O risco de guerra por Taiwan, entre China e Estados Unidos, é o mais alto desde a crise dos mísseis, em 1996, alertou hoje um especialista chinês em relações internacionais, recomendando uma "avaliação cuidadosa" da situação.
Shi Yinhong, professor de relações internacionais da Universidade Renmin, em Pequim, apontou para a escalada de tensão no Estreito de Taiwan, face ao crescente apoio prestado pelos EUA à ilha.
China e Taiwan vivem como dois territórios autónomos desde 1949, altura em que o antigo governo nacionalista chinês se refugiou na ilha, após a derrota na guerra civil frente aos comunistas.
Pequim considera Taiwan parte do seu território, e não uma entidade política soberana, e ameaça usar a força caso a ilha declare independência.
A reunificação com o território, objetivo que Pequim pretende alcançar no espaço de uma década, pode significar o uso da força ou a ameaça do uso da força, advertiu Shi, num fórum de relações internacionais, realizado na capital chinesa.
O especialista alertou para uma guerra e considerou que uma avaliação "séria e cuidadosa" da situação é mais necessária agora do que em qualquer outro período, nos últimos 25 anos, numa referência à crise dos mísseis no Estreito de Taiwan.
Em 1996, quando Taiwan preparava a sua primeira eleição presidencial direta, Pequim realizou uma série de exercícios militares e disparou mísseis para as águas ao redor da ilha, levando os EUA a destacar navios militares para águas internacionais próximas à ilha.
"É improvável que o Governo chinês dê aos Estados Unidos e Taiwan a impressão de que procura evitar completamente o conflito militar, pois Pequim acredita que isso levará a um aprofundamento do apoio dos EUA e tornará Taiwan mais determinado na procura pela independência", disse Shi.
Todas as partes devem avaliar a situação e estar preparadas, caso haja uma guerra por Taiwan, defendeu.
Também ex-primeiro-ministro de Singapura, Goh Chok Tong, alertou para a possibilidade de Taiwan se tornar um `casus belli`, expressão que remete para um evento que instiga uma guerra.
"Não acho que o continente [chinês] queira invadir Taiwan e reunificar o território pela força. No entanto, não há perspetiva de reunificação pacífica e [Pequim] pode acreditar que não tem outra opção", descreveu.
Goh disse que China e EUA deviam instalar um "telefone vermelho" semelhante às linhas de comunicação usadas pelos líderes dos EUA e da União Soviética, em 1962, quando as duas potências estiveram perto de uma guerra nuclear, no que ficou conhecida como a crise dos mísseis cubanos.
Nos últimos dois anos, a China aumentou o assédio militar, através de exercícios nas águas em redor da ilha e do envio de aviões de guerra em direção ao território.
Os Estados Unidos passaram também a enviar representantes oficiais a Taiwan, num gesto que quebra com o protocolo diplomático, e foi adotado também por alguns países europeus.
Depois da Lituânia, no início desta semana a Eslovénia tornou-se a última pequena nação europeia a fortalecer os laços com Taiwan, com planos para estabelecer escritórios comerciais no território um do outro.
"É difícil evitar a tendência da questão de Taiwan se tornar mais explícita e de longo prazo na Europa", disse Cui Hongjian, investigador do Instituto de Estudos Internacionais da China em Pequim.
Isto deve-se a mudanças políticas na Europa, mas também está relacionado com a competição geral entre a China e os EUA, que usam o seu sistema de alianças para conter Pequim, argumentou.