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Roménia traz quase oito milhões de cidadãos muito pobres para a UE

por Agência LUSA

Na capital da Roménia, a miséria não é ostensiva, mas a pobreza existe e nota-se na qualidade das roupas, nos produtos à venda nas lojas, em algumas crianças que perseguem os estrangeiros para pedir moedas.

No país que se prepara para ser o segundo mais pobre da União Europeia, logo a seguir ao seu parceiro de adesão Bulgária, a pobreza é mais visível nas áreas rurais, onde ainda vivem quase metade dos 21,6 milhões de habitantes do país (46,7 por cento, segundo dados de 2002).

Cerca de 73 por cento dos habitantes das áreas rurais estão na pobreza extrema, dizem os estudos internacionais, enquanto em Bucareste somente dois por cento da população sobrevive nestas condições.

No total, quase oito milhões de romenos tentam sobreviver todos os dias na condição da pobreza extrema, ou seja, um dólar por dia, de acordo com a ONU.

Com um emparcelamento da terra em que ainda se privilegia o minifúndio, a grande maioria dos agricultores romenos está condenado a lutar para sobreviver ou a vender as suas terras às empresas estrangeiras que começam a investir na Roménia, como a portuguesa Mota- Engil que aposta no biodiesel e anda a comprar terras no sudoeste do país.

As carroças e o trabalho braçal ainda são o que mais se vê nos campos romenos, com vendas de produtos agrícolas à beira da estrada.

Nas cidades, há mães com crianças de colo a pedir para comprar leite para os filhos, ou miúdos que se oferecem como guias turísticos e debitam uma lenga-lenga ou cantam em troca de umas moedas.

à medida que caminhamos para leste e nos aproximamos da costa do Mar Negro, na direcção contrária ao centro da Europa, descemos na escala da riqueza.

Com pouco mais de 3.000 euros de rendimento per capita anual (método Atlas), a Roménia tem apenas 56,7 por cento do rendimento do mais pobre Estado membro actual da UE a 25: a Letónia (5.392 euros).

Entre imigrantes legais e ilegais, dois milhões de romenos vivem actualmente no estrangeiro, a maior parte deles por razões económicas.

A Roménia "está a desenvolver-se economicamente e somos cada vez menos um país de imigração e uma fonte de imigração ilegal", garantiu Leonard Orban, secretário de Estado do Ministério da Integração Europeia, chefe dos negociadores da adesão à UE, numa conversa com jornalistas portugueses em Bucareste.

Os fundos que a UE irá canalizar para o desenvolvimento da Roménia parecem antever um impacto positivo no combate à pobreza, que deverá ser menos importante em relação aos ciganos, a minoria da população romena mais vulnerável.

O Governo romeno garante que tem dedicado grandes esforços e recursos para melhor integrar a população cigana na sociedade, mas com pouco sucesso.

Adrian Ciocanea, também secretário de Estado do Ministério da Integração Europeia, não escondeu, no mesmo encontro, a frustração pelo facto da experiência de colocar um membro do povo cigano a gerir o dossier dos ciganos não ter sido "totalmente satisfatória".

Alta taxa de desemprego, pobreza, iliteracia e mortalidade infantil são comuns entre os quase dois milhões de ciganos do país (os números oficiais apenas falam de 500 mil, mas os próprios membros do Governo preferem lidar com o número oficioso).

No relatório romeno dos Objectivos do Milénio lê-se que, "em 2002, a população cigana estava cinco vezes mais exposta à pobreza extrema e mais de 50 por cento dos indivíduos de etnia cigana pertenciam a esta categoria".

O relatório também explica que "nos últimos anos, o risco de pobreza (entre os ciganos) diminuiu para os que não possuem qualquer educação escolar e aumentou entre os que terminam a escola profissional, para os quais há cada vez menos empregos disponíveis".

A discriminação social é uma realidade na Roménia e o desprezo com que muitos romenos tratam os ciganos é uma constante visível.

Para a Roménia, a integração na UE também lhe permite transferir o complexo problema dos ciganos da sua ordem interna para a ordem mais alargada da Europa dos 27.

"Não é fácil integrar a comunidade cigana, mas agora precisamos de uma estratégia a nível europeu, porque não podemos impedi-los de viajar e eles estarão em todo o lado. A comunidade cigana da Roménia está agora na UE", referiu Ciocanea.

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