Ao centésimo dia desde o início da invasão, a Rússia começa a alcançar as primeiras grandes vitórias contra o exército ucraniano no Donbass. O relatório diário dos serviços britânicos de informação militar indica que as tropas russas “controlam 90 por cento de Lugansk”, no leste da Ucrânia, e que deverão conseguir o controlo total da região “nas próximas duas semanas”.
Lugansk é, a par de Donetsk, uma das duas regiões que integram a zona leste do Donbass onde a Rússia tem concentrado operações nas últimas semanas.
“A Rússia está agora a conseguir sucesso tático no Donbass. As forças russas geraram e têm mantido o ímpeto, e atualmente parecem manter a vantagem sobre a oposição ucraniana”, reconhece o Ministério britânico da Defesa (MoD).
No entanto, essas conquistas foram alcançadas “com um curso significativo de recursos e com a concentração da força e do fogo numa única zona da campanha”.
“A Rússia não foi capaz de gerar novas manobras ou movimentos noutras frentes de combate, sendo que todos transitaram para a defensiva”, salienta o relatório diário sobre a recente concentração exclusiva de esforços ofensivos no Donbass.
Forças russas “falharam objetivos iniciais”
No balanço dos primeiros 100 dias do conflito, os serviços britânicos de informação militar destacam que a Rússia não conseguiu garantir “nenhum dos objetivos estratégicos” delineados desde o início da invasão, a 24 de fevereiro, nomeadamente o controlo rápido e total do território ucraniano ou a mudança de poder em Kiev.
“As forças russas não conseguiram atingir os objetivos iniciais de conquistar Kiev e os centros governamentais da Ucrânia. A forte resistência ucraniana e o fracasso na proteção do aeródromo de Hostomel, nas primeiras 24 horas, levaram a repulsão das operações ofensivas russas”, indicam as autoridades britânicas.
A investida sobre o aeródromo de Hostomel, na região de Kiev, foi uma das primeiras ações russas em território ucraniano. O espaço chegou a estar sob controlo dos militares russos nas primeiras horas de 24 de fevereiro, mas as tropas ucranianas recuperaram o aeroporto no início de abril, ao fim de várias semanas de combates.
“Após o fracasso do plano inicial, entre falsas premissas de planeamento e más execuções táticas, a Rússia adaptou o projeto operacional para se concentrar no Donbass”, indica o relatório diário.
Depois de um primeiro mês de combates, com operações em várias frentes, tendo falhado a conquista de cidades como Kiev e Kharkiv, a Rússia anunciou no final de março que iria concentrar operações na “libertação do Donbass”. O Ministério britânico da Defesa entende, no entanto, que mesmo este objetivo mais limitado terá um elevado preço para Moscovo.
“Para que a Rússia alcance qualquer tipo de sucesso, será necessário manter um enorme investimento de mão-de-obra e equipamentos, e provavelmente irá necessitar de um tempo considerável”, acrescenta o MoD.
Rússia controla 20 por cento do território ucraniano
No Telegram, o governador de Lugansk, Sergei Haidai, indicou esta sexta-feira que "cerca de 70 escolas, 50 jardins de infância, 33 hospitais e 237 clínicas da região", com tecnologia de ponta, ficaram destruídas nestes primeiros 100 dias de guerra.
Já o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, reconhecia na quinta-feira que as forças russas controlam nesta altura um quinto do território ucraniano. Num discurso ao Parlamento luxemburguês por videoconferência, o líder ucraniano indicou que as linhas da frente de batalha se estendem atualmente por mais de 1.000 quilómetros.
Adiantou ainda que cerca de 100 ucranianos estão a morrer diariamente no leste da Ucrânia e entre 450 e 500 pessoas ficam feridas a cada dia que passa.
Zelensky destacou ainda que as tropas ucranianas conseguiram “algumas vitórias” em batalhas na cidade de Severodonetsk, na região de Lugansk, mas que é ainda cedo para tirar conclusões.
“A situação é a mais difícil do momento, assim como nas cidades e comunidades mais próximas, como Lysychansk, Bakhmut, entre outras”, reconheceu.