O militante turco de extrema-direita, Mehmet Ali Agca, afirmou que o atentado contra a vida de João Paulo II, cometido em 13 de Maio de 1981, lhe foi encomendado por um padre às ordens do cardeal Casaroli, a segunda figura mais importante na hierarquia do Vaticano.
Agca falava à cadeia de televisão turca TRT, desmentindo também todas as conjecturas sobre envolvimentos da CIA, do KGB ou dos serviços secretos búlgaros no atentado. A pista soviético-búlgara, afirmou, foi alimentada como arma contra a URSS, para acelerar a sua crise.
Os quatro tiros disparados contra o papa na Praça de São Pedro atingiram-no nos intestinos (duas balas), na mão esquerda e no braço direito. No entanto, o papa foi rapidamente socorrido e pôde recuperar. Em 1983 visitou Agca na cadeia, em sinal de perdão. Segundo agora afirma o autor do atentado, João Paulo II não lhe fez qualquer pergunta, porque "sabia muito bem que o Vaticano estava por trás de tudo".
Ali Agca era um aventureiro, militante da organização da extrema-direita nacionalista turca "Lobos Cinzentos". Fora detido e condenado pelo assassínio do editor do jornal turco de esquerda Milliyet, fugira da cadeia e exilara-se na Bulgária, o que parecia dar crédito à famosa "pista búlgara" para explicar o atentado contra o papa.
A explicação corrente do atentado colocava o autor material sob as ordens do adido militar búlgaro em Roma, Zilo Vassilev, e do mafioso turco Bekir Celenk, que teria dado ainda na Bulgária as primeiras ordens a Agca no sentido de cometer o atentado.
O autor do atentado foi condenado a prisão perpétua, cumpriu 19 anos de prisão e foi indultado em 2000. Depois disso, viu ser-lhe recusada a cidadania polaca e anunciou ao diário italiano La Repubblica a sua conversão à religião católica e intenções de fazer-se baptizar e de pedir a cidadania portuguesa.
Nessa entrevista ao diário italiano, de 13 de Maio do ano passado, Agca recusara-se ainda a falar sobre o atentado, mas acrescentara enigmaticamente que os seus advogados estavam em contacto com a Cúria Romana.
Para além das várias versões que Agca já tem apresentado sobre o atentado, deixa dúvidas a sua omissão em explicar de que modo e por que motivo um homem de mão de Casaroli lhe teria revelado quem era o seu mandante.