Rússia no radar da NATO após violação do espaço aéreo turco

por Carlos Santos Neves - RTP
“Não se parece com um acidente”, sublinhou o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg François Lenoir - Reuters

A recente entrada da aviação militar russa em espaço aéreo da Turquia, sobre a fronteira com a Síria, “não se parece com um incidente”. Foi assim que o secretário-geral da NATO endereçou esta terça-feira nova advertência ao Kremlin. Jens Stoltenberg ainda aguarda uma “verdadeira explicação” para um gesto que Moscovo já disse ter sido acidental. Mas que a Aliança Atlântica encara como “inaceitável”.

O primeiro incidente com um caça russo nos céus da Turquia ocorreu no sábado, o quarto dia da campanha de bombardeamentos aéreos de Moscovo contra múltiplos alvos na Síria. O aparelho foi intercetado por aviões turcos, que o terão forçado a voltar para trás.Moscovo alega que o incidente de sábado durou escassos segundos e foi causado por más condições atmosféricas.


No domingo, segundo uma nota das estruturas militares da Turquia, dois caças F-16 terão sido “assediados por um MiG-29, cujo país não pôde ser identificado, durante um total de cinco minutos e 40 segundos”. Esta segunda incursão foi, ainda assim, atribuída à Rússia.

O secretário-geral da NATO não hesita. Para Jens Stoltenberg, estas ocorrências não se assemelham a qualquer acidente, mas antes a uma clara e propositada violação do espaço aéreo dos turcos. E as autoridades russas, enfatizou o mesmo responsável em conferência de imprensa, ainda não facultaram uma “verdadeira explicação”.

Também por esta razão, a Aliança Atlântica está a encarar “muito seriamente” os acontecimentos do fim de semana, embora não esteja ainda em condições de confirmar a alegada perseguição de um caça russo a aparelhos turcos, como reconheceu o próprio Stoltenberg.
Vanda Freire, Luís Moreira - RTP

Outro dado que está a inquietar a NATO é o facto de as patentes russas terem ignorado, até ao momento, todas as linhas de comunicação militar abertas entre os aliados ocidentais e Moscovo.

Jens Stoltenberg quis ainda chamar a atenção para o que descreveu como um “substancial reforço militar” da Rússia na Síria, que incluiria meios navais e forças terrestres.
Mira estende-se ao Iraque
As autoridades russas continuam a assegurar que as operações aéreas na Síria visam as forças do Estado Islâmico e “outros grupos terroristas”. A NATO inclina-se, por sua vez, para a tese de um apoio militar de facto ao regime de Bashar al-Assad. Ou seja, os bombardeamentos teriam por único alvo os oposicionistas sírios.O Presidente russo tem negado que os ataques da sua aviação estejam a causar vítimas civis, no que é contrariado por relatos no terreno.

Já esta terça-feira foi noticiado um raid russo sobre a região de Palmira, um dos bastiões do Estado Islâmico em território sírio.

De Moscovo saiu entretanto mais uma pista sobre o alcance dos planos militares da Rússia: a presidente da câmara alta do Parlamento, Valentina Matviyenko, deu como possível uma intervenção aérea no Iraque, condicionada a um eventual pedido de ajuda por parte das autoridades de Bagdade.

Na frente diplomática, o Governo turco convocou já por duas vezes, em 48 horas, o embaixador da Rússia, tendo em vista “protestar firmemente” contra a violação do espaço aéreo.

O primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, afiançava na segunda-feira que o seu país estaria preparado para uma retaliação proporcional, ao abrigo das regras de combate, em caso de novas violações.
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