Rússia não exclui envio de "equipamentos militares" para Cuba e Venezuela

por Lusa

A Rússia acentuou hoje as suas posições na disputa com o ocidente, centrada na Ucrânia, com um alto responsável a não descartar um deslocamento de "equipamentos militares" para Cuba e Venezuela caso aumentem as tensões com os Estados Unidos.

O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguei Riabkov, disse em declarações à televisão RTVI TV que "não confirma nem exclui" a possibilidade de a Rússia enviar equipamentos militares para Cuba e Venezuela no caso de falhanço das conversações e de um aumento da pressão dos EUA sobre a Rússia, indicou a agência noticiosa Associated Press (AP).

Riabkov, que conduziu a delegação russa nas conversações com os Estados Unidos em Genebra na passada segunda-feira, notou que "tudo depende da ação" dos EUA, assinalando que o Presidente russo Vladimir Putin já avisou que Moscovo pode adotar medidas técnico-militares caso Washington provoque o Kremlin e acentue a sua pressão militar.

"O principal problema é que os EUA e a NATO não estão dispostos a efetuar qualquer concessão de qualquer espécie sobre os pedidos chave", sublinhou Ribakov.

Nas suas declarações, o mesmo responsável também indicou que a Rússia não perspetiva no imediato a utilidade de uma nova ronda de discussões com o ocidente, atendendo às profundas divergências sobre as exigências russas em termos de segurança e a Ucrânia.

"Enquanto não ficar esclarecido se existem (...) reservas de flexibilidade da outra parte sobre assuntos importantes, não vemos razão para regressar à mesa [das negociações] nos próximos dias, de nos reunirmos de novo e recomeçar as mesmas discussões", declarou à cadeia televisiva.

Riabkov voltou a assegurar que os EUA e a NATO disseram "não" às sugestões russas sobre garantias de segurança na Europa, em particular o fim do alargamento da NATO em direção a leste, a instalações de infraestruturas militares aliadas junto às suas fronteiras "e o seu regresso aos limites de 1997".

Putin já manifestou preocupação pela eventualidade de a NATO utilizar território ucraniano para a instalação de mísseis com capacidade de atingir Moscovo em apenas cinco minutos, e sublinhou que os vasos de guerra russos armados com o mais recente míssil de cruzeiro hipersónico Zircon fornecerá à Rússia uma capacidade similar, caso seja deslocado para águas neutrais.

O Zircon, que Putin diz deslocar-se nove vezes acima da velocidade do som e com um alcance de 1.000 quilómetros, é difícil de intercetar e pode ser equipado com ogivas convencionais ou nucleares. A sua gestão irá ficar a cargo da Marinha russa ainda este ano, para ser instalado nas suas fragatas e submarinos.

Por sua vez, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Riabkov, assinalou em entrevista a uma televisão pública que a Rússia espera que os EUA e a NATO respondam por escrito na próxima semana às suas propostas, que alguns líderes ocidentais já consideraram "inaceitáveis".

Rússia e o Ocidente não alcançaram qualquer compromisso firme no decurso das conversações que decorreram esta semana em torno das tensões na Ucrânia.

As conversações Rússia-Estados Unidos na segunda-feira em Genebra (Suíça) e a reunião de quarta-feira em Bruxelas entre as autoridades russas e a NATO não registaram avanços significativos, apesar de as partes terem admitido a possibilidade de futuros contactos sobre o controlo de armamento e formas de impedir incidentes militares entre Moscovo e o Ocidente.

As conversações decorreram num momento em que cerca de 100.000 tropas russas permanecem concentradas perto da forneira com a Ucrânia, segundo responsáveis ocidentais.

Esta movimentação militar suscitou preocupações em Kiev e no Ocidente sobre os eventuais preparativos para uma invasão.

Moscovo tem negado estar a ponderar uma invasão e por sua vez acusa o Ocidente de ameaçar a sua segurança ao posicionar tropas e equipamento militar no Europa central e de leste.

Em Viena, onde decorre uma reunião da Organização para a Segurança e Cooperação Europeia (OSCE), o representante russo, Alexander Lukashevich, indicou que os Estados Unidos prometeram ao último dirigente da União Soviética, Mikhail Gorbachev, que a NATO não avançaria "nem uma polegada" em direção a leste caso uma Alemanha unificada permanecesse na Aliança Atlântica.

Em conferência de imprensa transmitida em direto pela televisão estatal russa, Lukashevich assegurou que a promessa foi emitida em 1990 a Gorbachev pelo então secretário de Estado dos EUA, James Baker, que terá repetido a promessa no mesmo ano ao então chefe da diplomacia soviético, Eduard Shevardnadze.

O Kremlin insiste desde há meses que a NATO enganou a URSS e a Rússia com o alargamento de 1999 e 2004, o que justificaria o pedido de Moscovo para vetar o ingresso da Ucrânia e da Geórgia.

O diplomata russo, que na sua intervenção de hoje perante o Conselho permanente da OSCE acusou o ocidente de ser responsável pela deterioração da situação na Europa pela sua política de contenção da Rússia, também negou qualquer progresso em termos de segurança estratégica.

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