Síria. Tensão entre Turquia e Rússia leva a nova vaga de migrantes
Rumores de que Ancara tinha levantado os bloqueios fronteiriços com a União Europeia, e que os seus funcionários tinham ordens para deixar passar quem quisesse, levaram esta sexta-feira centenas de pessoas a pegar nos seus bens e a dirigirem-se à zona fronteiriça, a pé ou de carro
"Ouvimos
falar disso na televisão", disse um afegão de 16 anos, Sahin Nebizade, à agência Reuters, apertado num táxi apinhado de migrantes. A maioria
preferiu seguir caminho a pé, muitos com crianças ao colo.
"Queremos que os governos turco e grego abram este portão", reagiu Hamid Muhammed, com uma menina ao colo.
O primeiro-ministro grego já disse que não serão autorizadas entradas ilegais.
O ataque por parte das forças de Damasco visou impedir um bombardeamento "iminente" por parte deste grupos armados, alegaram fontes militares russas.
Três fragatas russas
Ancara, que tem apoiado os grupos armados
sunitas que tentam derrubar há nove anos o Governo sírio xiita de Bashar
al-Assad, e que pretende controlar a população curda-síria daquela
área, colocou um forte contingente em Idlib em 2019, após um acordo com
Moscovo, com vista à pacificação da região com fins humanitários.
As tropas sírias, apoiadas pela aviação russa, lançaram entretanto uma ofensiva militar que permitiu a Damasco recuperar grande parte do território de Idlib, e que levou milhares de pessoas a procurarem refúgio, muitas vezes em território turco.
"Em todos os meus contactos com os envolvidos, transmiti uma simples mensagem: afastem-se de um agravamento", afirmou o secretário-geral aos repórteres, em Nova Iorque.
O Conselho de Segurança da ONU anunciou uma reunião de emergência para tentar evitar um conflito declarado entre a Rússia e a Turquia.
A Reuters diz ter sido informada da medida por um alto funcionário turco, sob anonimato. A
Grécia e a Bulgária reforçaram os postos fronteiriços depois da
informação começar a circular. “A comunidade internacional deve tomar medidas para proteger civis e
estabelecer uma zona de exclusão aérea na região de Idlib”, referiu o
diretor de comunicação da Presidência turca, Fahrettin Altun, citado
pela Al Jazeera.
Em Pazarkule, à entrada para Grécia, os
migrantes enfrentaram rolos de arame farpado e granadas de fumo. Os que
tentaram regressar a solo turco foram impedidos. Centenas de pessoas viram-se encurraladas numa terra de ninguém.
"Queremos que os governos turco e grego abram este portão", reagiu Hamid Muhammed, com uma menina ao colo.
O primeiro-ministro grego já disse que não serão autorizadas entradas ilegais.
O primeiro-ministro da Bulgária lembrou que, num cenário de ameaça do
novo coronavírus, uma nova crise migrante é ainda mais grave do que
anteriormente.
A opinião de Jozé Milhazes, à Antena 1, sobre a ameaça da maior vaga migrante "de sempre" na Europa
Tanto a União Europeia como as Nações Unidas
sublinharam, em comunicados separados, que Ancara ainda não lhes comunicou oficialmente qualquer abertura de fronteiras.
Esta significaria a anulação de acordo firmado com a União Europeia, em 2016, sob o qual Ancara se
obrigou a suster, no seu território, pessoas de todo o Médio
Oriente que pretendem entrar em solo europeu.
Em comunicado desta sexta-feira, o diretor de comunicações do Presidente turco Recep
Tayyip Erdogan garantiu que o Governo de Ancara “decidiu responder ao
regime ilegítimo da Síria, da mesma forma que esta tem prejudicado os
soldados turcos”.
"A culpa foi vossa". Rússia e Turquia trocam acusações
A ameaça de anular o acordo tem servido ao Governo turco para obrigar os poderes europeus a apoiar as suas pretensões na Síria, e voltou a ser usada depois de um ataque sírio na região de Idlib, no noroeste da Síria, ter levado à morte de três dezenas de soldados turcos.
As novas baixas, sofridas pela Turquia quinta-feira, voltaram a azedar as relações entre a Rússia e a Turquia, apesar de Moscovo ter garantido a Ancara que não participou no bombardeamento.
O exército russo responsabilizou ainda o comando das forças turcas na região, por ter colocado tropas onde não devia, junto a "grupos terroristas" na área de Behun.
"De acordo com as coordenadas proporcionadas pelo lado turco ao Centro russo de Reconciliação", "não deveria haver unidades das forças armadas turcas na área de Behun", sublinhou um comunicado do Ministério russo da Defesa, esta sexta-feira.
"Imediatamente após receber informação sobre os soldados turcos feridos, as tropas sírias tomaram medidas integrais para cessar-fogo", acrescentou.
Ancara desmente esta versão e garante que avisou Moscovo, através dos canais de informação habituais, de que tinha colocado ali um contingente.
Outros 32 soldados ficaram feridos quinta-feira. O ataque foi o mais mortífero sofrido nos últimos 30 anos pelo exército turco, e fez subir para 54 o número total de soldados turcos mortos em Idlib, só este mês.
Em retaliação, a aviação turca bombardeou dezenas de alvos sírios, provocando um número indeterminado de baixas.
No início de fevereiro, outro incidente levou Ancara a ameaçar levar a guerra a toda a Síria, se Assad não recuasse.
Esta sexta-feira, o Governo turco alertou uma delegação russa, enviada para conversações, para a necessidade de estabelecer imediatamente um cessar-fogo sustentável em Idlib.
Para conseguir diminuir as tensões na área, a Turquia exigiu que as forças governamentais sírias, apoiadas por Moscovo, retirem para posições determinadas no acordo de pacificação, estabelecido entre a Turquia e a Rússia, em 2018.
As tropas sírias, apoiadas pela aviação russa, lançaram entretanto uma ofensiva militar que permitiu a Damasco recuperar grande parte do território de Idlib, e que levou milhares de pessoas a procurarem refúgio, muitas vezes em território turco.
Os delegados russos regressaram a Moscovo sem responder às exigências turcas.
A agência de notícias RIA citou depois o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, segundo o qual será possível um encontro entre os Presidentes turco e russo, na próxima semana, dias cinco ou seis de março.
Moscovo reforçou entretanto a sua presença naval de apoio a Damasco, com duas fragatas equipadas com mísseis Kalibr.
Ocidente tenta evitar escalada
A chanceler alemã, Angela Merkel, cujo país acolhe uma importante comunidade turca, condenou esta sexta-feira os "ataques brutais" que as forças da Turquia têm sofrido em Idlib.
O chefe da diplomacia europeia alertou por seu lado para o risco de "confronto militar internacional" na província rebelde síria de Idlib, e apelou à contenção da Rússia e da Turquia.
"A contínua escalada (de violência) tem de ser parada imediatamente. Existe o risco de se cair num grande e aberto confronto militar internacional", advertiu o Alto Representante da União Europeia para a Política Externa, Josep Borrell, numa publicação feita na rede social Twitter.
"A contínua escalada (de violência) tem de ser parada imediatamente. Existe o risco de se cair num grande e aberto confronto militar internacional", advertiu o Alto Representante da União Europeia para a Política Externa, Josep Borrell, numa publicação feita na rede social Twitter.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, apelou a um cessar-fogo imediato na região "antes da situação ficar totalmente fora de controlo".
Guterres descreveu a recente escalada entre as tropas turcas e sírias como "um dos períodos mais alarmantes" da guerra.
"Em todos os meus contactos com os envolvidos, transmiti uma simples mensagem: afastem-se de um agravamento", afirmou o secretário-geral aos repórteres, em Nova Iorque.
O Conselho de Segurança da ONU anunciou uma reunião de emergência para tentar evitar um conflito declarado entre a Rússia e a Turquia.
A NATO reuniu também de urgência em Bruxelas, a pedido do Governo turco. O secretário-geral da Aliança apelou a um cessar imediato dos bombardeamentos russos e sírios, para não agravar mais ainda a situação humanitária e exprimiu "total solidariedade" com a Turquia.
A Casa Branca emitiu um comunicado conjunto com o Presidente
turco, Recep Tayyip Erdogan, em que apelam a Síria e a Rússia a "parar"
a sua ofensiva militar em Idlib.
Os dois
Presidente discutiram ao telefone os últimos envolvimentos e acordaram
na necessidade de novas medidas para lidar com o drama humanitário em
curso em Idlib, onde os combates recentes obrigaram à fuga de mais de um
milhão de pessoas.