Síndrome de Havana. EUA confirmam 130 casos de lesão cerebral inexplicável

por Cristina Sambado - RTP
Embaixada dos EUA em Havana Alexandre Meneghini - Reuters

A Administração de Joe Biden está a investigar, de forma mais intensa, os episódios que deixaram espiões, diplomatas e elementos da Defesa dos EUA com lesões cerebrais, depois de estarem em serviço no estrangeiro. Nas últimas semanas foram reportados sintomas graves. Estão registados mais de 130 casos da denominada síndrome de Havana.

Os sintomas são vertigens súbitas, náuseas, dores na cabeça e no pescoço e falta de concentração.

O jornal New York Times refere que três agentes da CIA relataram sintomas graves desde o início de dezembro, após missões no estrangeiro, que os levaram a receber tratamento em ambulatório no hospital militar de Walter Reed, em Washington. O último episódio ocorreu nas últimas duas semanas.

Os episódios iniciais que foram confirmados publicamente estavam concentrados na China e em Cuba e totalizavam cerca de 60, sem incluir um grupo de agentes da CIA, cujo total não é público.

O novo total, que acrescenta casos na Europa e outras partes da Ásia, reflete os esforços do Governo norte-americano para verificar mais profundamente outros incidentes, no meio da preocupação com o recrudescimento dos últimos meses.

Mark Zaid, que representa alguns ex-funcionários afetados pela síndrome de Havana, afirma que “os números estão a aumentar”.

As autoridades norte-americanas confirmam que existem novos casos em análise, mas advertem que a publicidade dada a casos anteriores de síndrome de Havana levou algumas pessoas a reinterpretar os sintomas que estavam a sofrer e a questionar-se se poderiam ter sido vítimas de algum tipo de ataque que não tenha sido anteriormente suspeito.

Em dezembro de 2020, a Academia Nacional de Ciências publicou um relatório onde afirmava que as lesões cerebrais sofridas por funcionários do Governo dos Estados Unidos em Cuba e na China eram provavelmente resultado de alguma forma de energia de microondas pulsada ou dirigida.

No entanto, o documento não confirma que a energia tenha sido direcionada com intenção, mas não descarta a possibilidade de ter sido emitida através de uma arma.

Cheryl Rofer, ex-químico do Laboratório Nacional de Los Alamos, questionou as conclusões do estudo, a alegação das vítimas e de alguns especialistas de que uma arma de microondas desenvolvido por um adversário seja responsável pela síndrome de Havana.

“As evidências de efeitos de microondas como síndrome de Havana são extremamente fracas. Acusações extraordinárias exigem provas e não há prova alguma da existência dessa arma misteriosa”, afirmou Cheryl Rofer.

Os casos, segundo o Conselho de Segurança Nacional envolvem pessoal que experimenta “fenómenos sensoriais”, com som, pressão ou calor.
O New YorK Times ouviu 20 funcionários e ex-funcionários de várias agências governamentais que estiveram envolvidos no assunto ou foram informados sobre episódios, muitos dos quais permanecem confidenciais.

A Administração Biden está a procurar encontrar um equilíbrio cuidadoso. E o Conselho de Segurança criou um grupo de trabalho com o objetivo de descobrir se outros episódios não reportados se enquadram no padrão.

“Estamos a utilizar todos os recursos dos EUA para resolver a situação”, afirmou ao jornal Emily J. Horne, porta-voz do Conselho de Segurança.

Também a CIA criou uma task force para tentar reunir informações sobre os casos, como ocorreram e que é responsável. O grupo de trabalho pretende operar com rigor e intensidade semelhantes ao criado algum tempo depois dos ataques de 11 de Setembro.

Já a Casa Branca está a padronizar a notificação dos episódios e melhorar os tratamentos médicos das vítimas.
A síndrome de Havana
A síndrome de Havana foi notícia entre 2016 e 2017, quando funcionários da embaixada dos Estados Unidos na capital cubana começaram a apresentar um estranho conjunto de sintomas e sinais clínicos.

A situação levou ao encerramento quase total da embaixada, dois anos após a reabertura durante a Administração de Barack Obama, numa tentativa de reaproximação com o Governo de Raúl Castro.

Na altura, as autoridades norte-americanas aconselharam os cidadãos a não viajar para Cuba e suspenderam a emissão de vistos na embaixada em Havana.
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