Depois de a embaixadora norte-americana na NATO ter instado Moscovo a suspender o desenvolvimento de um novo sistema de mísseis terra-ar capaz de atingir qualquer objetivo europeu, agitando a ameaça de “contramedidas” para o destruir, o Ministério russo dos Negócios Estrangeiros acendeu um sinal amarelo. A Rússia lembra “o perigo da retórica agressiva”.
À falta de sinais claros de um travão ao projeto russo, ameaçou a representante norte-americana, os Estados Unidos poderão empregar a força para destruir o sistema.
“Nessa altura, olharíamos para a capacidade de derrubar mísseis que poderiam atingir um dos nossos países. Seriam adotadas contramedidas para destruir os mísseis em desenvolvimento na Rússia, em violação do tratado. Eles estão avisados”, clamou Hutchison.
Mais tarde, a embaixadora recorreu ao Twitter para emendar a mão, afiançando que não se referiu a um ataque dito preventivo.
“O meu ponto: a Rússia precisa de regressar ao respeito pelo Tratado INF ou teremos de igualar as suas capacidades para proteger os interesses da NATO e dos Estados Unidos. A atual situação, com a Rússia em flagrante violação, é insustentável”, escreveu.
I was not talking about preemptively striking Russia. My point: 🇷🇺 needs to return to INF Treaty compliance or we will need to match its capabilities to protect US & NATO interests. The current situation, with 🇷🇺 in blatant violation, is untenable. https://t.co/dRaFoK8xlo
— Ambassador Hutchison (@USAmbNATO) 2 de outubro de 2018
Também o Departamento de Estado norte-americano sentiu necessidade de explicar o alcance das palavras da embaixadora na NATO.
“A embaixadora Hutchison estava a falar de melhorar a postura de defesa e dissuasão. Os Estados Unidos estão empenhados nas suas obrigações de controlo de armamento e espera que a Rússia faça exatamente o mesmo”, vincou a porta-voz Heather Nauert.
“Retórica agressiva”
Numa primeira reação às declarações de Kay Bailey Hutchison, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia alertou para o que descreveu como “o perigo da retórica agressiva”.
“Parece que as pessoas que fazem tais comentários não percebem o nível da sua responsabilidade e o perigo da retórica agressiva”, redarguiu a porta-voz do Ministério russo, Maria Zakharova, citada pela agência Tass.
As acusações de Washington não são inéditas. Um relatório prévio a este reacender do diferendo no seio da NATO, com a chancela do Departamento de Estado norte-americano, havia já concluído que a Rússia estava a violar a letra do Tratado INF, que impede o país de “possuir, produzir ou testar” mísseis com um alcance de 500 a 5500 quilómetros, tão-pouco “lançadores para tais mísseis”.
“Estamos a tentar há vários anos enviar uma mensagem à Rússia, de que sabemos que estão a violar o tratado. Mostrámos provas à Rússia de que estão a violar o tratado”, asseverava na terça-feira a embaixadora dos Estados Unidos na Aliança Atlântica.
Por sua vez, o secretário norte-americano da Defesa já prometeu abordar este dossier com os aliados da NATO durante a reunião de dois dias que começa esta quarta-feira em Bruxelas.
“Não posso prever onde irá dar, é uma decisão para o Presidente, mas posso dizer que tanto no Capitólio como no Departamento de Estado há muita preocupação com esta situação e que regressaremos com os conselhos dos nossos aliados e faremos essa discussão para determinar o caminho a seguir”, perspetivou Jim Mattis em Paris.
Moscovo tem repetido que está disponível para conversações com a Administração norte-americana tendo em vista conservar o INF.
c/ Reuters