Rússia reage e força avanço na frente leste. Zelensky reconhece situação "difícil"

por Graça Andrade Ramos - RTP
Defesa ucraniana tenta deter avanço russo em Donetsk Diego Herrera Carcedo - Anadolu via AFP

Sob pressão interna e com os olhos do mundo atentos a qualquer revelação de fraqueza perante a invasão ucraniana da região de Kursk, os generais russos incrementaram nas últimas horas a ofensiva na frente ucraniana a leste, reivindicando a conquista de Niu-York, ou New-York, um centro logístico descrito como "estratégico".

O Ministério russo da Defesa afirmou que as suas tropas capturaram "um dos maiores assentamentos no aglomerado de Toretsk e o centro logístico de importância estratégica de Novgorodskoye", referindo-se à cidade na região de Donetsk pelo seu nome soviético, Nova Cidade. O Estado Maior ucraniano anunciou na rede social Facebook que tinham sido relatados 14 combates na área de Toretsk e 34 no setor de Pokrovsk, ao longo do dia.

Zelensky reconheceu esta terça-feira que a situação estava "difícil" na frente leste, perto do centro logístico estratégico de Pokrovsk e também em torno de Toretsk. Kiev não admitiu a alegação russa sobre Niu-York.

A rapidez do avanço russo foi tal que as autoridades locais ordenaram aos civis para abandonarem de imediato a cidade de Pokrovsk e outras localidades vizinhas. Há relatos da fuga de milhares de pessoas, com crianças nos braços e a arrastarem malas, a procurarem lugar em autocarros apinhados.
Ordens de Putin

O ministro russo da Defesa, Andrei Belousov, anunciou igualmente a criação de três grupos militares com a missão específica de defender as fronteiras das incursões ucranianas. Foram batizados com os nomes das regiões que irão defender, Kursk, Belgorod e Bryansk.

Os novos grupos vão defender os cidadãos de `drones` e outro tipo de ataques ucranianos. Até agora, esta missão cabia aos grupos Dniepre e Sever (norte), criados a par de outros quatro para defender regiões a leste, sul, centro e oeste. As autoridades de outras regiões fronteiriças russas além de Kursk relatam regularmente tentativas de invadir o seu território, mas sem sucesso confirmado até ao momento.

A Defesa russa alegou ainda sucesso no bloqueio de ataques ucranianos a mais quatro localidades em Kursk, identificadas como Borki, Korenevo, Kremyanoye e Russkaya Kanapelka.

"Operações de busca e reconhecimento continuam a identificar e a destruir grupos sabotadores inimigos em bosques, que estavam a tentar penetrar em território russo", referiu em comunicado o Ministério russo da Defesa.

Segundo o portal de informação RCB-Ukraina, o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, ordenou aos seus militares que expulsassem as forças ucranianas de Kursk até 01 de outubro, mas sem retirar as tropas dos setores onde o Exército russo avança na região de Donetsk.

"Na verdade, os russos estão a tentar enviar unidades de toda a linha da frente para a região de Kursk, exceto dos setores de Pokrovsk e Toretsk", sublinha a publicação, que levanta a hipótese de as forças de Moscovo não terem reservas suficientes.
Sucessos russos
Aviões russos atacaram ainda concentrações de mão-de-obra e de equipamento ucranianos além da fronteira, referiu ainda a Defesa russa no seu relatório diário.

Fontes ucranianas referiram que uma infraestrutura de energia no norte do país foi atingida com um míssil e drones. Uma fábrica com armazéns de produtos químicos em Ternopil, no ocidente do país, foi também alvejada, tendo o ataque provocado um enorme incêndio. A capital ucraniana anunciou ter conseguido defletir o quinto ataque noturno de mísseis russos contra Kiev este mês. 

O avanço russo a leste parece entretanto coincidir com um abrandamento dos combates na frente sul.

Dmytro Lykhovii, porta-voz das forças ucranianas em Tavria, referiu que, desde a semana passada não se registaram confrontos na zona de Zaporizhia, em Orekhovo de Gulyai-Polye, com a ocorrência de apenas alguns bombardeamentos contra posições ucranianas na margem ocidental do rio Dniepre, em Kherson.

As notícias sobre os ganhos militares russos das últimas horas coincidem com a chegada a Moscovo do primeiro-ministro chinês, Li Qiang, para reuniões com o homólogo ruso, Mikhail Mishutin, o 29º acordo do género entre líderes chineses e russos.

A agência de notícias chinesa Xinhua, oficial, referiu que na agenda estará o estreitamento de laços bilaterais e de cooperação mútuas, mas Moscovo tem todo o interesse em garantir a Pequim que é capaz de suster e de resolver o embaraço criado pelo avanço ucraniano com milhares de homens sobre a região de Kursk.
Zelensky aponta "bluff"

Desde seis de agosto, os ganhos ucranianos têm sido praticamente diários naquela região russa. Cerca de 122 mil civis foram forçados a abandonar as suas casas, reconheceu nas últimas horas a agência Tass, citando fontes do Ministério de Emergências da Rússia.

Para Volodymyr Zelensky, o presidente ucraniano, a fraca resistência encontrada em Kursk comprovou a fragilidade militar russa e expôs o "bluff" das suas ameaças. O presidente ucraniano afirmou que o "conceito ingénuo, ilusório das chamadas linhas vermelhas" se "desmoronou".

Por quanto tempo poderão os ganhos ucranianos em Kursk ser sustentados é uma incógnita.

Zelensky, descreveu a invasão de Kursk como uma manobra "de defesa dos ucranianos da fronteira de um possível avanço russo" e, esta segunda-feira, reivindicou o controlo de 1.250 quilómetros quadrados de território e de 92 localidades na área.

Aproveitou para criticar as interdições dos seus "parceiros" ocidentais quanto ao uso de armamento de longo alcance contra alvos na Rússia, que obriga à intervenção presencial no terreno.
Ameaça bielorrussa

A Bielorrússia, cujo presidente, Alexander Lukashenko, é um aliado de longa data do presidente russo, Vladimir Putin, anunciou ter colocado entretanto um terço das suas forças armadas, incluindo aviões e infantaria, na fronteira com a Ucrânia. Afirmação falsa, denunciou Kiev.

O comandante da Força Aérea e Defesa Aérea bielorrussa, o major-general Andrei Lukyanovich, afirmou segunda-feira à televisão nacional CTV que as tropas na fronteira "foram reforçadas de forma significativa e que neste momento estão em missão nas fronteiras sul do nosso país".

O reforço inclui forças anti-aéreas e tropas de comunicações, acrescentou Lukyanovich, reconhecendo que uma das maiores dificuldades estratégicas é a ameaça de drones, que descreveu como a "praga do século 21".

com agências
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