Arábia Saudita, Egito, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Iémen e Líbia anunciaram esta segunda-feira o corte de relações diplomáticas e o fim das ligações aéreas e marítimas com Doha. Acusam o país de ingerência e apoio ao terrorismo e de interferência em “assuntos internos”. Na origem da polémica está um ataque hacker à agência de notícias de Doha que elevou a tensão no Golfo nas últimas duas semanas.
"O Estado do Qatar tem sido alvo de uma campanha de mentiras que atingiram um ponto de fabricação completa. Esta campanha revela o plano oculto de enfraquecer o Estado do Qatar", pode ler-se no comunicado do Governo, citado pela Al Jazeera.
Voos cancelados
Na sequência deste corte diplomático, três países do Golfo - Arábia Saudita, Bahrein e Iémen - exigem a saída de cidadãos e responsáveis do Qatar em duas semanas.
As companhias Emirates, flydubai e Saudia também já anunciaram a suspensão de voos com origem e destino do Qatar. Em resposta, a Qatar Airways também já anunciou a suspensão de todos os voos para a Arábia Saudita.
Tensão no Golfo
O corte diplomático sem predecentes acontece num contexto de tensão crescente entre os países do Golfo Pérsico. Há duas semanas, os quatro países da região bloquearam o acesso a vários sites de notícias do país, incluindo a Al Jazeera, sediada em Doha.
Na origem da polémica esteve um ataque hacker à Qatar News Agency que levou à publicação de alegadas críticas à política externa dos Estados Unidos pelo emir do Qatar, o sheik Tamim bin Hamad al-Thani.
Government Communications Office Statement Regarding Hacking of #Qatar News Agency: pic.twitter.com/gRH56n9vEm
— سفارة دولة قطر-لندن (@QatarEmbassyUK) May 24, 2017
As notícias difundidas pela agência atribuiam ao sheik do Qatar várias críticas ao isolamento regional do Irão e de Israel, e à necessidade de contextualizar o Hamas e o Hezbollah como "movimentos de resistência".
Segundo as informações falsas, o responsável teria também criticado Donald Trump por altura da visita à Arábia Saudita, sugerindo que o líder norte-americano não permaneceria por muito mais tempo no poder.
No Twitter, propagou-se a notícia que o ministro dos Negócios Estrangeiros do Qatar teria anunciado a retirada de vários embaixadores de países árabes, uma informação também plantada por hackers e depois difundida pela Sky News Arabia e a Al Arabiya, dois canais predominantes na Arábia Saudita, que continuaram a emitir as notícias falsas mesmo depois dos esclarecimentos.
Na sequência deste incidente, o Governo do Qatar lançou uma investigação sobre o ataque, que não foi reinvindicado por nenhum país ou organização, mas o conflito diplomático com Riade acabou por se adensar, resultando no corte de relações esta segunda-feira.
Rex Tillerson, secretário de Estado norte-americano, já pediu aos Estados do Golfo que se mantenham "unidos" na luta contra o terrorismo.
Hashem Ahelbarra, correspondente da Al Jazeera para assuntos do Médio Oriente, considera que esta é "a mais grave crise política da região em vários anos".