O ex-ministro do Interior e líder da extrema-direita italiana, Matteo Salvini, comparece hoje perante um tribunal siciliano naquela que deverá ser a primeira audiência de um processo com tudo para ser tumultuoso. Neste e noutro que corre entretanto, Salvini poderia, em teoria, ser condenado a penas de prisão até 15 anos.
O dirigente da Liga, de extrema-direita, é acusado de ter mandado reter a a bordo do navio "Gregoretti", da guarda costeira, durante mais de uma semana, no verão do ano passado, 116 migrantes chegados à costa italiana. Embora um pequeno número de migrantes tenham sido desembarcados, por razões de urgência médica, a maioria foi forçada a permanecer a bordo durante todo esse tempo, o que constituiria um crime de "abuso de poder e sequestro de pessoas". Um outro processo semelhante está também anunciado, tendo como motivo a decisão de impedir o acesso ao porto de Lampedusa pelo navio de resgate humanitário "Open Arms", em meados de agosto de 2019.
Salvini tem podido até agora evitar os dois processos, mas o Senado acabou por levantar a sua imunidade parlamentar, abrindo as portas a este julgamento e ao outro, por motivos semelhantes. Comentando o início do processo, declarou: "Eu preferia que os juízes dedicassem o tempo a capturar mafiosos e delinquentes". E, desvalorizando antecipadamente a sentença que venha a ser emitida, acrescentou: "Vão ser os italianos, nas próximas eleições, a dizer se Salvini procedeu bem ou mal".
A audiência de hoje destina-se apenas a constituir as partes cíveis do processo, mas Salvini já tem estado a mobilizar os seus apoiantes para viajarem com destino à Catânia e se manifestarem diante do tribunal. A sua estratégia de defesa consiste em apontar o dedo ao primeiro-ministro Giuseppe Comte, afirmando que bloquear a entrada dos migrantes foi uma decisão de todo o Governo. Comte desmente, lembrando que Salvini fizera aprovar pouco antes um decreto alargando os seus poderes e impedindo que eles fossem controlados pelo resto do Governo.