Síria avisa Turquia quanto a incursões em Alepo

por Graça Andrade Ramos - RTP
Um "rebelde" sírio durante combates nos arredores de Alepo a 21 de outubro de 2016. Khalil Ashawi - Reuters

Forças aliadas do Presidente sírio Bashar al-Assad deixaram esta quarta-feira um aviso a Ancara. Em comunicado enviado à Reuters, durante uma visita às linhas da frente destas forças em Alepo, o seu comandante referiu que qualquer avanço turco contra posições a norte e a leste da cidade terá uma resposta "decisiva e robusta".

O Ministério russo da Defesa anunciou entretanto que mantém a suspensão dos ataques aéreos russos e sírios num raio de dez quilómetros sobre Alepo.

"Forças aéreas russas e sírias estão a respeitar uma moratória de voos a dez quilómetros da cidade, pelo oitavo dia", afirmou esta quarta-feira o porta-voz do ministério da Defesa, o major-general Igor Konashenkov.

A capital do norte da Síria mantém-se como ponto de equilíbrio na guerra, mas a fronteira turca, ainda mais a norte, começa a centrar olhares.  

As forças sírias terão bombardeado pela primeira vez esta terça-feira as forças turcas que passaram em agosto passado a fronteira como apoio a milícias anti-Assad, entrando no norte da província de Alepo.
Ataque a forças turcas
De acordo com o exército turco, esta quarta-feira de manhã um helicóptero "considerado como pertencente às forças do regime" lançou ao fim do dia bombas-barril sobre milícias apoiadas pela Turquia.

Estas estão colocadas na vila de Akhtarin, a cinco quilómetros a sudeste de Dabiq, um reduto tomado pelo grupo Estado Islâmico nos últimos anos e conquistado pelas mesmas milícias no início de outubro.

O ataque causou dois mortos e cinco feridos, mas não vai deter as operações turcas dentro da Síria, afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros Mevlut Cavusoglu.

O ministro turco acusa Damasco de continuar a bombardear "rebeldes" em vez do grupo Estado Islâmico. Mas as operações militares turcas para limpar a fronteira dos extemistas islâmicos irão continuar até as forças que apoia tomarem a cidade de el-Bab, acrescentou.

Um carro armado turco nas ruas de al-Raj, uma cidade síria dominada por milícias anti-Assad, em outubro de 2016 Foto: Reuters

As milícias curdas YPG estão igualmente a avançar sobre essa posição.A Turquia lançou em agosto de 2016 a "Operação Escudo do Eufrates", alegadamente em apoio de grupos turquemenos e árabes que afirmam estar a expulsar o grupo Estado Islâmico da fronteira sírio-turca. A operação turca visa também evitar que as forças curdas locais, YPG, ganhem terreno e consolidem posições no norte da Síria.

Ancara entrou em solo sírio há dois meses com tanques e aviões, naquilo que Damasco denunciou como uma "escalada perigosa e violação flagrante da soberania síria".

Na semana passada o Governo de Assad avisou que qualquer aparelho turco que entre no espaço aéreo sírio será abatido.

No sábado, o Presidente turco Reccep Tayyip Erdogan anunciou que as forças que apoia iriam avançar sobre a cidade de al-Bab, dominada pelo grupo Estado Islâmico.
Tréguas humanitárias em Alepo
Os civis que estão a abandonar a cidade de Alepo podem usar seis corredores humanitários que se mantêm abertos 24 horas sobre 24 horas, anunciou entretanto a Rússia, revelando que já distribuiu dez toneladas de auxílio humanitário aos civis da cidade.

Moscovo está ainda pronto a voltar a suspender as operações militares em Alepo, sob algumas condições, referiu o porta-voz do Ministério da Defesa, Konashenkov.

As autoridades russas e sírias estão "prontas a retomar as pausas humanitárias em Alepo, se obtiverem garantias das organizações internacionais de que estão prontas a deixar que doentes, feridos e civis abandonem as áreas controladas pelos militantes", afirmou.

A ONU voltou a pedir o prolongamento das tréguas em Alepo por questões humanitárias e para retirar civis.

A trégua de três dias da semana passada terminou sábado sem que praticamente ninguém saísse das zonas de Alepo sob ataque de Damasco. A ONU queixou-se de falta de condições de segurança.
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