Uma pediatra nascida na Ucrânia mas residente na Rússia foi condenada por um tribunal a cinco anos de prisão, após uma denúncia de uma antiga mulher de um soldado falecido em território ucraniano. De acordo com a denúncia, a médica pediatra terá criticado a ação militar russa na Ucrânia.
De acordo com o britânico Guardian, a pediatra foi detida e acusada de “disseminar informação falsa” sobre a campanha militar da Rússia na Ucrânia. Desde o início da invasão russa na Ucrânia, em 2022, a Rússia tem adotado abordagem dura a uma lei sobre informação falsa, especialmente sobre a guerra.
A pediatra é, há muito, residente na Rússia mas nasceu em Lviv, Ucrânia, e tem insistido na sua inocência, afirmando que nunca falou sobre a guerra com a paciente. A defesa da médica alega que a mesma se tornou um alvo devido à ascendência ucraniana e fizeram notar que a acusação não apresentou provas sólidas para provar a culpa de Buyanova.
As únicas provas apresentadas foram os testemunhos da mãe em consulta e da criança de sete anos, paciente da pediatra. A primeira denúncia foi feita pela mãe através da gravação de um vídeo. O caso ganhou força no país e foi imediatamente colocado sob investigação pelo diretor do Comité de Investigação da Rússia, Alexander Bastrykin.
O ambiente criado com a nova lei na Rússia é de suspeita contínua, com familiares e vizinhos a denunciar-se, muitas vezes de forma anónima, de acordo com observadores internacionais.
Na semana passada, um homem foi condenado a 13 anos de prisão por “traição” por ter doado um valor de 50 euros a uma organização de caridade alemã que apoia a Ucrânia. Ksenia Karelina, cidadã com nacionalidade russa e americana, também foi condenada a 12 anos de prisão depois de doar uma quantia semelhante a um grupo pró-Ucrânia.
O grupo Memorial, organização ligada aos Direitos Humanos na Rússia, diz que Buyanova se tornou uma prisioneira política. Até mesmo um grupo de médicos russos escreveu uma carta aberta em defesa da pediatra, declarando que a denúncia era uma “desgraça”.
Agora banido na Rússia, o grupo Memorial estima existirem pelo menos 800 presos políticos no país, admitindo porém que o número seja muito maior. O Proekt, meio de comunicação de jornalismo de investigação, aponta para mais de 116 mil os ativistas condenados na Rússia, um número superior aos verificados durante os anos sob Nikita Khrushchev e Leonid Brezhnev, antigos líderes da União Soviética.