Serviço diplomático da UE apela a "compromisso genuíno" turco sobre o Chipre

por Lusa

O serviço diplomático da União Europeia (UE) apelou hoje à Turquia para que haja um "compromisso genuíno" para uma solução pacífica que ponha termo à "divisão forçada" entre o sul cipriota grego e o norte cipriota turco.

"É necessário, de forma urgente, um compromisso genuíno de todos os interessados, incluindo as duas comunidades cipriotas, e em particular a Turquia, para alcançar uma solução pacífica", segundo a porta-voz do Serviço Europeu para a Ação Externa (SEAE) SEAE, Nabila Masrali, num comunicado divulgado na rede social X (antigo Twitter) pelo Alto Representante da UE para os Negócios Estrangeiros, Josep Borrell.

Como solução para o conflito, Borrell faz eco do conteúdo do comunicado e defende que "ainda há esperança para um Chipre unificado", um cenário tido como "um futuro melhor" já que a "divisão forçada" da ilha "nunca poderá ser uma solução".

O chefe da diplomacia lamentou que "se tenha perdido demasiado tempo" na resolução deste conflito e, nesse sentido, o SEAE apelou à "união de esforços para alcançar uma solução justa, abrangente e viável" para "todo o povo de Chipre" e para "a segurança do Mediterrâneo Oriental", o que seria uma lufada de ar fresco no atual "contexto de crises geopolíticas".

"Atualmente, a República de Chipre, um Estado membro da UE, continua dividida, o que tem consequências de grande alcance, em primeiro lugar para o povo cipriota", lê-se no comunicado do SEAS.

A UE reconhece apenas a República de Chipre, controlada a sul pela população cipriota grega, como um Estado e como sujeito de direito internacional, enquanto considera como entidade secessionista a autoproclamada República Turca de Chipre do Norte, que ocupa o norte da ilha desde 1974 e que é reconhecida internacionalmente apenas pela Turquia.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, tinha reiterado sábado o empenho de Bruxelas na integridade territorial e na soberania da República de Chipre sobre toda a ilha, e lamentado, no X, que este seja "o último Estado dividido da UE".

Há 50 anos, a 20 de julho de 1974, o exército turco invadiu o Chipre sob o pretexto de restabelecer a ordem constitucional após um golpe de Estado liderado pela junta militar grega, que pretendia derrubar o presidente cipriota, o arcebispo Makarios III, e anexar a ilha.

O que Ancara ainda apelida de "operação de paz" conduziu num mês à intervenção da ONU em agosto de 1974 e ao estabelecimento de uma faixa de território neutro entre os dois lados, controlado pelos `capacetes azuis`.

Números oficiais referem que a invasão turca causou cerca de 5.000 mortos e 955 desaparecidos, tendo obrigado cerca de 162.000 cipriotas gregos e 40.000 cipriotas turcos a abandonar definitivamente as suas casas.

O atual presidente de Chipre, Nikos Jristodulidis, pretende reabrir as negociações com base numa federação bizonal e bicomunitária para pôr fim ao conflito, enquanto o presidente da autoproclamada República Turca do Norte de Chipre, Ersin Tatar, defende uma confederação ou dois Estados separados.

O Presidente turco disse hoje que o país está disponível para construir uma base militar naval no norte de Chipre "se necessário" para proteger o enclave, não controlado pelas autoridades de Nicósia.

Citado pela agência oficial Anadolu, Recep Tayyip Erdogan reafirmou o empenho do que classifica como proteção da zona norte da ilha, dividida há 50 anos.

"Se necessário, podemos construir uma base naval e estruturas no norte. Nós também temos o mar", disse o Presidente no avião de regresso de Chipre, depois de ter estado no norte da ilha nas cerimónias dos 50 anos da divisão.

O líder turco também acursou a Grécia de querer instalar uma base desse tipo na ilha e rejeitou a realização de novas negociações: "Acreditamos que uma solução federal não é possível em Chipre. Não há benefício para ninguém em prosseguir negociações como as que foram abandonadas na Suíça" em 2017.

Erdogan admitiu aceitar que "a parte cipriota turca se deve sentar com a parte cipriota grega em pé de igualdade" e só nesse formato está "pronto a negociar e a alcançar uma paz duradoura e uma solução".

No sábado, o primeiro-ministro da Grécia, Kyriakos Mitsotakis, reafirmou o apoio a uma reunificação do Chipre e acusou ainda a Turquia de levantar obstáculos a um compromisso de paz.

"O nosso objetivo continua a ser o mesmo: uma República do Chipre com soberania num único Estado, uma federação com duas zonas, duas comunas, sem um exército estrangeiro de ocupação, conforme estipulado nas resoluções da Organização das Nações Unidas", declarou Kyriakos Mitsotakis.

Apesar de ser o único Estado reconhecido internacionalmente, a República de Chipre só exerce autoridade sobre a parte sul da ilha, que está separada por uma zona-tampão, controlada pela ONU, da autoproclamada República Turca do Norte de Chipre (RTNC), reconhecida apenas por Ancara.

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