A atividade humana, o exponencial aumento populacional, a invasão e a destruição de ecossistemas estão a ameaçar a sobrevivências de mais de 500 espécies. Os cientistas alertam: estamos a assistir à sexta extinção em massa e a um ritmo mais acelerado do que o normal.
Desde 1900 que estão a desaparecer milhares de espécies. Para os cientistas é claro: estamos a meio da sexta extinção em massa.
O grande problema é que, contrariamente a extinções em massa anteriores, esta não está a acontecer por causas naturais - como erupções vulcânicas ou colisões de asteróides - mas pelo impacto humano. E pior: está a acelerar.
Mais de 500 espécies de vertebrados terrestres estão à beira da extinção e podem desaparecer nas próximas duas décadas, alerta um novo estudo. Os investigadores acreditam que a taxa de declínio destas espécies é muito superior ao que se pensava anteriormente e pode ter um impacto devastador nos ecossistemas globais.
"A sexta extinção em massa que está a decorrer pode ser a ameaça ambiental mais séria à persistência da civilização, porque é irreversível", escreveram os cientistas.
Divulgado na segunda-feira na revista Proceedings da National Academy of Sciences, o artigo revela que esta extinção em massa está a acelerar e são urgentes ações imediatas de conservação global para evitar um "colapso catastrófico do ecossistema".
"Milhares de populações de espécies de animais vertebrados criticamente ameaçadas desapareceram num século, o que indica que a sexta extinção em massa é causada por humanos e está a acelarar. A aceleração da crise de extinção é clara, e deve-se ao crescimento ainda rápido dos humanos e das taxas de consumo".
Próximas décadas definem futuro da humanidade
O professor Gerardo Ceballos, da Universidade Nacional do México, na Cidade do México, disse que os ecossistemas estão a entrar em colapso.
"Entramos na sexta extinção em massa", disse à BBC Gerardo Ceballos, um dos autores do artigo. "Com base na nossa investigação e no que estamos a ver, a crise de extinção é tão grave que tudo o que fizermos nos próximos 10 a 50 anos é o que definirá o futuro da humanidade".
"Entramos na sexta extinção em massa", disse à BBC Gerardo Ceballos, um dos autores do artigo. "Com base na nossa investigação e no que estamos a ver, a crise de extinção é tão grave que tudo o que fizermos nos próximos 10 a 50 anos é o que definirá o futuro da humanidade".
Já Paul Ehrlich, da Universidade de Stanford, na Califórnia, e um dos autores do estudo, considera que "quando a humanidade extermina populações e espécies de outras criaturas, está a cortar o membro em que está sentada, a destruir partes da nossa própria vida e do nosso sistema de suporte".
"A conservação de espécies ameaçadas de extinção deve ser elevada a uma emergência nacional e global para governos e instituições, igual à perturbação climática à qual está ligada", apelou ainda Ehrlich.
"A conservação de espécies ameaçadas de extinção deve ser elevada a uma emergência nacional e global para governos e instituições, igual à perturbação climática à qual está ligada", apelou ainda Ehrlich.
Pelo menos 543 espécies de vertebrados extinguiram-se nos últimos 100 anos, mas levariam cerca de dez mil anos a desaparecer no curso normal da evolução, explicaram os investigadores.
"Por outras palavras, todos os anos ao longo do século passado, perdemos o mesmo número de espécies normalmente perdidas em 100 anos", disse Ceballos.
"Cerca de 94 por cento das populações de 77 espécies de mamíferos e aves desapareceram no século passado", lê-se no artigo.
Se nada mudar e o ser humano não agir, é provável que cerca de 500 espécies de vertebrados terrestres sejam extintas apenas nas próximas duas décadas, o que pode significar perdas totais equivalentes às que teriam ocorrido naturalmente ao longo de 16 mil anos.
Ser humano põe em risco a vida na Terra
Os cientistas descrevem a extinção como uma ameaça existencial à civilização humana, juntamente com as mudanças climáticas e a poluição, às quais está também ligada.
Para determinar quantas espécies estão em risco da extinção, o Ceballos e os coautores Paul Ehrlich e Peter Raven, ambientalista do Jardim Botânico de Missouri, analisaram os dados populacionais de 29.400 espécies de vertebrados terrestres, na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) e da Birdlife International.
O mico-leão-dourado, o lobo etíope, o rinoceronte de Javan, a águia imperial espanhola, o papagaio de orelhas amarelas, o corcodilo gavial e o sapo venenoso verde, são apenas algumas das espécies ameaçadas pelo impacto humano, principalmente nos trópicos.
Dessas espécies, 515, ou seja 1,7 por cento, estão ameaçadas de extinção, tendo já uma população com menos de mil animais - cerca da metade dessas espécies tem, na verdade, menos de 250 indivíduos.
"Concluímos que a sexta extinção em massa causada pelo homem provavelmente está a acelerar por várias razões", esclarecem os investigadores.
O problema é que o processo funciona como um efeito dominó nos ecossistemas. Ao desaparecerem as espécies diretamente afetadas pelas atividades humanas - como a caça furtiva ou a destruição de habitats - vão desaparecendo outras espécies que dependiam da sobrevivência das primeiras.
"Muitas das espécies que estão a atingir o limiar provavelmente vão ser extintas em breve", alertam os cientistas, acrescentando que "a distribuição dessas espécies coincide com centenas de outras espécies ameaçadas de extinção, que sobrevivem em regiões afetadas pelos impactos humanos, o que pode levar a colapsos da biodiversidade regional".
Além disso, as "interações ecológicas estreitas de espécies à beira de extinção tendem a levar outras espécies para a aniquilação quando desaparecem - a extinção gera extinções".
A equipa de investigação salientou que "as pressões humanas na biosfera estão a aumentar rapidamente e um exemplo recente é a atual pandemia da doença do coronavírus 2019 (Covid-19), associada ao comércio de animais selvagens".
Esta investigação conclui não só que o impacto humano está a acelerar o processo de extinção de centenas de espécias e de destruição da biodiversidade global, mas também que é urgente tomar medidade e "ações globais maciças para salvar os sistemas cruciais ao suporte de vida da humanidade".