A agitação nacional começou em Istambul na quarta-feira com a detenção de Ekrem Imamoglu, acusado de corrupção e terrorismo, e prosseguiu na noite de segunda-feira com a oposição a convocar novas ações de protesto que foram duramente reprimidas pelas autoridades.
Ozgur Ozel, líder do Partido Republicano do Povo (CHP), principal partido da oposição, disse na segunda-feira à noite perante dezenas de milhares de manifestantes reunidos à porta da Câmara Municipal de Istambul que a manifestação convocada "era um ato de desafio contra o fascismo".
O líder político da oposição apelou ao boicote de empresas próximas do Governo e dos canais televisivos pró-governamentais que segundo ele, não transmitem as imagens das manifestações, afirmando "enterrem aqueles que vos ignoram". Ozel disse ainda que o partido iria apelar à libertação de Imamoglu enquanto aguarda julgamento e sugeriu que este fosse transmitido em direto pelo canal estatal TRT.
Entretanto o CHP anunciou que os comícios terminarão esta terça-feira, deixando a dúvida se a revolta da população turca irá abrandar ou se outras ações de protesto espontâneos irão continuar.
"Parem de perturbar a paz"
Após ter acusado a oposição de "pertubar a paz dos concidadãos com provocações" e de "brincar com os nervos da nação", num discurso televisivo dirigido à oposição na segunda-feira, o presidente turco apelou ao fim dos protestos e afirmou que os partidos da oposição tinham “feito as declarações mais vis e ilegais da nossa história política".
As manifestações que tinham sido em grande parte pacíficas até domingo, mudaram de face com a polícia turca a disparar canhões de água e a utilizar gás lacrimogénero contra os manifestantes durante os confrontos no domingo.
Desde o início dos protestos, foram detidas mais de 1300 pessoas, segundo números divulgados na segunda-feira à noite pelo Ministério turco do Interior, citado pela AFP.
O ministro do Interior da Turquia, Ali Yerlikaya, escreveu na rede social X esta terça-feira de manhã que tinham sido detidos 43 manifestantes na segunda-feira e deixou um aviso à população "a nossa polícia prendeu 43 provocadores e os esforços para capturar outros suspeitos continuam”.
As manifestações na Turquia foram proibidas há uma semana nas três maiores cidades do país - Istambul, Ancara e Esmirna - tendo a província de Ancara prorrogado esta segunda-feira a probição até ao dia 1 de abril, inclusive.
Uma detenção com "motivações políticas"
Após ter sido destituído do cargo e preso no domingo, o presidente da Câmara de Instambul, Ekrem Imamoglu, foi simultaneamento investido pelo seu partido, o Partido Republicano do Povo, como candidato às próximas eleições presidenciais previstas para 2028, ameaçando a continuidade no poder de Recep Tayyip Erdogan.
Acusado de "criar e gerir uma organização criminosa, aceitar subornos, extorsão, registo ilegal de dados pessoais e manipulação de um concurso", o autarca negou todas as acusações e disse que estas "tinham motivações políticas", uma afirmação negada pelo presidente do turco.
A detenção do Ekrem Imamoglu, apontado como o maior rival de Erdogan, não impede que se candidate ou até mesmo que vença as próximas eleições presidenciais, no entanto se for condenado por qualquer das acusações de que é alvo fica proibído de concorrer.
Já Recep Tayyip Erdogan está na liderança da Turquia, como primeiro-ministro e presidente, há 22 anos e de acordo com a Constituição não pode voltar a concorrer no final do seu mandato em 2028, a menos que convoque eleições antecipadas ou tente alterar a Constituição para prolongar o seu tempo no poder.
c/ agências