Lisboa, 11 dez (Lusa) - Mais de 200 cientistas, entre os quais o português Agostinho Antunes, sequenciaram e compararam os genomas completos de 48 espécies de aves, o que permitiu perceber como os pássaros evoluíram e adquiriram características como a visão a cores.
"Esta investigação pretendeu desvendar muitos dos mistérios relacionados com a evolução das aves", disse hoje à agência Lusa o investigador Agostinho Antunes, que liderou a equipa de nove investigadores do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR) da Universidade do Porto.
Ao longo de quatro anos, cientistas de 80 instituições de 20 países sequenciaram, montaram e compararam os genomas completos de espécies de aves, como o corvo, o pato, o falcão, o periquito, o íbis, o pica-pau, a águia e a coruja, representando todos os principais ramos das aves modernas.
Agostinho Antunes salientou a importância desta investigação para compreender "melhor a saúde humana ao nível de vírus" e "processos de metabolização de toxinas".
Segundo o coordenador do grupo português de trabalho, o estudo visou "compreender muitas das alterações morfológicas, comportamentais e adaptativas que ocorreram ao nível do DNA destes animais" e a relação filogenética entre as diferentes espécies de aves.
O trabalho permitiu "descobrir aspetos muito interessantes da biologia das aves", nomeadamente como "perderam os dentes, como é que se efetuaram as alterações de comportamento ao nível do canto e das vocalizações que fazem, que são regulados no cérebro e têm semelhança, em vários aspetos, com a linguagem e o processo de expressão e de comunicação dos humanos", contou.
A investigação, publicada hoje na revista Science, revela também que o sistema pulmonar das aves evoluiu, tal como os seus cromossomas sexuais.
Agostinho Antunes disse que foram ainda identificadas outras alterações, como a adaptação do seu esqueleto para o voo.
Os resultados foram obtidos utilizando tecnologias de sequenciação de DNA genómico e ferramentas computacionais de última geração.
Comparando com os genomas de répteis, os das aves "têm menos sequências repetitivas de DNA e perderam centenas de genes durante sua evolução, após se separarem de outros répteis".
Muitos desses genes têm funções essenciais em seres humanos, como na reprodução, formação do esqueleto e sistema pulmonar, explicou.
Em relação aos mamíferos, a taxa de evolução dos genes nas aves é mais lenta.
O cientista português esclareceu que genomas das aves modernas contam uma história de como elas surgiram e evoluíram após a extinção em massa que dizimou os dinossauros há 66 milhões de anos.
Apenas algumas linhagens de aves sobreviveram a essa extinção, dando origem às mais de 10.000 espécies que compõem 95% de todas as que existem atualmente.