Shamsud Din Jabbar. O que se sabe sobre o atacante de Nova Orleães?

por Cristina Sambado - RTP
Eduardo Munoz - Reuters

Quinze pessoas morreram e pelo menos 35 ficaram feridas depois de um homem, aparentemente inspirado pelo Estado Islâmico, ter atacado uma multidão em Nova Orleães, Louisiana, na madrugada do dia de Ano Novo. O FBI identificou o agressor como Shamsud Din Jabbar, de 42 anos, um veterano do exército e cidadão norte-americano do Texas.

Uma bandeira associada ao Estado Islâmico foi encontrada no veículo que conduzia e o FBI afirmou estar a investigar as possíveis afiliações de Jabbar a grupos terroristas.

O presidente Joe Biden revelou que a CIA e o FBI o tinham informado sobre o ataque. O suspeito carregou vídeos nas redes sociais “poucas horas antes do ataque”, indicando que se inspirava no Estado Islâmico e a expressar um “desejo de matar”, acrescentou Biden.Foram desativados dois dispositivos explosivos improvisados no carro e na vizinhança, segundo o FBI. Uma arma longa com um “dispositivo supressor” - que atua como silenciador - foi também recuperada.


De acordo com um perfil no LinkedIn, entretanto removido, Jabbar tinha trabalhado em várias funções no exército dos EUA, incluindo em recursos humanos, antes de ser dispensado. Esteve destacado no Afeganistão de fevereiro de 2009 a janeiro de 2010.

Num vídeo publicado no YouTube em 2020, afirmou que o seu tempo no exército lhe tinha ensinado “o significado de um grande serviço e o que significa ser reativo e levar tudo a sério, pondo os pontos nos i e cruzando os t para garantir que as coisas correm sem problemas”.

O irmão, Abdur Jabbar, descreveu-o como “um querido”, afirmando ao jornal The New York Times que Shamsud Din se converteu ao Islão numa idade jovem, falando de “uma forma de radicalização”.

Um amigo de infância que o encontrou em 2017 disse ao jornal que o suspeito se tinha tornado “muito intenso” em relação à sua fé.

Shamsud Din Jabbar estudou na Universidade Estatal da Geórgia de 2015 a 2017, tendo-se licenciado em sistemas de informação informática. Foi casado duas vezes - o primeiro casamento terminou em 2012 e o segundo durou de 2017 a 2022.

Trabalhou também no sector imobiliário, com uma licença que expirou em 2021. Tinha antecedentes criminais, relacionados com infrações de trânsito e roubo.
O ataque

Às 3h15, hora local, do dia de Ano Novo, uma pick-up Ford abalroou a multidão reunida na Bourbon Street, no coração do Bairro Francês de Nova Orleães.

As imagens das câmaras de vigilância mostram um veículo F-150 Lightning branco a entrar no passeio para contornar um carro da polícia, antes de atingir os peões.

A polícia descreveu o ato como “muito intencional”, acrescentando que o atacante estava “determinado a criar a carnificina e os danos que causou”.

“Este homem estava a tentar atropelar o maior número possível de pessoas”, afirmou a chefe da polícia de Nova Orleães, Anne Kirkpatrick.

Jabbar também estava armado e disparou contra as forças da ordem, ferindo dois agentes. Foi então morto por disparos da polícia.
Há outros suspeitos?
O FBI acredita que o suspeito teve ajuda, nomeadamente na colocação de dispositivos explosivos.

Alethea Duncan, agente especial do FBI em Nova Orleães, revelou à comunicação social não acreditar “que Jabbar seja o único responsável” e que considera que ele atuou com “potenciais cúmplices”.

As buscas e investigações prosseguem em Nova Orleães e noutros Estados.

Anteriormente, o gabinete do FBI em Houston, no Texas, havia indicado que estava a realizar atividades “relacionadas” com o ataque de Nova Orleães.

Segundo Joe Biden, as autoridades estão a investigar se há alguma “ligação” entre o ataque em Nova Orleães e a explosão de um Tesla Cybertruck à porta de um hotel de Trump em Las Vegas, que matou uma pessoa.A carrinha que Shamsud Din Jabbar conduzia era elétrica e acredita-se que tenha sido alugada no Texas através de uma aplicação chamada Turo. Nos dois incidentes, os veículos envolvidos tinham sido alugados através da mesma aplicação.

O xerife de Las Vegas disse que se tratava de uma “coincidência (...) que temos de continuar a investigar”. Um porta-voz da aplicação, utilizada por milhões de pessoas nos EUA, revelou que estava a trabalhar com as autoridades policiais.


“Não acreditamos que os dois clientes tenham um historial criminal que os identifique como uma ameaça à segurança”, disse o porta-voz do grupo à AFP.

O atentado aconteceu a menos de três semanas da transferência de poder entre o presidente democrata Joe Biden e o seu sucessor republicano, Donald Trump, num clima político elétrico.


O presidente eleito, que fez campanha a denunciar a imigração ilegal, estabeleceu a ligação com os milhões de imigrantes ilegais nos Estados Unidos, e afirmou, sem provas, na sua rede social Truth, que “os criminosos que chegam (aos Estados Unidos) são muito piores do que os criminosos que temos no nosso país”.
Quem eram as vítimas?

Entre os mortos encontra-se a antiga estrela do futebol americano da Universidade de Princeton, Martin “Tiger” Bech, segundo o departamento de desporto da universidade.

O reitor da Universidade da Geórgia disse que um dos seus estudantes tinha ficado gravemente ferido, enquanto que o Governo israelita disse que dois cidadãos estavam entre os feridos.

Segundo a polícia, as vítimas eram sobretudo habitantes de Nova Orleães, embora muitos turistas estivessem de visita para as celebrações do Ano Novo e para o Sugar Bowl, entretanto adiado, que faz parte dos play-offs universitários de futebol americano.

A Bourbon Street é um conhecido local de vida noturna e turística, repleto de restaurantes, bares e discotecas com música ao vivo.

Localizada no Bairro Francês de Nova Orleães, a rua alberga também cabarés e locais frequentados pela comunidade LGBT+.

Todos os anos, mais de um milhão de pessoas afluem ao famoso carnaval e desfile do Mardi Gras na primavera, famoso pelos cordões de missangas coloridas usados pelos foliões.

c/ agências
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