Os Estados Unidos obtiveram novas informações que sugerem que Telavive está a preparar um ataque contra instalações nucleares do Irão. Esta hipótese de um ataque surge numa altura em que a Administração Trump procura chegar a acordo diplomático com Teerão. As negociações têm ocorrido ao longo das últimas semanas sob mediação da diplomacia omani, com o próximo encontro marcado para 23 de maio, em Roma.
Segundo os responsáveis norte-americanos ouvidos pela CNN Internacional, tal investida contra o regime iraniano constituiria não só uma clara rutura com a estratégia seguida por Donald Trump, mas também um possível rastilho para um conflito mais alargado no Médio Oriente.
A televisão norte-americana sublinha que ainda não é evidente que os líderes israelitas tenham tomado uma decisão definitiva quanto a este ataque e que, dentro da própria Administração norte-americana, há desacordo quanto à possibilidade desta investida sair do papel.
Vários responsáveis acreditam que Telavive irá fazer depender este ataque do resultado das negociações em curso entre Washington e Teerão sobre o programa nuclear iraniano.
No entanto,
“a probabilidade de um ataque israelita numa instalação nuclear iraniana aumentou significativamente nos últimos meses (…) E a perspetiva de um acordo entre EUA e Irão que não remova todo o urânio do Irão só torna mais provável a hipótese de um ataque”, adianta um dos responsáveis ouvidos pela CNN.
A preocupação com um ataque é crescente não só pela troca de mensagens, públicas e privadas, entre altos funcionários israelitas, mas também de comunicações israelitas e movimentos militares, nomeadamente o movimento de munições aéreas e a conclusão de um exercício militar.
Não obstante estes sinais, os movimentos israelitas podem constituir apenas
mais um elemento de pressão sobre o regime iraniano nas negociações diplomáticas em curso, em linha com o que tem sido feito pelo próprio presidente norte-americano.
Desde que tomou posse, em janeiro, Donald Trump já ameaçou bombardear instalações nucleares de Teerão em várias ocasiões, ao mesmo tempo que decorrem as negociações entre peritos norte-americanos e iranianas, primeiro em Muscat e mais recentemente em Roma.
Em abril, também o jornal
New York Times dava conta de um plano israelita para bombardear instalações nucleares iranianas em maio, mas que o plano foi rejeitado pela Administração norte-americana em favor da negociação de um novo acordo para limitar o programa nuclear de Teerão.
Próxima ronda negocial a 23 de maio
A ameaça iraniana paira no mesmo dia em que o chefe da diplomacia omani, que está a mediar as negociações entre Estados Unidos e Irão, anunciou que
a quinta ronda de negociações sobre o programa nuclear iraniano irá decorrer esta sexta-feira, 23 de maio, em Roma.
Desde 12 de abril, Washington e Teerão já se reuniram por quatro vezes com o objetivo de chegar a um novo sobre o programa nuclear iraniano. A diplomacia norte-americana procura evitar que o Irão se transforme numa potência com armas nucleares em troca do levantamento de sanções que estrangulam a economia daquele país há vários anos.
A liderança iraniana, que continua a assegurar as intenções pacíficas do seu programa nuclear e nega quaisquer ambições militares, diz-se disponível para as negociações com os Estados Unidos, mas que não irá tolerar quaisquer ameaças ou desistir dos seus direitos.
“Estamos a negociar e vamos negociar. Não estamos à procura de guerras, mas não tememos qualquer ameaça. Eles que não pensem que, se nos ameaçarem, nós desistiremos dos nossos direitos”, afirmou no último fim de semana o presidente iraniano num discurso perante a Marinha iraniana.
Masoud Pezeshkian destacou a importância de manter “a honra militar, científica e nuclear em todos os domínios”.
Na terça-feira, o líder supremo do Irão, Ali Khamenei, vincou o seu ceticismo quanto às negociações em curso. “Não acreditamos que [as negociações atuais] obtenham qualquer resultado”, afirmou o
ayatollah, acrescentando que
negar o direito de Teerão a enriquecer urânio é “um grande erro”.
Este é, de resto, um dos principais pontos de discórdia na discussão entre peritos dos dois países:
o Irão insiste em manter a autorização para o enriquecimento de urânio, nos termos do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), do qual Teerão é signatário, e que prevê o direito à energia nuclear para fins civis.
Por outro lado, Washington exige que Teerão abandone por completo esse esforço e tem vincado a sua oposição a qualquer tipo de enriquecimento de urânio por parte do regime iraniano.
O esforço diplomático ocorre exatamente dez anos após a assinatura de um acordo sobre o programa nuclear iraniano, também conhecido por
Joint Comprehensive Plan of Action - JCPOA, que previa limites ao enriquecimento de urânio e vigilância internacional do programa nuclear de Teerão a cargo da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA).
O entendimento foi assinado em julho de 2015, ainda durante a Administração Obama, previa, em troca desta abertura e controlo, um levantamento das sanções internacionais aplicadas ao regime.
Na altura, apesar de todos os indicadores apontarem para um cumprimento do acordo por parte de Teerão, o presidente norte-americano Donald Trump optou por rasgar o tratado ainda durante o primeiro mandato, em 2018, considerando que este era "o pior acordo de sempre".