Roma fora da iniciativa Faixa e Rota. Meloni ainda quer estreitar laços económicos com a China
A primeira-ministra italiana está na China desde sábado com o objetivo de impulsionar a cooperação com a segunda maior economia do mundo e estreitar os laços comerciais entre os dois países. Apesar disso, Giorgia Meloni negou que Roma vá recuar na decisão de abandonar a Iniciativa Faixa e Rota, o principal programa da política externa chinesa, reiterando que tal não afeta os laços com Pequim.
"Como disse muitas vezes, éramos a única nação entre as grandes nações da Europa Ocidental a fazer parte da Rota da Seda. Mas não éramos a nação que tinha o melhor comércio com a China. Longe disso", explicou Meloni numa conferência de imprensa em Pequim, na segunda-feira.
Segundo a chefe do Executivo italiano, a participação na iniciativa de Pequim "evidentemente não funcionou", tendo em conta o défice comercial de Itália com a China e o facto de outros países com laços comerciais mais intensos com o país asiático não fazerem parte da iniciativa.
Numa reunião com o presidente chinês, a governante italiana frisou que Itália desempenha um papel importante nas relações entre a China e a União Europeia e que, nesse sentido, espera alcançar relações comerciais “tão equilibradas quanto possível”.
Já esta terça-feira, a primeira-ministra italiana negou que Roma volte atrás na decisão de abandonar a Iniciativa Faixa e Rota, garantindo que tal não afeta os laços com Pequim."A minha decisão foi uma escolha coerente, mas sempre disse que esta não era a única forma de ter relações ou de fomentar as relações com a China", afirmou.
No domingo, juntamente com o homólogo chinês, Li Qiang, Meloni assinou um plano de três anos para dar um novo impulso às relações bilaterais. E esta terça-feira, Meloni apresentou o pacto como uma "alternativa" à Iniciativa Faixa e Rota para "reconstruir laços mais estreitos" e "abrir uma nova fase".
"Acredito que as relações devem também crescer no respeito e na lealdade dos nossos laços económicos e comerciais", disse a política italiana, que apontou especificamente acordos para a proteção das denominações de origem ou da propriedade intelectual.
A Iniciativa Faixa e Rota inclui a construção de portos, linhas ferroviárias ou autoestradas, criando novas rotas comerciais entre o leste da Ásia e Europa, Médio Oriente e África. O maior relacionamento entre Pequim e os países envolvidos abarca um incremento da cooperação no âmbito do ciberespaço, meios académicos, imprensa, regras de comércio ou acordos financeiros, visando elevar o papel da moeda chinesa, o yuan, nas trocas comerciais.
Lançada em 2013, pelo presidente chinês Xi Jinping, a iniciativa simbolizou uma mudança na política externa da China, de um perfil discreto para uma postura mais assertiva, visando moldar o cenário internacional.
Reforçar cooperação Itália-China
Meloni assinou vários pactos com a China em matérias como a segurança alimentar, questões ambientais, educação e veículos elétricos (este último um "acordo-quadro" cuja implementação dependerá de negociações técnicas).
Segundo a chefe do governo, a Itália pretende "reforçar a cooperação com a China, mas fazê-lo com o objetivo de reequilibrar a balança comercial", face a um défice de longa data, e também no âmbito do investimento: "Atualmente, os investimentos italianos são três vezes superiores aos investimentos chineses em Itália"."Queremos trabalhar para eliminar os obstáculos ao acesso dos nossos produtos ao mercado chinês e garantir a igualdade de tratamento das nossas empresas [na China]", acrescentou.
Na segunda-feira, a líder italiana destacou o papel da China para garantir a paz e a segurança internacional durante um encontro com Xi Jinping, em Pequim.
"Existe crescente insegurança a nível internacional e penso que a China é inevitavelmente um interlocutor muito importante para lidar com todas estas dinâmicas, partindo dos nossos respetivos pontos de vista, a fim de refletirmos em conjunto sobre a forma de garantir estabilidade, paz e o comércio livre", afirmou Meloni, citada pela agência noticiosa ANSA.
A Itália e a UE no seu conjunto têm um défice comercial significativo com a China. Em 2023, o défice do comércio de mercadorias da UE com a China situou-se em 291 mil milhões de euros, o que representou uma queda de 106 mil milhões de euros, em relação a 2022 (menos 27 por cento).
Depois de se encontrar com o presidente chinês na segunda-feira, Meloni viajou para Xangai esta terça-feira, onde pretende atrair mais investimentos chineses - por exemplo, no setor automóvel - para impulsionar o crescimento económico de Itália.