Scaramucci desmente querelas internas na Casa Branca após a sua nomeação

por Graça Andrade Ramos - RTP
Anthony Scaramucci, o novo diretor de comunicação da Casa Branca, no seu primeiro briefing com os jornalistas Jonathan Ernst - Reuters

As primeiras palavras do novo diretor de comunicação da Casa Branca à imprensa foram de apaziguamento e de esclarecimento sobre o futuro. "Quero fazer com que o nosso modelo cultural seja promover o programa do Presidente antes de qualquer outra coisa", disse. "O navio vai na boa direção, basta apenas dizer claramente que direção é essa".

"Se há pequenas fricções dentro da Casa Branca por causa disso, isso não é grave", disse ainda Scaramucci, reconhecendo implicitamente que a sua escolha provocou algum desagrado no seio da equipa de Trump.

O polémico porta-voz para a imprensa, Sean Spicer, demitiu-se após o anúncio da nomeação do novo diretor.

Scaramucci preferiu adotar um tom leve sobre o assunto. "Gosto da equipa. Permitam-me reformular. Adoro a equipa", referiu.

A mensagem de fundo do novo diretor esteve a par com uma mensagem de Trump. "Nós conseguimos tanto e recebemos tão pouco crédito", lamentou o Presidente.

No mesmo comunicado, agradeceu os serviços de Spicer. Na Casa Branca o diretor de comunicação gere a estratégia de imprensa, enquanto o porta-voz está encarregue dos contactos diários com os jornalistas. Desde maio que as duas funções eram desempenhadas em acumulação pelo porta-voz, Sean Spicer, depois da demissão de Michael Dubke.

"Estou grato pelo trabalho de Sean ao serviço da minha Administração e do povo americano. Desejo-lhe continuado sucesso à medida que ele prossegue para seguir novas oportunidades. Reparem bem nas suas ótimas audiências", afirmou o Presidente.

A mensagem foi lida pela nova porta-voz para a imprensa, Sarah Huckabee Sanders, filha do antigo governador de Arkansas e nomeada após a demissão de Sean Spicer, de quem era número dois.

Spicer, que entrou em rota de colisão com os jornalistas logo no início de funções e que mantinha desde então uma guerra aberta com vários media da capital, recusou o convite de Trump para se manter no cargo, apesar de se manter em funções até setembro.

A contínua batalha de Spicer com a imprensa tornou os briefings da Casa Branca em programas de grande audiência. A sua saída era há muito aguardada e um artigo de opinião da Fox News refere mesmo que, esta sexta-feira, os jornalistas conseguiram aquilo que mais queriam a seguir à destituição de Trump, ou seja, o "escalpe" de Spicer.

Sarah Sanders, a nova porta-voz da Casa Branca para a imprensa. após a demissão de Sean Spicer Foto: Reuters
Nova era
A opinião unânime é a de que, com Scaramucci, a comunicação da Casa Branca irá mudar e entrar provavelmente num período menos turbulento. A escolha é referida como uma "grande alteração na equipa" de Trump. O seu curriculum já está a ser esmiuçado, incluindo frases críticas que proferiu sobre Trump quando apoiava outros candidatos à nomeação republicana para a presidência.Scaramucci, apoiante de sempre do Partido Republicano e angariador de fundos para várias candidaturas, tem 52 anos e é um tubarão de Wall Street ligado à Goldman Sachs, tendo fundado em 2005 uma das mais influentes firmas de investimento norte americanas, a Skybridge Capital.

Tem ainda uma grande experiência como comentador de televisão por cabo, sobretudo na Fox News, tendo conseguido numa ocasião que a CNN se retratasse de uma notícia sobre Finanças. A vitória não lhe subiu à cabeça, acabando por aceitar as desculpas dadas e "esquecendo" o assunto.

Nestas funções de comentador televisivo, Scaramucci tem sido um árduo defensor da atual Administração e do Presidente, conseguindo apesar disso manter contactos de proximidade com muitos jornalistas, incluindo entre os media que Trump classifica como "notícias falsas". Um feito conseguido aparentemente graças à sua simpatia e à  forma como escapa às perguntas difíceis.
Hábil a esgrimir argumentos
Um exemplo dessa habilidade surgiu logo esta sexta-feira, quando respondeu no seu primeiro briefing a perguntas diretas sobre se apoiava algumas das declarações mais polémicas de Trump, como a dos alegados votos ilegais para a rival de Trump, Hillary Clinton.

"É uma pergunta pouco injusta porque não estou a par em tudo isso", respondeu Scraramucci. "Estou candidamente a dizer isso".

"O Presidente disse que três milhões de pessoas votaram ilegalmente e não há provas disso. Apoia essa declaração ou não?", insistiu o repórter.

"Ok", anuiu Scaramucci. "Por isso se o Presidente o diz, deixem-me pesquisar sobre o assunto. Acredito que existe alguma verdade nisso. Penso que já alguma vez se descobriu - o Presidente faz algumas afirmações, alguns de vocês nos media pensam que não são verdade e acaba por se perceber que é mais perto da verdade do que as pessoas pensam, por isso deixem-me fazer algum trabalho de casa e voltarei a falar disso", concluiu.

Amigo pessoal de Donald Trump Jr, formado em Direito por Harvard, Scaramucci era um nome querido desde o início por Trump para a sua equipa. Apesar disso, a sua nomeação provocou um pequeno terramoto e lançou o burburinho em Washington, entre rumores de forte descontentamento no seio da equipa da Administração pela escolha.
Frente unida
Como quase tudo na Administração Trump, a nomeação de Scaramucci fica envolta em polémica. Não só pela demissão de Spice, que terá dito ao Presidente que este estava a cometer um enorme erro, mas pela forma como terá sucedido: de surpresa e nas costas do seu chefe de gabinete, Reince Priebus, que terá relações problemáticas com o novo diretor, de Sean Spicer, que efetivamente estava a cumprir em acumulação as funções de diretor de comunicação e que poderia aspirar ao lugar, e do próprio estratega da Casa Branca, Steve Bannon. De acordo com a CNN, o Presidente terá combinado a contratação de Scaramucci com a filha Ivanka e o genro Jared Kushner, desde sempre apoiantes do filho de imigrantes italianos. Quinta-feira já estaria tudo decidido.

Alegadamente, afirma o New York Times, Trump estava a ficar impaciente com a demora de Priebus em nomear um substituto de Dubke e resolveu por isso tomar o assunto nas próprias mãos ultrapassando o seu chefe de gabinete. A confirmar-se que tudo foi combinado à sua revelia, será mais um sinal de perda de influência de Priebus junto do Presidente relativamente a Ivanka Trump e a Jared Kushner.

A nomeação de Scaramucci é ainda uma derrota para Priebus noutras frentes. Spicer foi uma escolha pessoal do chefe de gabinete, alegadamente pouco apreciada por Trump e a sua demissão fá-lo perder controlo de uma área crucial da Administração, já que Scaramucci não está sob a sua alçada.

A todos estes rumores a Casa Branca responde com uma frente unida. Não só Scaramucci afirma que "adora" a equipa, como Spicer terá oficialmente afirmado que acredita que o novo diretor fará um "grande lugar". Também Priebus se junta ao coro, dizendo que o apoia "a 100 por cento", acrescentando que se conhecem "há muito tempo" e são " bons amigos".
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