O ex-ministro do Interior timorense Rogério Lobato, demitido durante a actual crise no país, tentou fugir de Timor-Leste, mas foi impedido pelo Governo australiano que não lhe concedeu visto de entrada na Austrália, noticiou o jornal australiano "Sydney Morning Herald".
De acordo com o jornal, que cita fontes no Governo timorense, Lobato tentou fugir de Timor-Leste na segunda- feira, num voo da Air North para Darwin, mas foi impedido de embarcar porque a Austrália não lhe concedeu autorização de entrada.
Lobato é procurado pela justiça timorense acusado de entregar 17 espingardas-metralhadoras a um grupo de antigos guerrilheiros ligados à Fretilin, a principal força política do país, do qual o ex- ministro é vice-presidente.
A missão da ONU em Timor-Leste (UNOTIL) confirmou hoje, em comunicado divulgado em Díli, a emissão de um mandado de captura de Lobato, acusado de "distribuição de armas a civis".
No comunicado, a UNOTIL precisa que o mandado foi emitido pelo gabinete do Procurador-Geral da República (PGR), Longuinhos Monteiro.
De acordo com o mandado do PGR, citado pela UNOTIL, Rogério Lobato foi acusado de distribuir armas a Vicente da Conceição "Railos" com o objectivo de "perturbar a ordem pública e o primado democrático da lei".
Sukehiro Hasegawa, representante especial do secretário-geral da ONU em Timor-Leste, destacou no comunicado que a acção do gabinete do PGR "é um sinal claro de que os timorenses podem desempenhar de forma efectiva a sua responsabilidade constitucional".
"A independência do sistema judicial é fundamental para o primado da lei em Timor-Leste", vincou a UNOTIL.
O comunicado não identifica os procuradores que assinaram o mandado, referindo apenas que se trata de juristas contratados pelo gabinete do PGR.
Rogério Lobato continua incontactável, apesar das múltiplas tentativas da Lusa em obter um comentário à decisão do Ministério Público timorense.
Quem reagiu à decisão foi o primeiro-ministro, Mari Alkatiri, que considerou tratar-se de "uma perseguição", mas que disse já ter falado hoje com Rogério Lobato, o qual está disposto a depor no processo de averiguações aberto pelo Ministério Público.
O processo de averiguações foi aberto na sequência da entrevista que Longuinhos Monteiro e o Procurador Regional de Díli, Luís Mota Carmo, tiveram segunda-feira em Leutala, 50 quilómetros a oeste de Díli, com Vicente da Conceição "Railos".
O comandante "Railos", veterano da luta de resistência contra a ocupação indonésia, alega ter recebido armas e fardas de uma das unidades de elite da Polícia Nacional, e a missão de eliminar adversários políticos de Mari Alkatiri.
As armas e a missão terão alegadamente sido dadas ao grupo em três ocasiões por Rogério Lobato mediante indicações nesse sentido de Mari Alkatiri.
O primeiro-ministro timorense tem repetidamente negado as alegações de "Railos", e hoje, em entrevista à Lusa e RTP, reafirmou a sua posição.
"Eu nunca dei ordens para matar ninguém, antes pelo contrário.
Nunca dei armas a ninguém. Tenho a consciência tranquila", afirmou Mari Alkatiri na entrevista.