Segurança máxima na Índia em torno da sentença do guru Ram Rahim Singh

por RTP
Foram erguidas barreiras em todas as estradas em torno da cidade de Rohtak, na iminência da leitura da sentença a um guru indiano, RAm Rahim Singh, pela violação de duas seguidoras há 15 anos. As escolas foram encerradas e detidos os principais membros da seita fundada por Singh. EPA - Lusa

Um juiz indiano condenou esta segunda-feira o guru Gurmeet Ram Rahim Singh a 10 anos de prisão pela violação de duas das suas seguidoras num caso que remonta a 2002.

Os advogados de Ram Rahim tinham pedido uma sentença mais leve - o mínimo é de sete anos de prisão - devido ao trabalho filantropo da seita fundada por Singh, a Dera Sacha Sauda. A Procuradoria pedia prisão perpétua.

Para esta leitura de sentença o governo do estado de Haryana assumiu medidas de controlo extraordinárias, para impedir os apoiantes de Singh de protestarem violentamente contra a decisão, como sucedeu quando ele foi condenado sexta-feira.

A primeira medida foi a de pronunciar a sentença dentro da própria prisão de Sunaria em Rohtak, Haryana, onde Singh está detido, em vez de o levar para um tribunal local, como sucedeu sexta-feira passada.

O local, em Panchkula, rapidamente rodeado de uma multidão calculada em 200 mil dos seguidores do guru, de 50 anos. A cidade estava cheia de um milhão e meio de pessoas em apoio a Singh.

Ao saber que o seu líder espiritual tinha sido considerado culpado dos crimes, a turba revoltou-se, incendiando estações de serviço e destruindo e pilhando comunidades inteiras.

A violência alastrou e resultou em 38 mortos e mais de 200 feridos no estado de Haryana.

Foi evidente a falta de preparação das autoridades para lidar com os motins, já que o uso de canhões de água e de gás lacrimogéneo se mostrou absolutamente ineficaz.
Estradas e escolas fechadas, milhares de polícias nas ruas
Esta segunda-feira, mais experiente, o governo local transportou o juiz até à prisão e esta foi rodeada por milhares de soldados e de polícia anti-motim.

As estradas em torno de Rohtak foram cortadas com arame farpado e o exército colocado de prontidão para intervir no espaço de uma hora, em caso de problemas.

Os grandes ajuntamentos públicos foram proibidos na cidade, os habitantes aconselhados a manter-se em casa e as escolas e colégios mantiveram-se encerrados. A policia da cidade avisou de que poderia disparar ao menor sinal de distúrbios.

"Temos um arranjo a vários níveis para que ninguém possa chegar ao local (à prisão) ou à própria cidade de Rohtak", explicou o vice inspetor geral da polícia Navdeep Singh Virk à NDTV.

"Tenho plena confiança de que tudo se irá passar pacificamente e que não irá ocorrer nenhum incidente", acrescentou.

A polícia bloqueou estradas e pediu à população para se manter em casa enquanto era lida a sentença do gruru Ram Rahim Singh na prisão local de Rohtak Foto: Reuters
O guru do bling
Durante o fim de semana, os principais líderes da seita foram colocados sob detenção como uma medida de precaução.

Mais de 100 sedes da seita foram alvos de busca e seladas em todo o estado de Haryana, uma região sobretudo rural no norte da Índia, de onde é oriundo Singh e que congrega a maioria dos seus seguidores. A polícia encontrou paus e cocktails molotov prontos a usar.

Em Sirsa, a principal base da seita, localizada numa propriedade de 400 hectares, está cercada pela polícia, que procura convencer cerca de 30.000 devotos a abandonar o local e a regressar a casa.

Alguns milhares já foram persuadidos a sair, em autocarros providenciados pelo governo e a policia nega rumores de que esteja a preparar-se para montar um assalto para evacuar a propriedade.

Este domingo, o primeiro ministro indiano, Narendra Modi, avisou que "a violência não é aceitável na nação, sob nenhuma forma". Contudo o seu Governo está debaixo de fogo por não ter prevenido a revolta e ter permitido que Singh viajasse num helicóptero luxuoso para a prisão.

Os seguidores de Ram Rahim Singh, conhecido pelo Guru do bling, devido à sua preferência pelas roupas cheias de joias e pelas suas motas de grande potência especialmente modificadas, insistem na sua inocência.

"O nosso pai nunca poderia cometer nenhum pecado", garante um fiel, numa loja de Sirsa amplamente decorada com imagens de um barbudo Ram Rahim Singh.

Na Índia de 1.2 mil milhões de pessoas, a figura do guru consegue ser controversa, sobretudo  para a comunidade Sikh, que o acusa, entre outros cirmes, de perverter os seus escritos e de assumir a imagem de um dos seus líderes espirituais do século XVII num filme estreado em Nova Deli em 2015, intitulado "O Mensageiro de Deus".
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