Praga, 23 dez (Lusa) -- O Presidente de França, Nicolas Sarkozy, pediu hoje à Turquia respeito pelas convicções francesas, após a forte reação de Ancara à votação em França de uma lei condenando a negação do genocídio arménio.
"Eu respeito as convicções dos nossos amigos turcos, é um grande país, uma grande civilização, eles devem respeitar as nossas", declarou Sarkozy à imprensa francesa em Praga, onde se deslocou para assistir às cerimónias fúnebres do antigo Presidente checo Vaclav Havel, citado pela agência noticiosa francesa APF.
"A França não dá lições a ninguém, mas a França também não as recebe", disse.
Depois de ter anunciado na quinta-feira o congelamento da cooperação política e militar com a França, após a aprovação pelo parlamento francês do projeto-lei que condena a negação do genocídio arménio, a Turquia subiu hoje de tom.
O primeiro-ministro turco, Recep Tayyipe Erdogan, acusou o Presidente francês de jogar com "o ódio ao muçulmano e ao turco" com fins eleitorais e a França de ter cometido "um genocídio" na Argélia.
Numa conferência de imprensa em Istambul, Erdogan apelou à França para assumir o seu próprio passado.
"Calcula-se que 15 por cento da população argelina foi massacrada pelos franceses a partir de 1945. Trata-se de um genocídio", declarou, numa referência às violências durante o processo de independência da Argélia do domínio francês, entre 1945 e 1962.
"Se o Presidente francês Sarkozy não sabe que houve um genocídio, ele pode perguntar ao pai Pal Sarkozy (...) que foi legionário na Argélia nos anos 1940´", adiantou. "Tenho a certeza que ele (Pal Sarkozy) tem muito a dizer ao filho sobre os massacres cometidos pelos francesas na Argélia", disse ainda.
O texto aprovado pela Assembleia Nacional prevê um ano de prisão e 45 mil euros de multa pela negação de um genocídio reconhecido pela lei francesa, que legitima a existência de dois genocídios, de arménios e de judeus, ocorridos no século XX durante as duas guerras mundiais.
Paris reconheceu a existência do genocídio arménio, que terá provocado 1,5 milhões de mortos entre 1915 e 1917, pela lei de 20 de janeiro de 2001.
Apesar de reconhecer que até 500 mil pessoas terão sido mortas nesse período, a Turquia considera que foram vítimas do contexto em que decorreu a Primeira Guerra Mundial e não de um genocídio premeditado.