Rússia mantém porta fechada a tropas europeias de manutenção da paz na Ucrânia

por Cristina Sambado - RTP
Ministério russo dos Negócios Estrangeiros via Reuters

O ministro russo dos Negócios Estrangeiros frisou esta quarta-feira que Moscovo não considera a possibilidade de envio de tropas europeias de manutenção da paz para a Ucrânia e considera que as conversações têm como objetivo “alimentar ainda mais o conflito”. Sergei Lavrov revelou ainda que vai decorrer uma segunda reunião entre diplomatas russos e norte-americanos.

Trump disse que uma decisão sobre o envio de forças de manutenção da paz só seria possível com o consentimento de ambas as partes. Aparentemente, referindo-se a nós e à Ucrânia. Ninguém nos perguntou sobre isso”, frisou Lavrov durante uma conferência de imprensa no Catar.

Lavrov também descreveu as discussões como “conversa fiada” e um “engano”, com o objetivo de “encher a Ucrânia de armas”.O chefe da diplomacia russa é apelido por alguns diplomatas ocidentais de Doutor Não devido ao hábito de expressar frequentemente as objeções de Moscovo a várias iniciativas ocidentais.

Esta abordagem, que está a ser imposta pelos europeus, principalmente pela França, mas também pelos britânicos, tem como objetivo o que acabei de mencionar: alimentar ainda mais o conflito e impedir qualquer tentativa de o acalmar.”

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou na terça-feira que será necessária “alguma forma de manutenção da paz” na Ucrânia após um acordo de paz, depois de ter dito na segunda-feira que a Rússia estava aberta a aceitar forças de manutenção da paz europeias na Ucrânia.

Na véspera, o presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu, num encontro com Donald Trump, a possibilidade de enviar para a Ucrânia tropas europeias para garantir que qualquer acordo de paz fosse respeitado. Na altura, o Presidente norte-americano revelou que tinha concordado com a ideia de Paris e que o presidente russo Vladimir Putin também, embora o Kremlin tenha indicado mais tarde que a oposição russa sobre tal possibilidade permanece inalterada.

Também o primeiro-ministro britânico Keir Starmer, que deverá manter conversações com Donald Trump na quinta-feira, disse que estaria pronto para enviar tropas britânicas para a Ucrânia como parte de qualquer força de manutenção da paz no pós-guerra.

Lavrov indicou ainda que Moscovo mantém o objetivo do controlo total sobre as quatro regiões que reivindica como suas em qualquer acordo, apesar das objeções ucranianas.

O ministro russo dos Negócios Estrangeiros sublinhou ainda que não haverá um acordo que deixe os dois lados em confronto ao longo de uma linha de contacto, indicando que Moscovo está interessado numa solução que deixe o território que permanece sob o controlo da Ucrânia menos hostil à Rússia e aos falantes de russo.

A Ucrânia tem negado repetidamente as afirmações russas de que tem reprimido os russos étnicos e os falantes de russo no seu território.

Trump disse que quer avançar rapidamente para um cessar-fogo na Ucrânia, mas Putin esta semana moderou as expectativas de progresso rápido, dizendo que nada poderia ser alcançado sem restaurar a confiança entre a Rússia e os Estados Unidos.
Turquia vai acolher novas conversações
O ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, disse ainda que os diplomatas russos e norte-americanos vão reunir-se em Istambul na quinta-feira, para conversações sobre a resolução de disputas bilaterais que fazem parte de um diálogo mais amplo que consideram crucial para acabar com a guerra na Ucrânia.

Lavrov disse que as conversações se concentrariam na criação de melhores condições para os diplomatas russos nos Estados Unidos e seus homólogos americanos na Rússia, após uma série de disputas sobre os níveis de pessoal e propriedades da embaixada.


O resultado das conversações de Istambul “mostrará a rapidez e eficácia com que nos podemos mover”, sublinhou Lavrov.

Os nossos diplomatas e peritos de alto nível vão reunir-se e analisar os problemas sistémicos que acumularam em resultado das atividades ilegais da anterior administração para criar obstáculos artificiais às ações da embaixada russa, às quais nós, naturalmente, retribuímos e também criámos condições desconfortáveis para o trabalho da embaixada americana em Moscovo”, explicou Lavrov.

A agenda das conversações de quinta-feira, tal como descrita pelo ministro russo dos Negócios Estrangeiros, indica que os dois lados se concentrarão primeiro nas barreiras técnicas às relações diplomáticas antes de passarem a objetivos mais ambiciosos. Lavrov culpou a administração do antecessor de Trump, Joe Biden, pela situação. A Turquia, membro da NATO, quer desempenhar um papel de liderança para pôr fim às hostilidades na Ucrânia, como tentou fazer em março de 2022 ao acolher por duas vezes negociações diretas entre Moscovo e Kiev, antes de estas falharem.

Essa reunião terá lugar amanhã em Istambul”, acrescentou o ministro russo, que se deslocou a Ancara na segunda-feira, antes de visitar o Irão, aliado de Moscovo, na terça-feira, e depois o Catar.

As primeiras conversações russo-americanas desde fevereiro de 2022, realizadas em 18 de fevereiro em Riade, na Arábia Saudita, tiveram lugar alguns dias depois de um telefonema entre Vladimir Putin e Donald Trump, quebrando assim a política de isolamento prosseguida por Washington e pelo Ocidente nos últimos três anos.

Após a discussão, Sergei Lavrov e o seu homólogo americano Marco Rubio afirmaram que pretendiam restabelecer o funcionamento normal das missões diplomáticas, na sequência das múltiplas expulsões de representantes das respetivas embaixadas desde 2022.
Oportunidades de negócio
À medida que as conversações progridem, Rússia e Estados Unidos revelaram que querem explorar a possibilidade de empreendimentos comerciais lucrativos, bem como procurar um fim para a guerra da Ucrânia.

Putin disse esta semana que Moscovo estaria pronto para convidar os EUA a entrar em projetos conjuntos para explorar depósitos de terras raras na Rússia e nas partes da Ucrânia que reivindicou como seu próprio território.

Os rápidos movimentos de Trump para reparar as relações com a Rússia, revertendo a política de Biden de tentar isolar a Rússia com sanções, levantaram temores em Kiev e entre seus aliados europeus de que eles poderiam ser marginalizados em qualquer acordo potencial.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, reiterou na quarta-feira que havia um entendimento de que Trump e Putin deveriam se encontrar pessoalmente após uma preparação completa, mas disse que ainda não havia detalhes sobre quando e onde isso aconteceria.

Peskov revelou ainda que os dois líderes poderiam falar novamente por telefone, se necessário, mas não havia planos para isso.

c/ agências
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