Rússia invadiu a Ucrânia há 160 dias

por Inês Moreira Santos - RTP
Reuters

Fez na terça-feira 160 dias desde que a Rússia invadiu a Ucrânia e deu início ao conflito. Sem previsões de fim à vista ou de um cessar-fogo, a ofensiva russa parece ter abrandado nas últimas semanas, depois dos ataques às regiões de Kharkiv, Izium, Donbass, Zaporizhzhia e Kherson e da contraofensiva ucraniana com vista à recuperação de parte do território. Neste marco que ultrapassa os cinco meses de guerra, destaca-se a viagem do primeiro navio com cereais ucranianos para exportação, a partir do porto de Odessa e com destino ao Líbano.

Ao 160.º dia da ofensiva russa em território ucraniano, teve início a retirada obrigatória de civis da região Donetsk, no leste da Ucrânia, com as autoridades a anunciarem que o primeiro comboio partiu de Kirovohrad com mulheres, crianças, idosos e pessoas com mobilidade reduzida a bordo. Também esta terça-feira, a Rússia anunciou que considerou o batalhão Azov – que integra o Exército da Ucrânia e que foi uma das forças de resistência em Mariupol – como uma “organização terrorista”.

Embora não haja um fim à vista para este conflito, que começou a 24 de fevereiro, os analistas acreditam que o Kremlin está a repensar a estratégia da sua “operação especial”, numa altura em que as autoridades ucranianas relatam mais de 40 mil baixas de forças russas e que a ofensiva agressiva parece ter abrandado.

A estratégia inicial de Moscovo tinha objetivos políticos bem claros: as forças russas pretendiam ocupar territórios estratégicos e alegadamente pró-russas, usando o mínimo de forças para poupar as infraestruturas civis e conseguir o apoio da população ucraniana. Além disso, os especialistas creem que Vladimir Putin esperava que o Governo de Volodymyr Zelensky se rendesse ou caísses em pouco tempo – o que não aconteceu até à data.

No final de abril, a Rússia já tinha conquistado quase 40 por cento do território da Ucrânia, tendo empenhado mais meios militares e ataques do que previa para o conseguir, uma vez que inicialmente estavam cerca de 50 mil soldados na linha da frente e, uma semana depois, o número de tropas russas na ofensiva subiu para 150 mil. Mas com a estratégia inicial a falhar e as forças ucranianas a contra-atacar, nas últimas semanas os ataques e ameaça de invasão às regiões de Kiev, Sumy e Chernihv foram reduzindo, tendo sido relatado que Moscovo retirou os seus militares dessas zonas da Ucrânia até ali cercadas.

Com o reconhecido fracasso do “acordo de Istambul” Moscovo aparentemente repensou a estratégia política e militar e começou a focar as forças russas, em maio, a região do Donbass.
Apoio do Ocidente à Ucrânia
Desde o início do conflito que os países do Ocidente, nomeadamente os Estados Unidos e os Estados-membros da União Europeia, tem manifestado o seu apoio militar, económico e humanitário à invadida Ucrânia. Para além de ajudar na retirada de civis e na receção dos refugiados da guerra, vindos da Ucrânia, a comunidade internacional tem disponibilizado meios humanos e humanitários para território ucraniano, financiamento e armamento.

Quanto à Rússia, o Ocidente tem penalizado enquanto país invasor através de sanções, expulsão de diplomatas e personalidades ligadas ao presidente russo.

Nas últimas semanas, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO, na sigla em inglês) e a UE anunciaram que iam ampliar o apoio militar à Ucrânia através do fornecimento de uma ampla gama de sistemas de armas, munições e equipamentos militares, tais como UCAV (veículo aéreo de combate não tripulado ou Unmanned Combat Aereal Vehicle (UCAV), suporte tático de inteligência de sinais, reconhecimento e compartilhamento de informações recolhidas no teatro de operações por satélites e aeronaves de alerta antecipado e controlo aéreo (Airbone Earty Warning Control, AWACS) operativas em países fronteiriços, mas com amplas capacidades de inteligência, vigilância, aquisição de alvos e reconhecimento (Intelligence, Surveillance, Target Acquisition and Reconnaissance, ISTAR).

O secretário-geral da NATO disse, esta terça-feira, que é “vital” que a Aliança Atlântica e os aliados forneçam “ainda mais assistência” militar à Ucrânia e “mais rapidamente”, depois de uma conversa telefónica com o presidente ucraniano. Jens Stoltenberg sublinhou ainda a importância de a NATO continuar a prestar assistência e de forma ainda mais efetiva.

Na segunda-feira, os EUA anunciaram um novo fornecimento de armas para as forças ucraniana e um pacote de 550 milhões de dólares que “incluirá mais munição para os sistemas de mísseis avançados de alta mobilidade, também conhecidos como HIMARS, bem como munição” para artilharia. Washington acusou, no mesmo dia, de “irresponsabilidade” a Rússia por estar a usar a central nuclear de Zaporizhia como “escudo nuclear”, estando esta a servir de base militar.

Vladimir Putin, por seu lado, afirmou que não haverá vencedores numa guerra nuclear e que nem sequer devia “ser desencadeada”.

Já esta terça-feira, ao 160.ºdia do conflito, o procurador-geral adjunto ucraniano, Ihor Mustetsa, revelou que foram abertos 668 processos de investigação de crimes contra crianças. Em causa estão homicídios, agressões sexuais e ferimentos de jovens durante a invasão russa. Além disso, estão ainda a ser investigados 777 situações de ataques das tropas russas que colocaram crianças em risco e que levaram à deslocação das mesmas.
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