Os chefes de Estado e de governo da União Europeia reúnem-se esta terça-feira em Bruxelas com o desfecho do referendo britânico em cima da mesa. Entre os interlocutores de David Cameron há pressa em desencadear os procedimentos que levarão ao Brexit. Evitar o contágio é a preocupação mais aguda.
“Estamos de acordo. Não haverá discussões formais ou informais sobre a saída da Grã-Bretanha da União Europeia enquanto não houver um pedido de saída da União Europeia a nível do Conselho Europeu”, avisava ontem a chanceler alemã na sequência do encontro entre as maiores economias da Zona Euro.
Ou seja, o que Angela Merkel reclamou, ao lado do Presidente francês, François Hollande, e do primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, foi a invocação, sem tardar, do artigo 50.º do Tratado de Lisboa, que abrirá oficialmente a porta de saída ao Reino Unido.
O mesmo triunvirato pós-referendo britânico propõe-se, desde já, controlar eventuais “forças centrífugas” que se alimentem do Brexit noutros países-membros da União Europeia. Haverá desde já “uma proposta” germano-franco-italiana – por enquanto de contornos turvos - para impelir o chamado projeto europeu “ao longo dos próximos meses”.
Tratar-se-á, nas palavras de Merkel, de aprofundar políticas comuns em matéria de “defesa, crescimento, emprego e competitividade”.
“Explicações”
Também os presidentes da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, do Conselho Europeu, Donald Tusk, do Parlamento Europeu, Martin Schulz, e da presidência rotativa holandesa, Mark Rutter, assinaram uma nota a defender celeridade no divórcio: “Por muito doloroso que seja o processo”.O Parlamento Europeu realizou esta terça-feira uma sessão extraordinária que aprovou um pedido de aplicação imediata do artigo 50.º.
E será ao jantar, esta terça-feira, que os interlocutores do primeiro-ministro britânico deverão insistir em extrair mais “explicações”.
A expensas da inclinação de Londres para um processo em passo lento.
Na manhã de quarta-feira haverá um pequeno-almoço já com uma cadeira vazia – a de David Cameron. Mais uma ocasião para discutir as consequências do adeus britânico.
Turbulência
Independentemente do grau de impaciência das instituições europeias, ou das próprias correntes políticas britânicas, o reino de Isabel II já começou a experimentar o látego dos mercados.
A agência de notação financeira Standard & Poor’s decidiu na segunda-feira abater o triplo A do país para um AA, um gesto sem par nas últimas cinco décadas. O mesmo fez a Fitch, que cortou a nota do Reino Unido de AA+ para AA. Com perspetiva negativa.
Perante a turbulência, David Cameron, com saída de cena marcada para outubro, quis afiançar, no Parlamento em Londres, que os alicerces económicos do seu país permanecem intactos, sublinhando ainda que o artigo 50.º não poderá ser invocado sem que o país esteja preparado para tal. Mas o mal-estar entre fronteiras é indisfarçável.
Politicamente, a tempestade atinge não só os conservadores, mas também os trabalhistas, entre os quais crescem as vozes que pedem a demissão de Jeremy Corbyn, sem que o líder dê mostras de querer responder pela afirmativa. Assim como ganha corpo a ameaça de secessão da Escócia, que votou esmagadoramente – 62 por cento – pela permanência na União Europeia.
Até mesmo o exuberante Boris Johnson, antigo mayor conservador de Londres que encabeçou a campanha pela saída, de olhos postos na liderança do partido, começou a adotar um tom mais conciliador, ao sustentar que o Reino Unido “faz parte da Europa”, pelo que a cooperação com os demais países do Velho Continente deve “intensificar-se”, e que o Brexit não deve acontecer “com precipitação”.
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