Rússia proíbe Deutsche Welle. Emissora alemã diz que decisão é "absurda" e "incompreensível"

por RTP
Yuri Kochetkov - EPA

A Rússia ordenou, esta quinta-feira, o encerramento do escritório local da Deutsche Welle (DW) em Moscovo e interditou os seus programas como represália à proibição do canal russo Russia Today (RT) de transmitir na Alemanha. A televisão alemã considerou "absurda" e "incompreensível" a decisão russa de fechar a delegação da capital russa.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia apresentou esta quinta-feira as “medidas de retaliação” decididas pelo Kremlin, citando o “encerramento do escritório local” da Deutsche Welle, a “retirada das credenciais a todos os funcionários” e a “interrupção das transmissões” em território russo. Foi anunciado ainda o lançamento de um procedimento destinado a reconhecer a DW como "agente estrangeiro" - designação que já é aplicada a vários órgãos de comunicação social críticos do poder na Rússia.

Este estatuto designa indivíduos ou organizações que as autoridades russas dizem ser financiados a partir de países estrangeiros para servir interesses contrários aos da Rússia.

O ministério russo adiantou também que estão previstas sanções contra “representantes do Estado alemão e estruturas públicas envolvidas na proibição da transmissão do RT”. E, de acordo com a diplomacia russa, estas medidas constituem a “primeira etapa” do processo de retaliação de Moscovo, prometendo outra resposta “no devido tempo”.

Estas sanções surgem após o regulador alemão dos media ZAK ter proibido a transmissão na Alemanha do canal RT na Internet e em aplicações de telemóvel (a transmissão via satélite já tinha sido interrompida em dezembro), já que, segundo o organismo, a “autorização necessária” não foi “nem solicitada nem concedida”.

O RT tem sede em Moscovo e possui uma licença sérvia para transmissão por cabo e satélite, o que, segundo o canal, permite a sua transmissão na Alemanha, de acordo com a lei europeia. Mas o regulador alemão considera que a licença sérvia é insuficiente, porque o RT DE (versão em língua alemã do canal russo) é produzido por uma empresa sediada em Berlim, visando “uma audiência alemã”.

Em reação, a Presidência russa condenou a decisão alemã e considerou-a um “ataque à liberdade de expressão”, anunciando represálias.
Decisão "absurda" e "incompreensível"

Peter Limburg, presidente da Deutsche Welle, considerou as medidas das autoridades russas "incompreensíveis e excessivas". A radiotelevisão internacional alemã “protesta contra esta reação absurda”, da qual ainda não foi notificada oficialmente, e promete “reforçar significativamente a cobertura” da estação na Rússia “mesmo que acabe por ter, eventualmente, de fechar”, refere em comunicado.



Também a ministra alemã da Cultura e Media, Claudia Roth, criticou a decisão russa, que considera "inaceitável", uma vez que a RT na Alemanha estava a ser transmitida “sem licença ou permissão”, contrariamente à situação da Deutsche Welle na Rússia.

Enquanto que a RT tem uma licença na Sérvia e assumiu, por isso, que podia transmitir na Alemanha, a DW detém licenças desde 2005 para transmitir em alemão e inglês, válidas até 2027 e 2025, respetivamente. A comparação entre os dois casos "não tem assim fundamento", explicou a ministra.

"A RT DE transmite sem licença" enquanto "a situação do DW, ao qual a licença é retirada, é completamente diferente".

Além disso, acrescentou Roth, "o Estado alemão não influencia a programação" da DW, "ao contrário da RT DE", acusada na Europa de ser uma ferramenta de desinformação para o Kremlin.

Inaugurado em 2005, o canal russo é financiado pelo Estado e tem-se expandido, passando a contar com canais e ‘sites’ em várias línguas, incluindo inglês, francês, espanhol, alemão e árabe. Contudo, é considerado internacionalmente como uma ferramenta de propaganda do Kremlin e já foi alvo de polémicas em vários países, incluindo nos Estados Unidos, onde teve de se registar como “agente estrangeiro”.

No Reino Unido, por exemplo, as autoridades ameaçaram retirar a licença de emissão e noutros países chegou mesmo a ser proibido, como na Lituânia e na Letónia.


c/agências
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