Os serviços de segurança russos (FSB) acusaram hoje o chefe do grupo paramilitar Wagner de incitar à guerra civil ao apelar a uma rebelião contra o estado-maior, e exortou os seus homens a desobedecerem-lhe e procederem à sua detenção.
"As declarações e atos de Prigozhin são na realidade um apelo a desencadear um conflito civil armado no território da Rússia (...). Apelamos aos combatentes do grupo Wagner a não cometerem um erro irreparável, a terminarem as ações pela força contra o povo russo, a não cumprirem as ordens criminosas e traidoras de Prigozhin e a adotarem as medidas para o prender", declarou o FSB, citado pelas agências noticiosas russas.
Em paralelo, um influente general russo, Sergueï Surovikin apelou aos combatentes do grupo Wagner a "pararem" e regressarem às suas casernas "antes que seja tarde demais" e após o apelo do seu chefe, Yevgeny Prigozhin se ter sublevado contra o comando militar.
"Dirijo-me aos combatentes e chefes do grupo Wagner (...). Somos do mesmo sangue, somos guerreiros. Peço-vos que parem (...). Antes que seja tarde demais é necessário obedecer à vontade e às ordens do Presidente eleito da Rússia", indicou num vídeo difundido no Telegram por um jornalista da televisão estatal russa.
Previamente, o FBS tinha anunciado uma investigação ao líder do grupo paramilitar Wagner, após Yevgeny Prigozhin ter apelado a uma revolta contra o comando militar russo, que acusou de atacar os seus combatentes.
"As alegações divulgadas em nome de Yevgeny Prigozhin não têm fundamento. (...) O FSB [serviços de segurança russos] abriu uma investigação por convocação de um motim armado", referiu o Comité Nacional Antiterrorista da Rússia em comunicado, citado por agências de notícias russas.
A presidência russa (Kremlin) divulgou, por sua vez, que o chefe de Estado russo, Vladimir Putin, está a ser informado sobre o conflito entre o Exército russo e o grupo Wagner.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, citado pela agência Tass, assegurou também que estão a ser tomadas as medidas necessárias.
O líder do grupo paramilitar Wagner convocou hoje uma revolta contra o alto comando militar da Rússia, frisando ter 25.000 soldados e instando os russos a juntarem-se a estes numa "marcha pela justiça".
"Somos 25.000 e vamos determinar por que é que reina o caos no país (...) As nossas reservas estratégicas são todo o exército e todo o país", frisou Yevgeny Prigozhin numa mensagem de áudio, instando "quem se quiser juntar" para "acabar com a confusão".
No entanto, Prigozhin defendeu-se de qualquer "golpe militar", alegando estar a liderar uma "marcha por justiça".
"Este não é um golpe militar, mas uma marcha pela justiça, as nossas ações não atrapalham as Forças Armadas", assegurou, numa mensagem de áudio.
Prigozhin tinha acusado antes o Exército russo de realizar ataques a acampamentos dos seus mercenários, causando "um número muito grande de vítimas", acusações negadas pelo Ministério da Defesa da Rússia.
A mensagem de Prigozhin foi acompanhada por vídeo com cerca de um minuto, onde se vê uma floresta destruída, alguns focos de incêndio e pelo menos o corpo de um militar.
O Exército russo negou de imediato a realização de ataques contra acampamentos do grupo Wagner.
"As mensagens e vídeos publicados nas redes sociais por Prigozhin sobre alegados `ataques do Ministério da Defesa da Rússia nas bases de retaguarda do grupo paramilitar Wagner` não correspondem à realidade e são uma provocação", referiu o governo russo em comunicado.
Numa outra reação, o líder do Wagner afirmou que as chefias do grupo decidiram que era preciso parar aqueles que têm "responsabilidade militar pelo país".
"Aqueles que resistirem a isso serão considerados uma ameaça e destruídos imediatamente", acrescentou Prigojine, prometendo "responder" aos alegados ataques.
Estas fortes acusações de Prigozhin expõem as profundas tensões dentro das forças de Moscovo em relação à ofensiva na Ucrânia.
O líder do grupo Wagner tinha referido antes que o Exército russo está a recuar em vários setores do sul e leste da Ucrânia, Kherson e Zaporijia, respetivamente, e em Bakhmut, contradizendo as afirmações de Moscovo de que a contraofensiva de Kiev era um fracasso.