A França, o Reino Unido e as milícias curdas foram surpreendidos pelo anúncio da retirada dos dois mil militares norte-americanos da Síria. A nova posição do Presidente dos Estados Unidos foi criticada também a nível interno, por senadores republicanos, que consideram tratar-se de “um erro”. Avisam que a saída do terreno fortalece o Irão e a Rússia, apoiantes do Presidente sírio Bashar al-Assad.
After historic victories against ISIS, it’s time to bring our great young people home! pic.twitter.com/xoNjFzQFTp
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) 19 de dezembro de 2018
Uma interpretação contestada pelos parceiros dos Estados Unidos da coligação internacional e por senadores republicanos como Lindsay Graham.
O antigo apoiante do Presidente Trump e membro do Comité das Forças Armadas classifica a decisão de “enorme erro tipo-Obama” e avisou que a retirada “terá consequências devastadoras” para além da Síria.
Os países que fazem parte da coligação internacional consideram que a situação no terreno não permite concessões.
As tropas americanas ajudaram a combater o grupo terrorista no nordeste da Síria, mas grupos de radicais continuam no terreno. Por isso, as forças da coligação temem que a retirada americana possa potenciar o reaparecimento do Estado Islâmico.
De acordo com o jornal The Guardian, o Pentágono e o Departamento de Estado, que tiveram conhecimento da decisão na terça-feira à noite, consideram que esta é uma “mudança abrupta” na política de Trump.
Coligação contesta leitura de Trump
A França foi surpreendida com o anúncio de Donald Trump, segundo a Reuters. A agência também refere que o Presidente Emmanuel Macron falou esta quarta-feira com o homólogo americano sobre a retirada. No entanto, não foram dadas mais informações sobre o conteúdo da conversa.
Donald Trump não avançou uma data para o início da retirada, mas fontes contactadas pela Reuters referem que esta possa decorrer nos próximos 60 a 100 dias. O jornal New York Times escreve que Trump quer as tropas de volta em 30 dias.
Em abril, Donald Trump chegou a anunciar a retirada das tropas, mas mudou de ideias após conversa com o Presidente francês. "Agora estamos acostumados com a administração Trump. O diabo está nos detalhes", disse um diplomata francês citado pela Reuters.A ministra francesa da Defesa admite que o grupo terrorista perdeu o controlo de 90 por cento do território, mas lembra que a luta ainda não acabou. “O Estado Islâmico não foi varrido do mapa, nem as suas raízes. Os últimos restos desta organização terrorista têm de ser derrotados militarmente de uma vez por todas”, declarou Florence Parly.
Centenas de cidadãos franceses foram integrar as fileiras do Estado Islâmico, tendo sido também perpetrados vários ataques terroristas reivindicados pelo grupo em território nacional, o último dos quais no mercado de Natal de Estrasburgo.
A França tem mais de mil militares na Síria e no Iraque, a quem fornecem artilharia pesada, aviões, treino e apoio logístico.
No norte da Síria, dezenas de elementos das forças especiais francesas combatem lado a lado com as milícias curdas e árabes. Conhecidas como Forças Democráticas Sírias (FDS), têm sido o braço mais eficaz do combate contra o Estado Islâmico.
As forças sírias lideradas pelos curdos dizem que a saída dos americanos vai criar “um vazio político e militar na região, deixando os habitantes encurralados entre as garras de forças hostis”.
Já o gabinete da primeira-ministra do Reino Unido não foi apanhado de surpresa. “Temos estado em debate com os nossos parceiros americanos há vários dias”, disse o porta-voz de Theresa May.
Contudo, o Reino Unido continua a considerar o Estado Islâmico uma ameaça.
"Ainda há muito a ser feito e não devemos perder de vista a ameaça que representam. Mesmo sem território, o Estado Islâmico continuará a ser uma ameaça", refere um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros, emitido após o anúncio da retirada das tropas americanas da Síria.
"Como os Estados Unidos deixaram claro, os desenvolvimentos na Síria não representam o fim da Coligação Global ou da sua campanha. Continuaremos a trabalhar com os membros da Coligação para conseguir isso", referem.