Em conferência de imprensa, o Hospital Universitário de Nara confirmou esta manhã a morte do antigo governante japonês. A morte foi declarada às 17h03 locais (9h03 em Portugal Continental), cinco horas depois de ter chegado ao hospital.
De acordo com o médico presente na conferência de imprensa, Shinzo Abe "já não tinha sinais vitais" quando chegou ao hospital. Os dois disparos que atingiram o antigo chefe de Governo feriram o pescoço, do lado direito, e o peito, do lado esquerdo, chegando ao coração.
O ex-primeiro-ministro sangrou de forma "abundante" e recebeu várias transfusões de sangue para tentar salvar a sua vida, indicou o médico.
A polícia japonesa deteve um suspeito do ataque, Tetsuya Yamagami, com cerca de 40 anos. Está acusado de tentativa de homicídio e usou “um equipamento semelhante a uma arma” na execução do ataque. As fotografias e vídeos do ataque sugerem que se trata de uma arma fabricada em casa.
Shinzo Abe, de 67 anos, foi primeiro-ministro do Japão entre 2006 e 2007 e, mais tarde, entre 2012 e 2020. Foi o líder japonês com maior longevidade no cargo.
O comício desta sexta-feira decorria antes das eleições para o Senado japonês, marcadas para domingo. Abe discursava em apoio a Kei Sato, um membro da câmara alta do Parlamento que concorre à reeleição em representação da cidade de Nara.
Visivelmente emocionado, o atual
primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, disse esta sexta-feira que
"não encontra palavras" para reagir após a morte de Shinzo Abe. Kishida foi ministro dos Negócios Estrangeiros de Abe antes de chegar à liderança do Governo japonês.
O atentado contra Shinzo Abe está a ser condenado por vários dirigentes mundiais e organizações internacionais. Em Portugal, o presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa diz estar "chocado" com o assassinato.
"O Presidente da República, chocado com o vil assassinato do antigo Primeiro-Ministro do Japão, Shinzo Abe, apresenta ao Estado japonês as suas respeitosas condolências e repudia esta lamentável manifestação de violência", lê-se numa nota publicada esta sexta-feira na
página da presidência.
Por sua vez, o Governo português condenou o ataque e frisou que "não há lugar para a violência na política".
"Portugal condena o ataque contra o antigo primeiro-ministro Shinzo Abe e reiteramos a nossa solidariedade a todos os amigos japoneses", referiu o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, através do Twitter.
Também no Twitter, a presidente da Comissão Europeia lamentou a morte do ex-chefe de Governo. "Morreu uma pessoa maravilhosa, um grande democrata e um defensor da ordem mundial multilateral. Choro com a sua família, amigos e todo o povo japonês", afirmou Ursula von der Leyen.
No Japão, a violência política é rara e onde as armas de fogo estão fortemente reguladas. Os assassinatos eram uma característica comum na política interna nos anos que antecederam a II Guerra Mundial, mas tornaram-se quase inexistentes ao longo das últimas sete décadas.
O último assassinato de uma figura política importante ocorreu em 1960, quando um nacionalista extremista esfaqueou e matou o então líder do Partido Socialista do Japão, Inejiro Asanuma. A nível local, o prefeito de Nagasaki, Kazunaga Ito, foi morto a tiro em 2007 por um elemento de um gangue.
De resto, o país tem as regras mais rigorosas do mundo sobre a compra e o porte de armas de fogo. Por princípio, as armas de fogo não são sequer permitidas no país, mas existem algumas exceções, como as armas usadas na caça.
No entanto, são várias as etapas até que se consiga comprar e ter porte de arma, desde aulas de segurança, vários exames escritos, exames médicos e comprovem a saúde física e mental ou verificação de antecedentes.
De acordo com o jornal New York Times, havia cerca de 192 mil armas de fogo registadas no país em 2020, o mesmo número de armas que estão registadas no estado norte-americano do Alabama, por exemplo.