O primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, garantiu hoje estar tranquilo em relação ao processo judicial que envolve a mulher, disse estar em causa uma "montagem grosseira" e considerou estranho haver desenvolvimentos no caso em plena campanha eleitoral.
"Ambos estamos absolutamente tranquilos. Não há nada por trás desta acusação. Só uma montagem grosseira impulsionada pelas associações de extrema-direita que fizeram a queixa", escreveu Pedro Sánchez, numa "carta aos cidadãos" publicada na rede social X.
A mulher do primeiro-ministro espanhol, Begoña Gómez, foi hoje chamada a prestar declarações em tribunal "na qualidade de investigada" num processo de possível tráfico de influências, segundo uma decisão do juiz que tutela o processo citada por vários meios de comunicação.
Sánchez garantiu, no texto que publicou hoje, que ele e a mulher só souberam desta decisão do juiz pela comunicação social e destacou que é tomada e conhecida "apenas cinco dias antes" das eleições europeias, "o que é estranho", acrescentando que deixa a retirada de conclusões aos espanhóis.
Um tribunal de Madrid revelou em 24 de abril a abertura de um "inquérito preliminar" por alegado tráfico de influências e corrupção de Begoña Gomez, na sequência de uma queixa de uma organização conotada com a extrema-direita baseada em alegações e artigos publicados em páginas na Internet e meios de comunicação digitais.
No dia em que se soube da abertura do inquérito, Pedro Sánchez escreveu também uma "carta aos cidadãos" em que disse que ponderava deixar o cargo de primeiro-ministro. Após cinco dias de reflexão, decidiu continuar à frente do Governo espanhol.
Sánchez disse que ponderava deixar o cargo por causa da "máquina de lodo" da direita e extrema-direita, afirmando-se vítima, ele a mulher, há anos, de campanhas de desinformação.
No texto de hoje, garante que a decisão de se manter no cargo é "mais firme do que nunca" e que o Governo que lidera ainda terá mais três anos, os que faltam para terminar a legislatura.
Sánchez volta a criticar a "deriva de uma coligação reacionária capitaneada" pelos líderes do Partido Popular (PP, direita), Alberto Núñez Feijóo, e do Vox (extrema-direita), Santiago Abascal, considerando que querem levá-lo à demissão e chegar ao poder de "maneira espúria".
Prevendo "muito ruído e ainda mais fúria" nos dias que restam de campanha eleitoral em "tabloides digitais nascidos para propagar boatos" e tertúlias, com o objetivo de "intergerir no resultados das europeias", Sánchez pediu aos espanhóis para responderem votando no próximo domingo.
Depois de ser conhecida a notificação hoje de Begoña Gómez, a "número dois" do PP, Cuca Gamarra, afirmou que "não há cortina de fumo que tape" o facto de a mulher de Sánchez estar a ser investigada pela justiça.
"Não é lodo, é corrupção na Moncloa [a sede do Governo]", afirmou Gamarra.
Já Feijóo, ressalvando que a notificação de Begoña Gómez não é sinónimo de uma condenação, considerou que Sánchez devia assumir as suas "responsabilidades políticas" e dar explicações públicas, não podendo "despachar um assunto desta gravidade com gritos de `fachos`, lodo, ultras ou Franco".
Feijóo, que não chegou a pedir a demissão de Sánchez, sublinhou que "não há precedentes" de um caso destes em 46 anos de democracia em Espanha, de "négocios" de uma pessoa ligada à Moncloa investigados pela justiça.
Begoña Gómez foi chamada a prestar declarações no dia 05 de julho, no âmbito do processo que investiga suspeitas de tráfico de influências e corrupção no setor privado em contratos públicos adjudicados a empresas propriedade de um professor universitário com ligações à mulher do primeiro-ministro espanhol.
O processo nasceu de uma denúncia apresentada por uma associação conotada com a extrema-direita.