Sentença de Marine Le Pen repudiada por Musk e extrema-direita europeia

por RTP
Elon Musk num comício de apoio a um candidato conservador no Wisconsin, EUA, em março de 2025 Vincent Alban - Reuters

O patrão da Tesla, acusado de interferência na política europeia, por apoiar a extrema-direita na Alemanha, considerou a condenação de Marine Le Pen, esta segunda-feira, em França, como "um abuso do sistema judiciário". Já o Kremlin lamentou uma "violação das normas democráticas" e os líderes da extrema-direita húngara, italiana, espanhola e holandesa, cerraram fileiras em torno da francesa.

Marine Le Pen foi condenada por fraude com fundos europeus, incluindo a dois anos com pulseira eletrónica, e ficou impossibilitada de concorrer às presidenciais francesas previstas para 2027.

A sentença levou a denúncias de abuso do poder judicial e a manifestações oficiais de apoio à líder da direita radical de França.

"Je suis Marine!" escreveu na rede social X o primeiro-ministro húngaro, Viktor Órban, para quem Marine le Pen integra agora a lista dos "patriotas" vítimas de uma cabala internacional contra quem ousa lutar contra a globalização e a imigração, como Donald Trump ou o italiano Matteo Salvini.

Salvini, atual vice-primeiro-ministro de Itália, ele próprio a braços com processos a decorrer na Justiça, assumiu a condenação como um ataque às tendências políticas de extrema direita europeias.

"Não seremos intimidados, não vamos parar: a todo vapor minha amiga!", escreveu, denunciando a "declaração de guerra de Bruxelas", que acusa de estar na origem da condenação.

O apelo ao combate veio também do líder da direita espanhola representada pelo Vox, Santiago Abascal. "Não conseguirão calar a voz do povo francês!" advertiu.

Nos Países-Baixos, o líder da extrema-direita Geert Wilders assumiu-se "chocado" por um julgamento "incrivelmente severo".

"Apoio-a a 100 por cento e estou convencido que ela irá ganhar na apelação e que se tornará presidente de França", escreveu no X.

George Simion, candidato presidencial da Roménia nacionalista, considerou que "perseguir ou aniquilar um oponente político por quaisquer meios vem direitinho dos manuais de instruções de regimes totalitários. Isto sucedeu hoje em França".

O líder político dos Sérvio da Bósnia, Milorad Dodik, escreveu que "os tribunais tornaram-se instrumentos daqueles que temem a democracia". Ele próprio objeto de um mandado de detenção por ataque à ordem constitucional, assinou também a sua mensagem com a frase "Je suis Marine".

Exceção no coro indignado, o partido Alternativa para a Alemanha, AfD, escusou-se a reagir
, talvez devido ao afastamento do partido do Rassemblement Nacional, de Le Pen, devido a diversos escândalos a envolver a AfD.

Em Portugal, André Ventura reagiu olhando para "casos" de Montenegro.
"Ativismo judicial"

Fora da Europa, a sentença foi também severamente criticada. Pela voz do porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, Moscovo considera que se inscreve num quadro de abuso ao serviço de interesses políticos.

"Bem, na verdade, cada vez mais capitais europeias estão a enveredar pela via do atropelamento das normas democráticas. Claro que não queremos interferir nos assuntos internos da França, nunca o fizemos... Mas, em geral, as nossas observações do que está a acontecer nas capitais europeias mostram que não há qualquer hesitação em ir além do quadro da democracia durante um processo político", reagiu Peskov.

A decisão indignou também o ex-presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que arrisca 40 anos de prisão por golpe de Estado e que denunciou a sentença como "ativismo judicial de esquerda", traçando paralelos com o seu próprio caso.

Em 2023, o ex-presidente do Brasil, foi proibido de concorrer a eleições até 203 por abuso de poder antes do escrutíneo de 2022, quando chamou embaixadores para colocar em dúvida a legitimidade do sistema eleitoral brasileiro. O ex-presidente do Brasil foi entretanto acusado na semana passada de tentativa de golpe de Estado, relativa à revolta dos seus apoiantes em janeiro de 2023, quando invadiram o Planalto, a sede do poder político do país, em Brasília. Jair Bolsonaro diz-se inocente e vítima de perseguição política.

"Onde quer que a direita esteja presente, a esquerda e o sistema irão trabalhar para tirar seus oponentes do jogo”, afirmou Bolsonaro em entrevista.

“Aqui e em França, isto é pura guerra jurídica”, acrescentou. “Parece que este movimento está se espalhando pelo mundo. A esquerda encontrou uma maneira fácil de se perpetuar no poder usando o ativismo judicial”.

Já o multimilionário Elon Musk apontou o dedo à "esquerda radical" e antecipou uma "retaliação", como sucedeu com os "ataques judiciários" contra Donald Trump.

"Quando a esquerda radical não consegue vencer por meio de um voto democrático, ela abusa do sistema judiciário para deter os seus opositores", reagiu Musk. "É o seu modo de operar no mundo inteiro", escreveu na sua rede social X.

Noutro comentário, o norte-americano, muito próximo do atual presidente dos Estados Unidos, acrescentou um aviso. "Irá acontecer uma retaliação, como com os ataques judiciários dirigidos contra o presidente Trump".

Diversos casos judiciais levantados contra Donald Trump, e que este classificou como "caça às bruxas", foram arquivados com a sua eleição como 47º presidente dos EUA. No caso de pagamentos à atriz de filmes pornográficos Stormy Daniels, o juiz Juan Merchan decidiu manter a condenação por 34 crimes mas sem quaisquer tempo de prisão, liberdade condicional ou multas.

A Administração Trump tem estado em guerra com o sistema judicial que tenta travar a aplicação de diversas decisões presidenciais, sobretudo quanto à deportação de migrantes ilegais.

Elon Musk, a exemplo do que denunciou nos Estados Unidos como agenda da esquerda radical, tem sido uma voz ativa na política europeia, tendo apoiando ultimamente o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha, AfD, nas recentes eleições legislativas naquele país.

Já as críticas expressas em fevereiro pelo vice-presidente dos EUA, JD Vance, às orientações políticas europeias, foram lembradas na reação de Donald Trump Jr, filho do atual presidente. "A França está a meter le Pen na prisão e a proibi-la de concorrer?! Estão a tentar dizer que (JD Vance) tinha razão quanto a tudo?".

com agências
Tópicos
PUB