Segundo grupo "francês" retirado de Wuhan acusa negativo ao coronavírus

por RTP
Jean-Paul Pelissier - Reuters

Duas dezenas de franceses e cidadãos de outros países foram repatriados durante o fim de semana de Wuhan, a cidade chinesa que é o foco principal do último surto de coronavírus, numa ação concertada pelo Eliseu. Chegados a território francês e submetidos a exames clínicos, comprovou-se que não estão infetados com o vírus, apesar de inicialmente terem sido detetados sinais compatíveis com doença.

De acordo com os protocolos de segurança internacionais que estão a ser adotados para conter a epidemia do coronavírus de Wuhan (2019-nCoV), o grupo que aterrou este domingo na base aérea de Istres, sul de Marselha, viajava no segundo avião que se deslocou à China para repatriar cidadãos franceses que pretendiam deixar o país.

Respeitando procedimentos anunciados pelo Ministério da Saúde, o grupo permaneceu na base aérea até que fossem concluídos os exames à presença do coronavírus. Referiu então a ministra Agnes Buzyn que os passageiros suspeitos de serem portadores do vírus ficariam na base aérea “sob vigilância de médicos militares”, medida com vista a prevenir qualquer possibilidade de contágio.O novo coronavírus (2019-nCoV) foi detetado em dezembro passado em Wuhan, capital da província de Hubei (centro da China).

Um primeiro grupo retirado por ação do governo francês tinha já aterrado em França na sexta-feira. De acordo com a lista de embarque, neste segundo grupo de repatriados, 258 no total, havia 65 franceses e passageiros de outras 29 nacionalidades. Entre estes, um grupo de 10 mexicanos.

Segundo os planos estabelecidos durante o fim de semana, tendo o resultado das análises sido negativo, os repatriados devem agora seguir para um centro de férias na região sul de França, onde se encontram já os primeiros 100 franceses que chegaram na sexta-feira.

Uma alternativa é o internamento na escola de bombeiros de Aix-en-Provence. A questão prende-se, seguramente, com o período de incubação do coronavírus, que pode ir até às duas semanas. Dessa forma, ainda que não apresentem sintomas ou acusem nas análises, os repatriados têm ainda assim uma forte hipótese de estar contaminados com esta terceira estirpe.

Numa contabilidade sempre provisória, França mantém para já um total de seis casos confirmados de coronavírus, sendo um dos poucos países europeus a registar a doença que já chegou aos Estados Unidos e Canadá.
China vive dias difíceis
Na China, a situação é mais complexa, com o surgimento diário de novos casos e mortes devido à doença, que incide particularmente em idosos e doentes crónicos. Esta segunda-feira, Pequim atualizou a lista de mortos para 362, tendo os infetados superado a fasquia dos 17 mil.

Além do território continental da China e regiões administrativas de Macau e Hong Kong, há casos confirmados de coronavírus “2019-nCoV” em 24 outros países.

Este fim de semana as Filipinas anunciaram a morte de um cidadão chinês vítima de pneumonia causada pelo coronavírus, naquela que foi a primeira vítima mortal registada fora da China.

Num primeiro momento, a Organização Mundial de Saúde (OMS) mostrou-se reticente em declarar “situação de emergência internacional de saúde pública” mas, na última quinta-feira, perante a rápida propagação do coronavírus, Tedros Adhanom Ghebreyesus, líder da organização, marcou uma conferência para declarar essa situação de emergência internacional.

Uma das consequências do vírus é assinalada particularmente no andamento das bolsas e nos mercados internacionais, com o grosso das perdas a ser sentido por Pequim. Já esta manhã, Tedros Adhanom Ghebreyesus veio a público com uma recomendação muito particular: não são necessárias medidas excepcionais que interfiram com as “viagens e o comércio” a nível internacional.

“Apelamos a todos os países para que implementem decisões baseadas em provas consistentes (…) a conectividade global é uma fraqueza neste surto, mas é também a nossa maior força”, declarou o diretor-geral da OMS.
Moscovo fecha-se aos chineses

O apelo de Tedros Adhanom Ghebreyesus surge num momento em que Moscovo se prepara para expulsar do país todos os infetados estrangeiros e Carrie Lam, chefe do executivo de Hong Kong, decidiu encerrar a partir da meia-noite grande parte das ligações do território com a China Continental.

De 13 ligações, apenas três se manterão viáveis, de acordo com a Reuters. A decisão foi anunciada por Carrie Lam, no que é uma tentativa de impedir a disseminação para o território do novo coronavírus.

A chefe do governo tem vindo a ser pressionada por médicos e enfermeiros, que ameaçam com uma greve se não forem encerradas todas as ligações ao continente. Carrie Lam nega, contudo, que a decisão se deva a estas pressões.

Mais drástica parece ser a decisão de Moscovo para lidar com a epidemia: expulsar os estrangeiros que acusem positivo para o coronavírus. Na semana passada, o Kremlin tinha já encerrado as fronteiras com a China, num total de 4.250 quilómetros, diminuindo ainda ligações ferroviárias com o gigante asiático. Foi ainda aplicada uma restrição de voos entre os dois países e a recuperação do sistema de vistos para a entrada de cidadãos chineses na Rússia.

“[O coronavírus] foi agora acrescentado à lista de doenças particularmente perigosas. Isto permite-nos deportar estrangeiros infetados e implementar medidas especiais como isolamento e quarentena”, revelou o primeiro-ministro, Mikhaïl Michoustine, após uma reunião ministerial.

O anúncio do chefe do executivo russo chega num momento em que estão registados no país duas pessoas infetadas com o coronavírus 2019-nCoV. Trata-se de dois chineses colocados em isolamento, um deles num hospital da região de Tioumen, nos Urais, o outro numa unidade de Tchita, no Extremo-Oriental.
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