Em 14 de Outubro de 1943, os prisioneiros do campo nazi de Sobibor, na Polónia, revoltaram-se e mataram a maior parte da direcção do campo. Depois tentaram a fuga, através da cintura de minas que rodeava o campo. Sabiam que as possibilidades de êxito eram mínimas. Só algumas dezenas sobreviveram.
Os presos que tinham trabalho distribuído foram a coluna vertebral da insurreição. Tinham compreendido o que os esperava e decidiram lutar. Ainda pensaram em cavar um túnel para fugirem. Mas as operações de escavação demorariam muito tempo e tornariam praticamente inevitável algum acaso que as denunciasse aos guardas do campo.
Optaram então por organizar a revolta. O plano era matarem os mais importantes oficiais das SS no campo e, depois, na "Appelplatz" (a parada, a "praça do apelo"), incentivarem os outros presos a uma fuga em massa.
Não era um plano fácil de executar, mas tinha alguns factores a seu favor. Desde logo, os guardas do campo confiavam na passividade dos presos de "raças inferiores" e não esperavam uma revolta. Por outro lado, a ganância e a venalidade da guarda do campo tornava-a passível de ser atraída a uma cilada.
Fez-se então saber ao comandante do campo, Johann Niemann e ao seu braço direito, Sigfried Graetschus, que tinham sido encontrados objectos de muito valor na roupa de prisioneiros gaseados. Atraídos desse modo à alfaiataria em que prisioneiros seleccionados tratavam a roupa, foram mortos à machadada por Yehuda Lerner, um aprendiz de alfaiate, de 16 anos de idade. Em meia hora, foram mortos por esse processo mais oito oficiais das SS. Os cadáveres foram escondidos.
Os organizadores da revolta dirigiram-se depois à "Appelplatz". Um deles, Sasha Petchersky, subiu para uma mesa e falou em russo aos outros prisioneiros, informando-os sobre a iniciativa dos conjurados e apelando a que tentassem fugir. Concluiu dizendo: "Aqueles de vocês que sobreviverem devem testemunhar. Façam saber ao mundo o que se passou aqui".
Os guardas não entendiam russo e viam a cena a certa distância, sem saberem que os oficiais tinham sido mortos. Só se aperceberam da revolta quando os presos já corriam para as vedações de arame farpado, que precediam o campo minado à volta de Sobibor. A partir daí abriram fogo de metralhadora sobre os fugitivos.
Numa investigação publicada em Der Spiegel, cita-se o depoimento de Thomas Blatt, que tropeçou nos companheiros de fuga e por um momento ficou preso no arame farpado. Blatt receou que esse azar inicial lhe custasse a vida, mas aparentemente salvou-lha: os outros presos correram antes dele e fizeram explodir várias minas, abrindo um caminho por onde ele pôde fugir.
Dos 550 fugitivos, calcula-se que tenham conseguido escapar ao arame farpado, aos tiros da guarda e às minas cerca de 360. Desses, apenas 200 conseguiram esconder-se na floresta mais próxima. E nos dias seguintes muitos cairiam nas mãos dos perseguidores que as SS mandaram no seu encalço.
O chefe das SS, Heinrich Himmler, mandou matar todos os prisioneiros que tinham ficado no campo e fez desmantelar Sobibor.
Os fugitivos tiveram de caminhar durante a noite e esconder-se durante o dia nas florestas. Muitos foram denunciados pelos camponeses da região, que receavam represálias. Outros foram mortos pelos guerrilheiros nacionalistas e antisemitas polacos. Só 53 sobreviveram nos meses seguintes.