Rússia vai anexar formalmente quatro áreas da Ucrânia

por Joana Raposo Santos - RTP
Na Praça Vermelha, em Moscovo, já foi montado um palco com enormes cartazes nos quais é proclamada a anexação das quatro regiões à Rússia. Evgenia Novozhenina - Reuters

O presidente russo, Vladimir Putin, vai realizar na sexta-feira uma cerimónia de assinatura para anexar formalmente quatro áreas da Ucrânia, depois da realização de referendos considerados pelo Ocidente como uma farsa.

De acordo com as autoridades russas, a votação ao longo de cinco dias resultou num apoio quase total à anexação de Lugansk e Donetsk, no leste da Ucrânia, e de Zaporizhia e Kherson, no sul.

O presidente russo fará um grande discurso no Kremlin para anunciar formalmente a anexação.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, adiantou ainda que os líderes das quatro regiões - onde os referendos terminaram na terça-feira - assinarão os tratados para se juntarem à Rússia durante a cerimónia de sexta-feira.

Na Praça Vermelha, em Moscovo, já foi montado um palco com enormes cartazes nos quais é proclamada a anexação das quatro regiões à Rússia. O evento assemelha-se ao da anexação da Crimeia, em 2014, que aconteceu igualmente após um referendo desacreditado pela comunidade internacional.
No decorrer da mais recente votação não houve monitorização independente e surgiram várias denúncias, incluindo relatos de funcionários eleitorais a baterem de porta em porta escoltados por soldados armados.

“Tem de se responder verbalmente e o soldado marca a resposta numa folha e guarda-a”, contou uma moradora da cidade de Enerhodar, em Zaporizhia, à BBC.

A ministra dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Annalena Baerbock, disse esta quinta-feira que habitantes de regiões ocupadas da Ucrânia foram retirados de casa e dos locais de trabalho através de ameaças e, por vezes, com armas apontadas. "Isto é o oposto de eleições livres e justas. E é o oposto de paz; é uma paz ditada", lamentou.
"Referendos são completamente ilegais"
As votações, em áreas que representam 15 por cento da Ucrânia, começaram na sexta-feira passada, com um aviso de apenas alguns dias de antecedência. As autoridades russas argumentaram que o uso de guardas armados era para fins de segurança.

Os Estados Unidos já avançaram que irão impor sanções a Moscovo devido a estes referendos e os Estados-membros da União Europeia estão também a considerar uma oitava ronda de sanções.

A grande maioria da comunidade internacional não vai reconhecer os referendos, incluindo Portugal. O ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, descreveu a votação como uma farsa.

"Naturalmente, estes referendos são completamente ilegais e não serão reconhecidos por ninguém. A Rússia já levou a cabo este tipo de estratégia em outros contextos, nomeadamente na Geórgia, mas não haverá nenhum tipo de reconhecimento internacional", assegurou o governante na semana passada.

A porta-voz do ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, veio já dizer que a população que votou nos referendos “escolheu a liberdade” e frisou que a comunidade internacional não tem dados nem instrumentos que lhe permita condenar o processo.

A Rússia não controla totalmente nenhuma das quatro regiões que decidiu anexar. Embora a maior parte de Luhansk permaneça em mãos russas, Moscovo controla apenas 60 por cento de Donetsk.

Mais de sete meses depois de as forças russas terem invadido a Ucrânia, a guerra continua nas linhas da frente de todas as quatro áreas que serão agora anexadas. A capital da região sul de Zaporizhia está neste momento sob o controlo de Kiev, e Kherson decorre uma contraofensiva ucraniana.
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