Rússia exige provas de que os Skripal não são reféns

por RTP
Um mês depois. Um polícia com uma máscara de gás perto da casa onde Sergei e Yulia Skripal foram envenenados com um agente de nervos dia 4 de março de 2018. Reuters

O recado veio pela porta-voz do ministério russo dos Negócios Estrangeiros. Maria Zakharova disse esta quinta-feira que o Reino Unido tem de provar que o ex-espião Sergei Skripal e a sua filha, Yulia, não estão a ser mantidos como reféns.

Zakharova afirmou esta tarde que os Skripal estão isolados pela autoridades britânicas e que ninguém os vê há um mês.

"Os últimos acontecimentos reforçam os nossos receios de que esta é uma questão de isolamento de uma cidadã russa. Temos todas as razões para crer que pode tratar-se de um caso de retenção à força de cidadãos russos, que eventualmente são retidos à força para uma encenação", declarou a porta-voz da diplomacia russa Maria Zakharova, em conferência de imprensa.

A porta-voz colocou assim em dúvida a autenticidade de um testemunho, esta semana, de Yulia Skripal, antes dela ter alta do hospital onde foi internada com o pai após ambos terem sido envenenados com o agente de nervos Novichock, no início de março.

Yulia disse que estava cada vez melhor e acrescentou que ninguém falava em seu nome.

O desafio russo surge pouco depois da Organização para a Proibição de Armas Químicas, OPAQ, ter publicado as conclusões do relatório elaborado pelos seus inspetores, que nos finais de março efetuaram as suas próprias análises aos vestígios do agente que envenenou os Skripal a 4 de março em Salisbury, sul de Inglaterra.

A OPAQ subscreveu as conclusões britânicas quanto ao caso, apesar de não identificar publicamente o nome do agente utilizado.
Moscovo quer ver relatório
O Reino Unido diz que se tratou de Novichok, um agente de nervos extremamente sofisticado, produzido pela Rússia.

Em reação, o ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, Boris Johnson, veio dizer que não existem quaisquer dúvidas de que a Rússia está na origem do envenenamento dos Skripal, voltando a insistir que a Rússia se explique.

Moscovo nega desde o início qualquer envolvimento e recusou sempre dar resposta às exigências britânicas. Esta quinta-feira disse que não iria acreditar em nenhuma conclusão se não lhe fosse facultado o acesso ao relatório da OPAQ.

Insinuou ainda que todo o episódio, incluindo as conclusões da OPAQ, pode não ser mais do que uma operação de Londres para desacreditar a Rússia.

"A Rússia não acredita nas conclusões [do caso Skripal] na base da palavra, até que os seus especialistas tenham acesso às amostras das análises mencionadas no relatório da OPAQ", disse a porta-voz.

Moscovo quer, igualmente, ter acesso a "todas as informações na posse de Londres a propósito deste incidente", acrescentou Zakharova.

"Não se trata de uma questão de confiança, mas sim de uma questão de trabalho a partir de material concreto", sublinhou a responsável do MNE russo, acrescentando que "a Rússia está pronta e aberta a todos os tipos de trabalho em conjunto".

A semana passada, o embaixador russo junto da organização tentou criar uma investigação conjunta ao sucedido mas a proposta foi recusada.

Após as conclusão da OPAQ, Londres pediu uma reunião de urgência ao Conselho de Segurança da ONU, sobre o caso Skripal.
Alemanha ao lado do Reino Unido
O Governo alemão afirmou igualmente que Moscovo tem de responder às questões sobre envenenamento.

Um porta-voz do Governo alemão aplaudiu a decisão britânica de pedir a investigação por parte da OPAQ, assim como o agendamento de uma reunião da organização sobre o caso, marcada para segunda-feira, 18 de abril.

"A Grã-Bretanha deu-nos uma explicação detalhada que, baseada na análise da substância usada, a Rússia é muito provavelmente responsável e não há outra explicação plausível", afirmou o porta-voz alemão.

"Cabe agora à Rússia desempenhar finalmente um papel construtivo e responder abertamente às questões", acrescentou.

Apesar de o agente de nervos ter sido identificado como Novichok, não foram até agora expostas a público provas de que este teve origem na Rússia, exceto pelo facto desta substância, mais potente do que o gás sarin, ter sido desenvolvida naquele país e estar incluída nos seus arsenais.

Um laboratório militar britânico identificou-a como sendo Novichock de um tipo extremamente puro, de vertente militar, sem conseguir atribuir a sua proveniência.

C/Lusa
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