O Governo sérvio denunciou hoje "ameaças e pressões" para que se associe às sanções ocidentais contra a Rússia na sequência da invasão militar da Ucrânia, mas prometeu que "aguentará" enquanto puder.
"Enquanto pudermos aguentar, sem pôr em perigo os nossos interesses nacionais e estatais mais vitais, manteremos a política determinada pelo Conselho de Segurança Nacional" sérvio, indicou hoje o Presidente Aleksandar Vucic, citado pela agência oficial Tanjug.
Nas conclusões deste organismo estatal, foi concluído que a aplicação de sanções à Rússia é contrária aos interesses nacionais da Sérvia.
Vucic também considerou que, caso o país alterasse a sua atual política, "cinco dias depois chegariam novas pressões e pedidos".
O Presidente sérvio referia-se à exigência de que a Sérvia renuncie ao Kosovo, a sua ex-província do sul que autoproclamou a independência em 2008, não reconhecida por Belgrado, pela Rússia ou pela China, mas legitimada pelos Estados Unidos e a maioria dos países da União Europeia.
O líder de Belgrado denunciou a existência de crescentes condições e pressões emitidas por Bruxelas e Washington, "porque lhes incomoda que exista um país que não se ajoelhe e pretenda ter a sua opinião própria".
"Eles ameaçam abertamente todo o nosso país e a sua sobrevivência", declarou.
A UE tem criticado a Sérvia, que possui o estatuto oficial de candidato à adesão, de ter reforçado recentemente os seus tradicionais laços políticos, económicos e diplomáticos com a Rússia.
O relatório da Comissão Europeia sobre os países candidatos à adesão, divulgado na passada quarta-feira, assinala um recuo do compromisso do Governo sérvio face à política externa da UE.
No final de setembro, um relatório preliminar do Parlamento Europeu também pedia a Bruxelas para suspender as negociações de adesão com a Sérvia enquanto Belgrado não impusesse sanções à Rússia.
A coincidir com esta polémica, Belgrado e Budapeste anunciaram recentemente que vão construir um troço de oleoduto de 128 quilómetros que fornecerá petróleo russo à Sérvia através do "oleoduto da amizade" (Druzhba), que atravessa a Hungria e liga a Rússia à Alemanha.
A construção da nova extensão, que ligará Algyo (sul da Hungria) a Novi Sad (capital da Voivodina sérvia) deverá prolongar-se por dois anos com um custo aproximado de 100 milhões de euros.
O projeto, já equacionado no passado, pretende reduzir a dependência da Sérvia face à Croácia nas importações de petróleo, pelo facto de a empresa petrolífera sérvia NIS continuar a receber petróleo russo a partir de um terminal croata no Adriático, através do oleoduto Janaf.
A Croácia, Estado-membro da UE à semelhança da Hungria, acedeu às sanções de Bruxelas que proíbem o envio de petróleo russo para países terceiros.
No entanto, e após semanas de acesas discussões, o Governo húngaro garantiu uma exceção de Bruxelas ao garantir que o petróleo encaminhado pelo oleoduto Druzhba está isento das sanções europeias.
Este oleoduto de 4.000 quilómetros, considerado um dos mais longos do mundo, transita da Rússia para a Alemanha através da Ucrânia e serve a Hungria, Eslováquia e República Checa.