O ministro alemão das Finanças voltou a ser apanhado pelas câmaras em pose comprometedora. Depois da gaffe com Vítor Gaspar, Wolfgang Schäuble foi no debate de anteontem filmado a jogar sudoku na mesma sessão do parlamento alemão em que se jogava o futuro da Grécia. A imprensa não o poupa
Primeira hipótese: um problema com as câmaras Se o problema de Schäuble é com as câmaras, tudo se resolve restringindo a liberdade de movimentos dos jornalistas. Assim, o responsável da captação daquelas palavras embaraçosas dirigidas ao mnistro português viu ser-lhe vedado durante um mês o acesso à sala de renuiões ministeriais que passava por ser o "local do crime". E uma restrição mais geral, aplicável a todos os repórteres de imagem, foi posta na ordem do dia e parece já estar na forja.
Após a cena de segunda feira, também a presidência do parlamento alemão escreveu à ARD, que tinha captado e emitido as imagens, lembrando que "é proibida a filmagem não autorizada de documentos pessoais de forma a estes serem legíveis". A estação de televisão comprometeu-se a não mostrar novamente as imagens que, segundo o tablóide Bild, "indignaram os alemãs" e mandou mesmo retirá-las do seu site.
Mas, no quadro geral, foi o ministro que teve de reagir de forma defensiva, evitando reagir aos pedidos de esclarecimento do Bild, e deixando responder pelos serviços do seu Ministério que "também Schäuble merece uma pausa durante o trabalho - tal como os trabalhadores normais".
Sarcasmos e crítica substantivaMas a imprensa alemã não poupa Schäuble. O conspícuo Süddeutsche Zeitung limita-se a emitir alguns sarcasmos sob a forma de problemas e soluções de um jogo de sudoku. Entre estes e estas, um é o cenário de a Grécia ser salva, mas a bolha imobiliária rebentar em Portugal e Espanha.
Para o cronista de DER SPIEGEL, Thomas Darnstädt, o problema de Schäuble não é com as câmaras e sim com a democracia parlamentar, que ele mostrou desprezar. Para Darnstädt o problema é mais fundo que o da simples inabilidade para mostrar discrição e compostura perante as câmaras: "A questão que Schäuble - e não só ele - levanta vai na realidade aos fundamentos da democracia da Constituição. Será ainda o parlamento a instituição adequada paratomar decisões, pirmeiro importantes, segundo rápidas, terceiro discretas, para salvar o euro? (...) Terão os mercados dado cabo da democracia?"