Síria em "transição" dissolve exército e Parlamento e designa novo presidente

por Graça Andrade Ramos - RTP
Ahmed al.Sharaa, designado presidente da Síria "em fase de transição" Ammar Awad - Reuters

Ahmed al-Sharaa, líder de facto da Síria desde a queda de Bashar al-Assad, foi nomeado presidente "para a fase de transição", no mesmo dia em que o partido Baas, que dominou o poder durante mais de 60 anos, foi dissolvido.

Foi também decretado o fim de grupos militares, revolucionários, políticos e civis, que vão ser integrados nas instituições do Estado.

O exército do anterior regime vai igualmente ser banido para ser formado um novo numa base nacional.

A Constituição foi suspensa e o Parlamento, eleito ainda sob o regime de Assad, dissolvido, e irá ser formado um "conselho legislativo interino".

As decisões foram divulgadas pela principal agência de notícias do pais, citando o porta-voz militar, comandante Hassan Abdel Ghani, após uma reunião em Damasco esta quarta-feira, na qual participaram comandantes de grupos armados que lutaram ao lado de Sharaa no Hayat Tahrir al-Sham (HTS) para expulsar Bashar al-Assad do poder.
Três a quatro anos

Ahmed al-Sharaa assumiu o poder a 8 de dezembro de 2024, após um avanço relâmpago das suas forças, sobre a capital síria, Damasco, levando à fuga de Bashar al-Assad, num auto-exílio em Moscovo.

Ao assumir o poder, a coligação de grupos armados indicou um governo de transição pelo prazo de três meses, prometeu redigir uma nova Constituição e o relançamento da Economia.

Esta quarta-feira, ao anunciarem as dissoluções e a nomeação do novo chefe do Estado, as novas autoridades não revelaram quanto tempo irá durar a "fase de transição" a que Sharaa irá presidir.

Em entrevista à televisão saudita al-Arabiya, o novo presidente designado considerou que o processo de preparação e elaboração de uma nova Constituição pode demorar cerca de três anos e organizar eleições, quatro.

"A Síria precisa de um ano para que os cidadãos experimentem mudanças radicais nos serviços", disse al-Sharaa em excertos escritos da entrevista à emissora estatal saudita.

"Qualquer eleição adequada exigirá um censo populacional completo"
, o que leva tempo, observou o antigo líder rebelde, que era conhecido pelo seu nome militar, Abu Mohamed al-Jolani, al-Arabiya.

Relativamente às manifestações e protestos que têm ocorrido na Síria, al-Sharaa comentou que é um direito legítimo de qualquer cidadão expressar a sua opinião, sem prejuízo das instituições.

Referiu ainda das nomeações de funcionários da mesma cor política no atual governo de transição e justificou-as como uma medida num cenário que exige harmonia na nova autoridade síria.

"A atual forma de nomeações era uma necessidade nesta fase e não era para excluir ninguém", declarou al-Sharaa, que considerou que "as quotas neste período teriam destruído o processo de transição".

Sobre algumas "operações de retaliação" que ocorreram contra "restos do antigo regime", observou que foram "menos do que o esperado em comparação com a dimensão da crise" e acrescentou que "o regime anterior deixou enormes divisões dentro da sociedade síria".

Apesar disso, "não há preocupação dentro da Síria, uma vez que os sírios estão a coexistir", afirmou.
O comunicado
De acordo com a agência Sana, citando um comunicado de Abdel Ghani, Ahmed al-Sharaa foi encarregado "da presidência do país durante o período de transição. Assumirá as funções de presidente" e "irá representar" a Síria "nos fóruns internacionais".

"Todos os grupos armados, os orgãos políticos e civis que se alegam da revolução, são dissolvidos, e devem ser integrados nas instituições do Estado", prosseguiu o comunicado do porta-voz militar.

A mesma fonte anunciou "a dissolução do exército do regime" caído, com vista "à reconstrução do exército sírio". Também "todas as agências de segurança afiliadas com o anterior regime" foram dissolvidas. 

Medidas que se destinam a "formar um novo aparelho securitário que preservará a segurança dos cidadãos".
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