Dezenas de sírios entraram hoje na residência do Presidente Bashar al-Assad depois de esta ter sido saqueada num bairro nobre da capital Damasco, tomado pelos rebeldes, enquanto as reações internacionais, maioritariamente ocidentais, saúdam o fim do regime.
Segundo reporta a agência noticiosa France-Presse (AFP), homens, mulheres e crianças percorreram o prédio de seis andares, onde os documentos estavam espalhados pelas escadas. Uma pintura representando al-Assad estava no chão, na entrada térrea, cercada por um vasto jardim.
Entre as reações internacionais ocidentais, todas favoráveis à queda do regime de al-Assad, no poder há quase 14 anos, figuram a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), Itália, Grécia e Espanha, mas também países do Médio Oriente, como Iraque e Qatar, com o Irão a insistir na ideia de que a embaixada em Damasco foi pilhada depois de os diplomatas terem fugido da missão.
Em Bruxelas, a NATO indicou estar a acompanhar "de perto" a evolução dos acontecimentos na Síria, depois de o regime da família al-Assad, que governa o país árabe desde 1971 (primeiro com Hafez al-Assad), ruiu este domingo às mãos dos insurgentes, na sua maioria islamistas, liderados pela Organização de Libertação do Levante (Hayat Tahrir al Sham ou HTS, em árabe), que tomaram Damasco com pouca resistência após apenas 12 dias de ofensiva.
Al-Assad terá fugiu do país num avião "especial", segundo a organizações não-governamental Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH) e o seu paradeiro é desconhecido, enquanto o Comando de Operações Militares da coligação de grupos islâmicos e pró-turcos responsáveis pela queda proclamou Damasco "livre do tirano Bashar al-Assad".
Em Itália, segundo reportou a agência noticiosa local ANSA, o chefe da diplomacia italiano, Antonio Tajani, convocou hoje uma nova reunião da Unidade de Crise do Ministério dos Negócios Estrangeiros sobre a Síria para elaborar uma reação imediata ao debrrube do regime de al-Assad por milícias islâmicas pró-turcas, de modo a proteger os italianos no país.
"A entrada de milicianos em Damasco e a dissolução do regime de Bashar al-Assad implicam a necessidade de uma reação imediata, em primeiro lugar para a proteção dos italianos que ainda estão no país", afirmou Tajani.
Em Madrid, o ministro dos Negócios Estrangeiros, União Europeia e Cooperação, José Manuel Albares, garantiu que Espanha apoiará qualquer solução na Síria após a queda do regime de al-Assad que "seja pacífica" e "que a integridade territorial" do país seja mantida.
Em declarações à TVE, Albares manifestou o desejo do Governo espanhol de que não haja "uma espécie de [...] balcanização de diferentes regiões da Síria nas mãos de diferentes grupos".
"Temos que tomar medidas para que seja o povo sírio quem decida quem e como quer ser governado no futuro", disse Albares.
Na Grécia, onde se aguarda uma posição oficial do governo grego, a bandeira da oposição síria foi desfraldada na embaixada síria em Atenas, horas depois de os rebeldes islâmicos do HTS declararem que haviam capturado Damasco.
A agência de notícias ANA disse que pelo menos três homens entraram na embaixada e desfraldaram a bandeira, que estava pendurada no telhado do edifício, tendo a polícia detido, posteriormente, todos os envolvidos.
A Grécia abriga dezenas de milhares de sírios que fugiram para o país durante a crise migratória de 2015, a maioria com o objetivo de chegar à Alemanha e a outros Estados-Membros da UE. De acordo com o Ministério da Imigração, mais de 15 mil sírios possuem atualmente autorização de residência na Grécia.
Nader Halbouni, líder da comunidade síria na Grécia, indicou que está previsto para hoje à tarde uma manifestação de júbilo pelo fim do regime de al-Assad.
Em Doha, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Qatar, Majed al-Ansari, afirmou que vários ministros árabes do Médio Oriente estão comprometidos em ser "inclusivos" e "envolvidos em todas as partes" no processo político na Síria.
Al-Ansari, que falava com os jornalistas à margem do Fórum de Doha, afirmou que os países da região devem ter "todo o cuidado possível" e que estão "envolvidos com todas as partes para serem inclusivos" no processo político na Síria.
"Sempre dissemos que o regime (de al-Assad) perdeu todas as oportunidades e espaços possíveis para falar, para dialogar, para reconsiderar com o povo e para o compromisso com a região... e isto é um simples resultado desse comportamento do governo", disse o porta-voz.
Por outro lado, o pessoal da embaixada iraquiana na Síria foi hoje retirado por estrada para o Líbano, segundo o um funcionário do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraquiano.