Rússia adverte contra promoção de "hipóteses" após queda de avião no Cazaquistão

por Joana Raposo Santos - RTP
No Azerbaijão, os meios de comunicação social pró-governamentais citaram funcionários segundo os quais um míssil russo foi o responsável pelo acidente. Foto: Grigory Sysoyev - Sputnik via Reuters

O Governo russo advertiu contra a promoção de "hipóteses" acerca da causa da queda de um avião no Cazaquistão, na qual morreram 38 pessoas. O alerta surge numa altura em que várias entidades internacionais suspeitam que um míssil russo tenha sido responsável pelo acidente.

"Seria errado avançar com quaisquer hipóteses antes das conclusões do inquérito. Nós, obviamente, não o faremos e ninguém o deve fazer. Temos de esperar até que o inquérito esteja concluído", afirmou quinta-feira o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.

As declarações surgem depois de alguns peritos em aviação terem sugerido que o avião da Azerbaijan Airlines foi atingido por sistemas de defesa aérea sobre a república russa da Chechénia.

No Azerbaijão, os meios de comunicação social pró-governamentais citaram funcionários segundo os quais um míssil russo foi o responsável pelo acidente.

O Embraer 190 da Azerbaijan Airlines, com 67 pessoas a bordo, fazia um voo de Baku, capital do Azerbaijão, para Grozny, capital da Chechénia, na quarta-feira.

O avião despenhou-se e incendiou-se em circunstâncias ainda não esclarecidas perto de Aktaou, um porto do Mar Cáspio no oeste do Cazaquistão, longe do seu destino, matando 38 pessoas, segundo as autoridades desse país da Ásia Central.

"Esta é uma grande tragédia que se tornou numa tremenda tristeza para o povo azerbaijanês", disse o presidente Ilham Aliyev. O país decretou um dia de luto nacional pelas vítimas.
Suspeitas multiplicam-se
O procurador-geral do Cazaquistão declarou entretanto que o inquérito ainda não alcançou qualquer conclusão, mas o seu gabinete disse à BBC que todas as opções estão a ser investigadas.

À agência France Press, o deputado azerbaijanês Rassim Moussabekov indicou que “está a decorrer uma investigação para determinar se se tratou de um ataque da defesa aérea russa ou de outra causa”.

O deputado avançou que "fotos e vídeos mostram a fuselagem do avião com buracos que normalmente são causados por mísseis de defesa aérea".Um funcionário norte-americano também sustentou a hipótese de que um míssil de defesa aérea russo era a explicação mais provável para o acidente.

Depois da queda do avião, vários canais de televisão sob o controlo do Governo do Azerbaijão começaram a transmitir entrevistas com especialistas que falaram abertamente sobre a possibilidade de a Rússia ter sido responsável.

A estação AnewZ afirmou que uma investigação preliminar concluiu que o avião foi atingido por estilhaços de um míssil terra-ar do sistema de defesa russo Pantsir-S.

Outro site pró-governamental, o Caliber, citou fontes governamentais dizendo que ninguém estava a afirmar que o avião tinha sido atacado intencionalmente, mas que Baku esperava um pedido de desculpas da Rússia.
Autoridade aeronáutica russa diz que aeroporto de Grosny tinha plano contra drones ucranianos
Já esta sexta-feira, a autoridade aeronáutica russa reconheceu que o aeroporto de Grozny, para onde voava o avião da Azerbaijan Airlines que se despenhou, implementou um plano de contingência contra ataques de drones ucranianos na região russa da Chechénia.

"A situação na zona do aeroporto de Grozny era extremamente complexa. Nessa altura, os drones ucranianos realizavam ataques terroristas contra as cidades de Grozny e Vladikavkaz", disse o responsável da Rosaviatsia, Dmitri Yadrov, citado pela agência russa de notícias TASS.

Por isso, observou, o aeroporto de Grozny ordenou "a saída imediata de todas as aeronaves daquela zona".

Segundo Yadrov, "o comandante da aeronave tentou, sem sucesso, aterrar duas vezes em Grozny", mas os controladores de tráfego aéreo "propuseram outros aeroportos".

"Ele tomou a decisão de continuar para o aeroporto de Aktau", disse, acrescentando que "o lado russo informou imediatamente os seus colegas cazaques e azeris da sua total disponibilidade para cooperar com a investigação da tragédia".

"É necessário investigar minuciosa e totalmente todas as circunstâncias do sucedido", concluiu.

c/ agências
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