Reunião da NATO. Terá o Ocidente capacidade de continuar a fornecer armas à Ucrânia?
Os ministros da Defesa dos países membros da NATO discutiram esta quarta-feira, numa reunião em Bruxelas, formas de reforçar a indústria da defesa, de modo a que as promessas de entrega de armamento à Ucrânia sejam cumpridas e que os próprios países ocidentais possam abastecer os seus stocks. O tema surge numa altura em que Kiev está a gastar projéteis a uma velocidade maior do que o seu tempo de produção.
Ainda antes da invasão russa da Ucrânia, a 24 de fevereiro do ano passado, vários países da Aliança Atlântica tinham falhado em cumprir as metas de armazenamento de munições impostas pela NATO.
Desde que o Ocidente começou a ajudar a Ucrânia no campo de batalha através da entrega de munições, os stocks ficaram ainda mais afetados. Neste momento, as tropas ucranianas disparam até 10 mil projéteis por dia.
Segundo o Financial Times, em vários países essa falta de stock faz com que já não haja muito material para dar, com alguns armazéns praticamente vazios. A Dinamarca, por exemplo, forneceu à Ucrânia todos os seus veículos blindados CAESAR. Já a Estónia terá entregado todos os seus canhões M1 155 milímetros.
As fábricas europeias têm revelado dificuldades em produzir a quantidade suficiente para cobrir as necessidades semanais da Ucrânia e o tempo de espera para algumas munições mais do que duplicou desde o início da guerra.
“A Europa está completamente do lado dos ucranianos. Mas isso não é o suficiente. Ninguém questiona a vontade política de apoiar a Ucrânia, mas sim a capacidade real de entregar a quantidade necessária à rapidez necessária”, declarou ao FT Judy Dempsey, da organização sem fins lucrativos de análise de assuntos estrangeiros e segurança Carnegie Europe.
Contratos com fabricantes de armamento
Para vários peritos, a resposta está no aumento de contratos a longo prazo com fabricantes do setor da defesa, sendo que, em contrapartida, os países ocidentais deverão prometer a esses fabricantes continuar a adquirir material mesmo depois da guerra.
Esta quarta-feira, Jens Stoltenberg realçou que alguns países, como os Estados Unidos, França, Alemanha e Noruega, já assinaram contratos para o fabrico de munições que podem permitir-lhes reabastecer os seus próprios stocks, ao mesmo tempo que continuam a abastecer Kiev. Segundo o alemão Kiel Institute, no primeiro ano de guerra os governos ocidentais gastaram mais de 110 mil milhões de dólares em apoios a Kiev, dos quais 38 mil milhões foram em armamento.
Para além de munições, a Ucrânia está a contar também com a entrega de tanques ocidentais. O ministro alemão da Defesa, Boris Pistorius, avançou esta quarta-feira que os países membros da NATO prometeram enviar um total de 48 tanques Leopard 2, incluindo 31 Leopard 2A4 (mais antigos e cujo envio está a ser coordenado pela Polónia).
Além destes, Portugal comprometeu-se a enviar outros três e a Alemanha 14 tanques Leopard 2A6, mais avançados. A ministra portuguesa da Defesa, Helena Carreiras, adiantou em Bruxelas que os tanques fornecidos por Portugal devem chegar à Ucrânia no final de março.
"Trata-se não apenas de enviar equipamentos, mas de pensar em toda a estrutura logística necessária para que esses equipamentos efetivamente funcionem no terreno", declarou.
Despesas com defesa abaixo do acordado
Na reunião dos ministros da Defesa da NATO foi também discutido o peso dos gastos com defesa, que neste momento representam 2% do Produto Interno Bruto (PIB). Muitos consideram que este valor já não faz sentido numa altura em que decorre uma guerra na Europa.
"Acho que devemos deixar de considerar os 2% como um teto, passando a considerar esses 2% do PIB como um mínimo", disse Stoltenberg, apoiado por Pistorius, que considerou esta percentagem "insuficiente".
A decisão final sobre este assunto deverá ser tomada na cimeira da NATO Na Lituânia, em julho.
A meta atual dos 2% do PIB para a defesa foi decidida em 2014, na cimeira decorrida no País de Gales, após a anexação russa da Crimeia. No entanto, passado quase uma década, vários países da Aliança continuam sem alcançar essa percentagem.
Na Alemanha, estima-se que em 2022 os gastos neste setor tenham ficado abaixo dos 1,5% do PIB. Nos Estados Unidos, por outro lado, a estimativa aponta para 3,5%.
c/ agências
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