Rússia de Putin em busca da acalmia após rebelião de Prigozhin

por Carlos Santos Neves - RTP
Efetivos da polícia russa patrulham as imediações da Praça Vermelha, em Moscovo, cujo acesso está vedado Maxim Shipenkov - EPA

O núcleo duro do presidente russo redobra esta segunda-feira os esforços para repor a calma na sequência da rebelião do Grupo Wagner. Em Moscovo, as ausências ao trabalho têm o beneplácito das autoridades e Vladimir Putin resguarda-se. É incerto o paradeiro de Yevgeny Prigozhin, o patrão dos mercenários.

Prigozhin terá abandonado a Rússia ao final do dia de sábado e procurado exílio político na Bielorrússia, cujo regime, liderado por Alexander Lukachenko, apareceu como mediador entre o número um do Grupo Wagner e o Kremlin. Todavia, não há confirmação do paradeiro e circulam outras hipóteses, entre as quais a de uma fuga para África.

Quanto ao destino dos mercenários que no sábado avançaram por território russo, o Kremlin estará aberto a poupá-los de consequências políticas ou judiciais. Trata-se de aproximadamente 25 mil operacionais que podem agora assinar contratos com o Ministério da Defesa. Outro cenário passada pela partida da Rússia para combaterem por outras forças em teatros de conflito alheios.

O correspondente da RTP em Moscovo, Evgueni Mouravitch, sintetizou esta manhã o momento de tensão nos corredores do Kremlin.
Na noite de sábado, ao cabo de menos de 24 horas de progressão em solo da Rússia, a partir da Ucrânia, os homens de Prigozhin estacaram a 200 quilómetros de Moscovo. O patrão do Grupo Wagner clamou então querer evitar um “banho de sangue” na capital e as suas forças recuaram, abandonando também a cidade de Rostov, no sul do país.As estruturas do poder de Putin procuram agora fazer passar uma imagem de solidez e normalidade. O "regime de operações antiterroristas", implementado no sábado na região de Moscovo, foi já levantado, anunciou o presidente da câmara da capital russa.


A agência RIA noticiou já esta segunda-feira que o ministro russo da Defesa, Sergei Shoigu, um dos alvos da ira de Prigozhin, visitou tropas empenhadas na ocupação da Ucrânia. Mas ainda nada se ouviu em público, por parte do presidente russo, depois dos acontecimentos vertiginosos do fim de semana.

Em entrevista à televisão pública russa, que terá sido gravada antes da rebelião, Vladimir Putin surge a manifestar confiança quanto ao andamento da guerra.
O homem forte do Kremlin afirma mesmo acreditar no cumprimento de todos os objetivos, bélicos e económicos.
“É muito cedo”
Por sua vez, o secretário de Estado norte-americano veio antever meses de instabilidade na Federação Russa.

A rebelião, sustentou Antony Blinken em declarações à estação norte-americana CBS, “desafiou diretamente a autoridade de Putin. Portanto, isto levanta verdadeiras questões e revela fissuras reais”.

"Vimos mais fissuras na fachada russa. É muito cedo para dizer exatamente o que vai acontecer, mas certamente haverá todo o tipo de novas questões que Putin terá de abordar nas próximas semanas e meses", acentuou o chefe da diplomacia dos Estados Unidos, acrescentando que é "muito cedo" para perceber o impacto deste episódio na Rússia ou na guerra na Ucrânia.

A operação de rescaldo do Kremlin decorre também na frente diplomática. O vice-ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Andrei Rudenko, manteve conversações em Pequim, no domingo, sobre questões “internacionais”.

Moscovo alega que os interlocutores chineses exprimiram “apoio aos esforços da liderança da Federação Russa para estabilizar a situação no país face aos acontecimentos de 24 de junho” e confirmaram “o seu interesse em fortalecer a coesão e a prosperidade da Rússia”.

O facto é que Pequim foi sistematicamente contida, como é sua tradição, quer no decurso da rebelião do Grupo Wagner, quer nas horas que se seguiram ao recuo dos mercenários, colocando a tónica na importância da estabilidade da Rússia perante tais “assuntos internos”.Segundo a televisão estatal russa, Vladimir Putin vai presidir esta semana a uma reunião do Conselho de Segurança do país.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, discutiu os acontecimentos na Rússia em telefonemas separados com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau. Ambos reiteraram o compromisso com o apoio à Ucrânia.


“O mundo deve colocar pressão sobre a Rússia até que a ordem internacional seja restaurada”, escreveu Zelensky no Twitter.

c/ agências
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