Rússia e Ucrânia. Tortura de prisioneiros de guerra tem sido prática em nove meses de conflito

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
Choques eléctricos, nudez forçada e ataques com cães são apenas alguns dos exemplos citados pela equipa de monitorização da ONU Valentyn Ogirenko - Reuters

Russos e ucranianos têm levado a cabo tortura e tratamento degradante de prisioneiros de guerra durante os nove meses de conflito desencadeado pela invasão russa da Ucrânia. A conclusão foi apresentada esta terça-feira pela Missão de Monitorização de Direitos Humanos da ONU após entrevistas a centenas de prisioneiros envolvidos no conflito.

A Convenção de Genebra tem sido letra morta desde os primeiros meses da guerra da Ucrânia. As denúncias de tratamento degradante contra populações civis ucranianas têm sido uma constante, comportamentos que terão feito parte da estratégia levada por Moscovo para a Ucrânia.

As Nações Unidas vêm agora confirmar que também os prisioneiros de guerra vêm sofrendo tratamento degradante, violência e humilhações durante o cativeiro, tanto de um lado como do outro.

De acordo com a organização, tanto Rússia como Ucrânia torturaram prisioneiros.Choques eléctricos, nudez forçada e ataques com cães são apenas alguns dos exemplos citados pela equipa de monitorização da ONU, depois de ter entrevistado centenas de prisioneiros de um lado e do outro. 

“A proibição da tortura e dos maus-tratos é absoluta, mesmo - de facto, especialmente - em tempos de conflito armado”, deixou a chefe da Missão de Monitorização dos Direitos Humanos na Ucrânia, Matilda Bogner, numa videoconferência a partir de Kiev.

Moscovo tem negado a prática de tortura contra prisioneiros de guerra. Já Kiev garante que vai investigar todas as alegações relativas ao tratamento de prisioneiros russos.

Matilda Bogner lembrou os dois países que são signatários da (terceira) Convenção de Genebra, que estabelece os moldes de tratamento dos prisioneiros de guerra.
Kiev abre portas mas Moscovo nega acesso

Ao longo dos últimos meses, a missão da ONU entrevistou 159 prisioneiros de guerra detidos pelo lado russo (139 homens e 20 mulheres) e 175 prisioneiros de guerra detidos pela Ucrânia (todos homens).

De acordo com as Nações Unidas, as entrevistas a estes últimos foram realizadas apenas depois da sua libertação, já que a Rússia vedou o acesso às instalações onde os prisioneiros ucranianos se encontram detidos. O mesmo não sucedeu em relação aos prisioneiros russos. Kiev concedeu à equipa de monitorização o acesso às suas prisões.

Em relação aos prisioneiros de guerra capturados pelas forças russas, “a grande maioria das pessoas que entrevistámos disse-nos que tinham sido torturados e maltratadas” diariamente, afirmou Matilda Bogner. Depois de capturados, alguns dos prisioneiros foram espancados, sendo transportados para o local de detenção “muitas vezes em camiões ou autocarros sobrelotados”, sem acesso a água ou sanitários durante mais de um dia.

Nesse processo, “as suas mãos estavam atadas e os olhos estavam tão apertados que deixaram feridas nos pulsos e nos rostos”, disse Bogner, acrescentando que, de acordo com os testemunhos, à chegada aos locais de detenção os prisioneiros de guerra são submetidos a “procedimentos de admissão” durante os quais são sujeitos a espancamentos prolongados, ameaças, são atacados por cães ou despidos.
Ucranianos executaram russos sumariamente

A violência e o tratamento degradante de prisioneiros de guerra não são, contudo, um exclusivo das forças russas, de acordo com as Nações Unidas.

A equipa de monitorização diz ter recolhido “alegações credíveis” de execuções sumárias de prisioneiros russos capturados pelas forças ucranianas, bem como casos de tortura e maus-tratos.

“Documentámos casos de tortura e maus-tratos, principalmente quando as pessoas foram capturadas, ou enquanto foram submetidas a interrogatórios iniciais ou transferidas para campos em trânsito e locais de internamento”, afirmou Bogner.
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