mecanismo de imunidade que nos permite ter uma defesa contra a infeção bacteriana” afirmou Yifat Merbl, do Instituto Weizmann de Ciência, citada na BBC.

“Está a acontecer por todo o nosso corpo, em todas as células, e gera uma nova classe de potenciais antibióticos naturais”, acrescenta .“Isto é realmente emocionante, porque nunca soubemos que estava a acontecer”, exalta Merbl, investigadora que liderou o estudo.
Proteassoma que impulssiona luta contra bactérias
Esta descoberta centra-se na estrutura celular da proteassoma que deteta quando uma dessas células é infetada por bactérias.

A proteassoma é constituída por um conjunto de protéases que participam no processo de degradação seletiva de proteínas intracelulares.Ou seja, as protéases são enzimas que provocam o desdobramento das proteínas em aminoácido, ao quebrarem as ligações peptídicas entre esses elementos químicos.

"Os peptídeos antimicrobianos, ou ligações peptídicas, servem como primeira linha de defesa contra invasores patógenos antes que o sistema imunológico adaptável responda. Embora a função protetora dos peptídeos antimicrobianos em numerosos tecidos esteja bem estabelecida, os mecanismos celulares subjacentes à sua geração não são totalmente compreendidos", explica o estudo.

Desta forma, a descoberta feita nesta investigação assenta no que se segue quando as proteínas antigas são cortadas em pedaços menores para que possam ser reciclados para fazer novos. Aqui, a proteassoma, ao detetar bactérias inimigas, altera a cadeia natural da estrutura e foca-se em transformar proteínas antigas em armas que podem romper a camada externa dos intrusos e matá-los.

Esta observação do comportamento antibacteriano nato existente no corpo humano permite abrir portas para um novo caminho na busca de antibióticos naturais.

Esses químicos lançados nas bactérias foram testados em ratos de laboratório com pneumonia e sépsis (infeção generalizada).

A equipa de investigação reporta que os resultados obtidos são comparáveis a alguns antibióticos existentes atualmente.

Porém, quando os cientistas desativaram o procedimento do proteassoma, as células passaram a estarem mais vulneráveis tornando-as alvos fáceis de infetar com bactérias como a Salmonella.

Daniel Davis, chefe de Ciências da Vida e Imunologista do Imperial College London, reconhece que as descobertas são “extremamente provocativas e muito interessantes” à medida que mudam nossa compreensão de como nosso corpo combate a infeção.

“O que é realmente emocionante é que é um processo totalmente desconhecido pelo qual as moléculas antigermes são feitas dentro das nossas células, parece profundamente importante e surpreendente”, sublinha Davis.
Antibióticos. Pistas para novas  de fórmula de compostos químicos
A continuação destas investigações em torno destes químicos produzidos naturalmente nas células humanas e ativadas no procedimento do proteassoma podem ampliar as descobertas para novas receitas de compostos químicos para combater bactérias.

Embora Daniel Davis corrobore a ideia de transformar as pistas numa nova fonte para antibióticos, deixa claro que “ainda precisam de ser testadas”, o que levará tempo.Estima-se que mais de um milhão de pessoas por ano morram de infeções resistentes a medicamentos como antibióticos.

Para Lindsey Edwards, professora de Microbiologia no King's College de Londres, esta descoberta "é uma potencial mina de ouro para novos antibióticos e isso é bastante emocionante”.

“Nos últimos anos, os cientistas têm revirado o mundo para encontrar novas fómulas para antibióticos e, afinal, existe algo que temos dentro de nós. Agora tudo depende se temos a tecnologia para ser capaz de detetar essas coisas”.

Edwards pensa que esses químicos naturais produzidos no corpo humano deverão permitir produzir medicação que trará menos complicação aos doentes porque “já são produtos do corpo humano”, assim o “lado de segurança pode ser muito mais fácil”.
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