O ministro da Justiça brasileiro, Sergio Moro, afirmou hoje que deixa o cargo caso se provem irregularidades suas nas mensagens trocadas com procuradores da Operação Lava Jato, no âmbito das denúncias do `site` The Intercept, mas reiterou a sua inocência.
"Estou absolutamente convicto das minhas ações como juiz. (...) Que o `site` [The Intercept] apresente tudo, para que a sociedade veja se houve alguma incorreção. Não tenho nenhum apego pelo cargo em si. Se houve irregularidade de minha parte, eu saio. Mas não houve. Eu sempre agi na lei, de maneira imparcial", declarou Moro, numa audiência pública no Senado, em Brasília.
Por várias vezes, ao longo da audiência, o atual ministro da Justiça acusou o portal de investigação jornalística The Intercept de ser "sensacionalista", apelando ainda a que o `site` divulgue integralmente o conteúdo das mensagens a que teve acesso.
Em resposta às acusações de sensasionalismo, o senador do Partido dos trabalhadores (PT) Jaques Wagner relembrou que o jornalista Glenn Greenwald, um dos fundadores do The Intercept, já foi distinguido com um prémio de jornalismo Pulitzer pelas suas reportagens que revelaram os programas de espionagem da Agência de Segurança Nacional norte-americana (NSA, na sigla em inglês).
"O ministro insiste em desqualificar o `site` e chamá-lo de sensacionalista. O `site` já ganhou o `Óscar do jornalismo` com a revelação dos `wiki-leaks`. O combate à corrupção é um pré-requisito para qualquer pessoa na vida pública. A melhor forma é responder ao que está sendo revelado", defendeu o senador do PT.
Jaques Wagner aproveitou ainda para questionar o atual ministro se também considerava sensacionalismo a divulgação das conversas entre os ex-Presidentes Lula da Silva e Dilma Rousseff, quando Moro ainda era magistrado na Operação Lava Jato.
"Foi uma medida sensacionalista divulgar conversas grampeadas [sob escuta] de Dilma? Colocar no pelourinho a dignidade de pessoas que deveria ser mantida em sigilo?", reforçou o deputado, numa alusão à decisão de Moro, enquanto juiz, retirou em 2016 o sigilo e divulgou conversas telefónicas entre os dois antigos chefes de Estado.
Por outro lado, a ex-juíza e senadora Selma Arruda, do Partido Social Liberal (PSL), composição política do Presidente Jair Bolsonaro, defendeu a atuação de Moro na Lava Jato, acrescentando que magistrados que trabalham com pessoas envolvidas na política são frequentemente acusados de parcialidade.
"Solidarizo-me com o senhor e com as acusações contra magistrados que trabalharam com pessoas que têm envolvimento com política. Essas acusações acontecem. Se você está a trabalhar e decreta prisão sobre um réu ou investigado que tem fama, a imprensa vem em cima de você", argumentou a senadora.
Desde o dia 09 de junho, o portal jornalístico The Intercept tem publicado uma série de reportagens sobre alegadas mensagens secretas obtidas de uma fonte anónima, que terão sido trocadas por Moro com procuradores da Operação Lava Jato, à época quando era o juiz responsável por analisar os processos da investigação em primeira instância.
Segundo o Intercept, as conversas lançam dúvidas sobre o desempenho de Moro nos processos da Lava Jato, nomeadamente no julgamento que levou à prisão do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Na audiência de hoje, Moro voltou a negar que tenha agido de modo parcial ou que tenha combinado ações com promotores responsáveis pelas investigações, embora tenha admitido que usava a aplicação Telegram para falar com procuradores, alegando que é normal os juízes conversarem com as partes fora dos autos do processo.
Em relação às mensagens obtidas pelo The Intercept, o ministro insistiu que "não se lembra", e que não reconhece a sua autenticidade, porque não foram alvo de perícias e poderão ter sido "total ou parcialmente editadas".